Capitulo 17

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        Confesso que todo esse alvoroço está me destruindo também. Minhas maiores preocupações são Cesar, Maiara, e agora a Isabella. Toda a admiração que eu tinha pelos meus pais se dissipou em segundos. As palavras da minha mãe dilacerou meu coração, assim como o da minha irmã. Já sabia que ela faria isso; expulsar Maiara de casa. Mas não que diria tantas coisas, inclusive, culpar ela de algo que ela não teve controle.

      – ...E se isso aconteceu, foi porque você mereceu. Agora eu vou ver o meu filho, que foi fruto de um amor verdadeiro.

    Isso me destruiu. Mamãe fez questão de esfregar na cara dela, que Isabella não foi fruto de amor verdadeiro. Queria mesmo voar nela, como fiz na discussão. Estou com medo da reação da Maiara daqui pra frente. Desde os 13 anos Maiara tem ansiedade, a primeira crise dela foi horrível.

    Eu me senti totalmente insuficiente por não conseguir ajudar ela. Ela mal se mexia, ou respirava. Foi com certeza, um dos piores dias na minha vida. Geralmente ela tem pesadelos quando algo muito marcante acontece; o que me deixa ainda mais preocupada.

    Tentei acordar mais cedo que ela, a moça que nos ajuda não estaria aqui hoje. Teria que me virar no café da manhã, e no almoço. Me levantei com cuidado pra não acordar ela, que estava coladinha comigo, e me levantei da cama. Depois de fazer todas as minhas higienes fui pra cozinha, me assustando em ver Marilia lá.

    – Marilia! Que susto! – Levei a mão ao coração.

    – Não viu que não estava na cama? – Neguei.

    – Não! Eu saí com cuidado pra não acordar a Maiara! – Bufei me assentando na cadeira, e apoiei a cabeça nas mãos.

    – Ela não dormiu né? – Neguei.

    – Não. Dormiu muito tarde. Ela disse que estava pensando. – Marilia sentou na minha frente – Eu tô preocupada. Ela não fala como se sente, só diz que está com medo, e que sente saudades.

    – Já marcou a terapia? – Assenti. – Ela vai ficar bem. Os hormônios também deixam ela confusa, quando a Isabella nascer vai tudo ser diferente. Ela vai estar feliz demais, pra se preocupar com coisas externas.

    – É, tem razão. – Suspirei – Que horas são?

    – Quase 07:30.

    – Preciso acordar a Maiara já já. O exame dela tá marcado pra 08:30.

    – Como foi ontem?

    – Eles disseram muita coisa, amiga. Disseram coisas horríveis. – Senti minha garganta arranhar – Não sei como pode existir tanta frieza no coração de alguém. No dia da discussão, eu bati nela.

    – Você bateu na sua mãe? – Assenti.

    – Eu juro, nunca me senti tão bem batendo em alguém! – Olhei pra Marilia – E eu faria de novo. Faria porque não suporto ver alguém fazendo isso com a Maiara! – Sorri – Ela tem um coração tão puro, como conseguem machucar ela assim? Não consigo entender.

    – Eu também não sei. De verdade. Maiara não machucaria nem uma mosca. Com certeza é a pessoa com o coração mais puro que conheço.

    Os nossos olhares foram pra entrada da cozinha, ao ouvir passinhos apressados virem em nossa direção. Olhamos sincronizadamente, vendo uma Maiara com o rostinho amassado, e olhinhos pequenos entrar na cozinha.

    – Por que já acordou, pitica?

    – Ela não me deixou dormir. Está mexendo desesperadamente. – Sorri do seu bico – Estou com fome!

    – Hoje farei o almoço. – Olhamos pra Marilia.

    – Você?

    – O quê? Aprendi com Masterchef! Estou assistindo muito ultimamente. – Deu de ombros – Quando meus filhos perguntarem como eu aprendi a cozinhar, vou contar pra eles. – Sorrimos do jeito que ela falou.

    – Ela vai ser animada, olha isso! – Falei tocando na barriga da minha irmã. Isabella estava liganda no 220. Se mexia tanto, que de longe conseguiria ver seus movimentos.

    – Ah, por que será, né Maraisa? A mãe dela é bem quietinha, graças a Deus. – Maiara fez careta pra Marilia. Estávamos eu, e ela sentadas no chão com as mãos na barriga da Maiara. – Essa animação toda dói?

    – As vezes. Tem uns chutes que machucam. Mas não ligo não, pelo menos não agora. A obstetra disse que quando a barriga estiver maior, vai ser mais dolorido.

    – Posso ir na próxima consulta com vocês?

    – Sim, claro. – Maiara sorriu.

    – Ainda não dá pra ver perfeitamente, mas ela é a cara da Maiara. O narizinho, você precisa ver! E os olhinhos pequenos e puxadinhos.

    – Não, os olhos dela são expressivos como os seus! – Minha irmã disse.

    O jeito como os olhos dela brilham quando ela fala da Isabella, é sobrenatural. Maiara tem um brilho no rosto, e no olhar, totalmente chamativo. E eu tenho certeza, que discussão nenhuma, vai tirar isso.

    – Quando é a próxima consulta?

    – Mês que vem. – Marilia abaixou os ombros.

    – Jura?

    – Sim. A gente adiantou a desse mês. Agora só mês que vem. Mas, hoje preciso fazer exame. – Fez bico.

    – Então não pode comer! Eu tinha me esquecido.

    – Exame de quê? – Perguntou Marilia.

    – Dextrosol. – Respondi fazendo Marilia me olhar com cara de tédio.

    – Ou Albert Einstein, fala minha língua!

    – É exame de glicose. Ele serve pra diagnosticar diabetes gestacional. – Informei sorrindo do seu último comentário.

    – Por que é tão difícil falar normal? Cês amam falar difícil!

    – Vamos nos arrumar! Quanto mais rápido sairmos de lá, melhor! – Maiara falou se levantando.

    Em silêncio assentimos obedecendo ela. Subimos pro quarto, e separadamente tomamos banho. Acho que estou mais nervosa que a Maiara pra esse exame. A maioria das pessoas passam muito mal, e algumas nem conseguem fazer. Esse é meu único medo.

    Confesso que estou animada pro planejamento do quartinho dela, que provavelmente vai ser o do meio. Acho que Maiara e eu vamos continuar dormindo juntas, então a neném fica do nosso ladinho, e assim evitamos muita movimentação, ou preocupações.

    Ainda no mundo da lua, voltei pro quarto da Maiara. Já estava pronta, assim como Marilia, mas Maiara atrasou, claro. 

    – Irmã, vamos! O senhor Jay já está esperando a gente. – Entrei no closet, vendo uma Maiara emburrada me encarar.

    – Eu preciso comer, eu tô passando mal já.  – Resmungou – Não podem fazer isso com uma pessoa que divide o corpo com outra, é quase que um crime!

    – Maiara...

    – Eu não vou durar até o fim daquele exame, vocês vão ver só. – Resmungou outra vez.

    – Vamos? – Deu de ombros irritada.

    Maiara com tantos hormônios, e com fome, só piora o seu humor. Fomos pro carro com ela fazendo bico, e com os braços cruzados igual criança mimada.

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Sempre foi elaOnde histórias criam vida. Descubra agora