Capítulo 81

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    Léo e Isabella estavam no quarto, a menina estava dormindo e quando Léo tentou sair ela acordou pedindo pra ele ficar, então, eles ficaram juntos no quarto e Marilia e eu voltamos pra sala de espera. Eu me sentia totalmente sufocada. Eu ainda conseguia sentir o cheiro de sangue, e ouvir a voz de desespero da Maiara me pedindo pra cuidar da Isabella.

    Nunca tinha presenciado um acidente em toda minha vida. Nunca tinha visto uma pessoa próxima a mim dentro de um carro totalmente destruído, entre a vida e a morte. Os gemidos de dor, os pedidos de ajuda, os "eu te amo", tudo passa pela minha cabeça em uma velocidade além do normal. Tudo me assustava, eu sentia um frio estranho, a sensação parecia aumentar, e eu não aguentava mais esperar.

    Um médico apareceu finalmente, e eu já me sentia mal quando vi que o cirurgião estava vindo, e não só o interno. Geralmente o cirurgião líder sempre vem quando a cirurgia não ocorreu como deveria. O médico se aproximou, tirou a touca amassando ela nas mãos, o interno curvou a cabeça, e eu suspirei olhando nos olhos do médico.

    – Eu sinto muito. –  O cirurgião estava muito abalado pra quem está acostumado com isso. Ele parecia arrasado com aquilo. Sua voz estava pesada, ele estava visivelmente triste.

    – Não. – Falei segurando na roupa da Marilia me abraçando a ela pra tentar me acalmar.

    – A porta perfurou o estômago e o pulmão dela. Enquanto ela estava lá, a porta estancou o sangue, então nosso tempo foi curto. A gente precisou tirar ela rápido e vir pro hospital, ou ela morreria lá mesmo. – Ele parou suspirando – Conseguimos. Vinhemos rápido, fomos pro centro cirúrgico, mas ela perdeu muito sangue. Ela teve duas paradas, eu sinto muito. Não conseguimos reanimar ela. Sinto muito.

    – Não! NÃO! – Gritei na tentativa de acordar do pesadelo que minha vida virou.

    Eu sentia que tinha um buraco se abrindo debaixo do meus pés e que me jogava pro lugar mais fundo e escuro que existia. Minha cabeça girou me fazendo cambalear pro lado e Marilia me segurar em seguida. Eu sentia uma dor sufocante em meu peito, minha alma gritava por socorro, e enquanto eu tentava respirar eu pedia mentalmente pra que me levassem no lugar dela.

    A Maiara tem uma vida linda pela frente. Ela tem uma filha; precisa ver sua formatura, o casamento, ver seus filhos. Ela precisa estar aqui na apresentação de ballet na semana que vem. Ela vai cantar com a Isabella. Isso não pode acontecer! Não pode ser real! Ela lutou pela filha, lutou por nós, e vai acabar assim? Não é justo!

    – AAAAAAAAAH! – Gritei em um pedido de socorro.

    – Respira! – Marilia falou.

    Meu coração estava totalmente disparado, eu não conseguia respirar de jeito nenhum. Minhas mãos tremiam e meus soluços de choro eram altos; muito altos. Bruno e Luisa estavam paralisados, enquanto Marilia tentava me controlar.

    – Aaaaaah. – Gritei outra vez.

    – Amor! Amor, calma! – Me segurou – Calma. Calma. – Me abraçou a força – Shiiii.

    – A minha metade...

    – Eu sinto muito. Sinto muito.

    Eu me sentia incompleta. Maiara é a metade do meu coração, sem ela, eu não sobrevivo. Não dá pra viver com apenas um lado do coração. Eu não me imagino sem a Maiara. Isso é impossível. Como? Como que tudo desmorona tão rápido? Como podemos ter tido um dia tão incrível, e agora, em questão de segundos, tudo acabar?

    Não faz sentido. Não consigo acreditar. Meus pensamentos vão me matar, eu vou morrer sem a Maiara aqui. Me sinto sufocada, perdida, sem chão. Eu preciso que isso seja mentira. Viver em um mundo sem ela é tortura. É como existir sem estar viva.

Sempre foi elaOnde histórias criam vida. Descubra agora