Capítulo 80

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    Nunca passei por uma cena tão aterrorizante como essa. Eu me sentia fora de órbita. Maraisa estava anestesiada do meu lado, Léo no banco de trás chorando, e Bruno no outro carro atrás de mim. Eu cheguei no hospital na velocidade da luz. A morena ao meu lado estava fora de si. Ela estava totalmente paralisada. O sentimento era agoniante, sufocante, eu sentia que iria parar de respirar a qualquer momento.

    O outro motorista morreu no local. Enquanto tiravam Maiara, verificaram ele e deram como morto. Chegando no hospital estacionei o carro rápido, e descemos pra adentrar o local. A sala de espera estava vazia pelo horário, mas Luisa estava lá. Pálida como um fantasma. Bruno pegou uma água pro Léo que estava tremendo como quem acabou de entrar numa piscina de gelos. Odeio o silêncio e o vazio da sala de espera. Tudo da medo, tudo faz seu coração bater errado, cada segundo parecia que o chão se abria mais um pouco.

    Ali, minutos pareciam horas. Eu não conseguia mais suportar aquela tensão toda de espera. Ninguém falava nada, ou dava um sinal de vida. Nada. Estávamos sem informação alguma. Bruno estava sentado em uma poltrona do lado da Luisa, que estava com a cabeça deitada em seu ombro, enquanto Léo estava em pé andando de um lado a outro e Maraisa perto dele.

    – Mamã! – Léo correu em direção dela segurando seus braços – Mamã, não desmaia.

    – Amor? – Ajudei Léo – Merda ela apagou.

    Ela estava pálida e mole em meus braços. Totalmente apagada. Peguei ela no colo levando até uma poltrona, e Bruno levantou rápido.

    – Vou chamar alguém

    – Mamã? – Léo tocou seu rosto – Mamãe por favor, acorda!

    Aquela cena estava acabando comigo, Léo estava totalmente abalado. Ele começou a chorar enquanto chamava a mãe, e ela começou a despertar assim que Bruno voltou com uma enfermeira.

    – Vida? Tá me ouvindo? – Ela assentiu ainda um pouco grogue – Tudo bem!

    – Vou medir sua pressão. Ok? – Assentiu outra vez.

    A moça colocou aquele tecido que se fechava com velcro no braço dela, e pressionou a outra parte que parecia com uma bexiga pouco cheia. A moça constou que a pressão dela estava muito baixa e como a teimosa se recusou a tomar um soro, a moça quase forçou ela a comer. Mas ela obedeceu, comeu pouco, mas comeu.

    – Léo, vai pra casa com a sua tia. – Me referi a Luisa.

    – Não, mamãe. Eu quero ficar aqui. – Ele falou com a voz embargada.

    – Tem certeza?

    – Sim. Me deixa aqui, por favor! – Assenti.

    – Tudo bem.

    Todos estavam extremamente esgotados e preocupados. Maraisa não falava nada, Bruno tentava distrair Léo, e Luisa tentava notícias de uma das duas lá dentro.

    – Eu disse que estava com uma sensação ruim! Eu avisei – Maraisa falou.

    O engraçado é que as coisas começam a fazer sentido de uma hora pra de um jeito totalmente assustador. Maraisa disse que estava com uma sensação estranha desde o início, e agora tudo o que vai vir na nossa cabeça é: poderíamos ter impedido. Poderíamos ter ficado em casa, pedido comida japonesa, e assim todos estariam bem agora. Mas aí vem a difícil pergunta; Era pra ser, ou foi só um acidente?

    As vezes quando alguma coisa tem que acontecer, a gente não pode impedir. Os planos, infelizmente não são nossos. Quando é pra acontecer vai acontecer! Mas nós somos seres humanos, e nos queremos um por quê. Queremos justificativas, meios de provar que poderíamos ter evitado aquilo; chegamos a um ponto tão questionável, que começamos a perguntar pra Deus, por quê isso tinha que acontecer?

    É como se tudo começasse colorido, e no final ficasse preto e branco. O desespero bate, sua mente te culpa, o cansaço triplica, e sua alma pede socorro.

    •  •  •

    Estávamos agitados a espera de notícias, quando finalmente vieram falar sobre a Isabella.

    – Sua avaliação foi certeira. Ela está bem, teve uma queda de pressão agora, mas foi só a adrenalina.

    – Podemos vê-la?

    – Sim. Claro. Me acompanhem por favor.

    Não daria pra entrar todo mundo. Então fomos só eu, Maraisa e Léo. O corredor era enorme, e até diria que era calmo, se não fosse pela minha mente ensurdecedora. Isabella estava com acessos pelo braço, um curativo na testa, tipóia no braço, e um colete pro machucado na coluna.

    – Ela deslocou o braço, machucou um pouco as costelas e cortou a testa. Mas não foi nada grave, ela vai estar bem em uns dias. Demos um remédio pra dor, e um calmante. Então talvez ela esteja sonolenta! Vou deixar vocês sozinhas.

    – Obrigada. – Falei pra moça.

    Isabella estava aparentemente calma, seus rosto tinha alguns machucados leves, e seus lábios ainda estavam pálidos. Ela me olhou sonolenta, olhou pro Léo, olhou pra Maraisa, e começou a chorar.

    – A mamãe! Cadê a mamãe?

    – Ela tá sendo examinada ainda. A gente não viu ela. – Eu disse.

    – Tudo bem.

    Isabella não parecia em seu estado, normal. Ela respondeu, e virou o rosto pro outro lado. Léo me olhou confuso, e eu olhei pra Maraisa encorajando ela a ir lá.

    – Aquela cena não sai da minha cabeça. – Ela finalmente falou em um tom baixo – Ela falou que me amava.

    – Princesa...

    – Ela parecia com dor. Ela falou com você? – Isabella olhou pra Maraisa – Ela acordou?

    – Sim. Ela falou comigo. – Se aproximou dela.

    – Eu tô com medo. Eu vi um pedaço do carro dentro dela. – Sua voz embargou.

    – Você não deveria pensar nisso agora. – Eu toquei a mão dela.

    – Tô com medo de dormir. Toda vez que eu fecho os olhos, eu vejo aquilo de novo.

    – Posso deitar do seu lado? – O Léo perguntou, e a Isabella assentiu imediatamente – Tudo bem. Dorme, vou ficar aqui e saio depois pra não te machucar.

    – Obrigada!

    – Não agradece, só descansa.

    Isabella se aconchegou no Léo, e fechou os olhos enquanto o menino acariciava entre seus cabelos. Maraisa se aproximou de mim, e eu abracei ela enquanto admirava os dois na cama. Eles me lembram eu e as meninas. Estávamos sempre juntas, mesmo com nossos pais brigando, ou tratando a gente mal por sermos de família opostas e rivais, nunca nos separamos.

    Aquele negócio de quem quer consegue, é verdade! Eu já fui humilhada pelos pais das meninas, elas pelos meus, já ficamos de castigo por estar juntas e correr o risco de soltar algum projeto dos nosso pais, já fomos proibidas de sair de casa porquê eles não queriam que a gente tivesse contato; mas, quando o amor é mais forte que as adversidades, não tem jeito.

    A vida é um porre as vezes, nos machuca, nos faz querer desistir, mas a maioria das vezes ela é justa; ela nos permiti mostrar, que o amor é sim mais forte quando é real. Nossa conexão é de outras vidas. E ninguém nega isso, na verdade, eles falam que somos como almas gêmeas. Independente da hora, ou do lugar vão se encontrar e ficar juntas. É infinito. E Ninguém muda isso.

Sempre foi elaOnde histórias criam vida. Descubra agora