- É claro que vou, mas como a senhorita ainda estava dormindo, pensei que seria melhor ficar em casa hoje, para o caso de precisar de alguma coisa. Ele me fitou e um sorriso meio irônico apareceu em seus lábios.
- Creio que ajudar os necessitados será mais bem visto perante os olhos de Deus do que ficar sentado em um banco por quase toda a manhã.
- Oh! Valeu. Eu disse, enquanto arrastava a cadeira para me sentar, no entanto, antes que eu pudesse fazê-lo, Ruggero saiu rapidamente de seu assento para empurrar a minha cadeira.
- Obrigada. Falei meio sem jeito, nunca ninguém tinha empurrado minha cadeira antes.
Não de forma tão cortês e sem esperar pela gorjeta.
Madalena entrou na sala com uma grande bandeja nas mãos, a colocou sobre a mesa e saiu sem dizer nada.
A bandeja estava abarrotada: café, ovos
cozidos, um bolo e algumas frutas. Pareceu ótimo pra mim.
- Mas foi bom você ter ficado. Eu disse, começando a me servir.
- Preciso mesmo da sua ajuda.
Outra vez Ruggero me observou
- Eu estava imaginando se... por acaso, você não encontrou mais alguém como eu? Peguei um pedaço do bolo, estava muito bom!
Suas sobrancelhas arquearam.
- Alguém como a senhorita? Repetiu confuso. - Não. Como eu disse ontem, nunca em toda minha vida encontrei alguém como você.
- Talvez saiba de alguém que encontrou, então? Deve ter uma cidade aqui perto. Talvez alguém que tenha os mesmos.., modos que eu. Tentei ser mais clara.
Ele sacudiu a cabeça antes que eu terminasse.
- Há uma vila há alguns quilômetros daqui, mas não vi ou ouvi nada sobre
alguém... diferente como a senhorita.
- Karol! Corrigi. - Mas você esteve lá ultimamente? Pensei ter ouvido que você esteve fora nos últimos dias.
- Como já sabe, retornei apenas ontem. Não tive oportunidade de ir até a vila. Explicou delicadamente, então franziu cenho. - Mas por que pensa que alguém como a senhorita possa estar lá? Talvez eu tenha entendido mal, mas pensei que estivesse sozinha aqui. Seus olhos intensos observavam os meus.
- E estou! Me apressei em dizer, sentindo uma sensação estranha enquanto seus olhos prendiam os meus.
- Veja só, Ruggero, eu vim pra cá sozinha. Mas encontrei uma... Olha, uma mulher me mandou aqui. Tentei de novo.
- Sem meu consentimento e essa pessoa disse algumas coisas... Pensei muito sobre o que ela me disse e acho que acabei encontrado uma pista.
Ele me olhava de forma estranha. Pasmo ou incrédulo, sei lá.
- Alguém a sequestrou? Precisamos alertar os guardas...
- Não, não. Polícia envolvida nisso seria péssimo!
- Não tipo sequestrar de verdade.
É mais tipo um... exílio. Não precisa chamar a polícia, eu nem sei o nome da pessoa que fez isso!
Ele se recostou na cadeira, seus olhos ainda nos meus, o pobre coitado tentava entender, eu podia ver isso, mas claramente não compreendia o que havia acontecido comigo.
- Acho que não estou aqui sozinha. Comecei. Não queria que ele pensasse que eu fosse doida e, se ele continuasse a pensar muito no assunto, com certeza chegaria a essa óbvia conclusão.
- Acho que mais alguém também foi vítima daquela... mulher. Então, se essa pessoa estiver aqui também, talvez juntas possamos descobrir um modo de voltar pra casa, entendeu?
Pela cara dele, não tinha entendido, não o culpei. Se eu, que sabia da história toda, não entendia completamente, imagina ele, dois séculos atrasado, poderia compreender apenas uma pequena parte da história?
- Entendo. Ele disse mesmo assim.
Mais por hábito, imaginei.
E a senhorita acredita que essa pessoa esteja aqui perto?
- Só pode estar!
Ele encarou seu café por um tempo e não disse nada, parecia meditar sobre o que eu havia dito, em seguida, seus olhos escuros e profundos voltaram ao meu rosto.
- Preciso fazer uma pergunta, senhorita Karol. Sua voz séria e profunda.
- Espero que não se ofenda.
- Pergunte. Ele disse de uma só vez.
- A senhorita está com problemas ilícitos, não está?
Meu rosto desmoronou, não esperava por aquela pergunta, não imaginei que ele pudesse chegar a essa conclusão. Fiquei olhando pra ele com a boca
aberta feita uma idiota.
- Eu não estou te julgando, senhorita. Mas preciso saber em que tipo de problema estou me envolvendo, como sabe, sou o tutor de Malena, não posso permitir que ela se aproxime de... certos problemas. Eu pisquei.
Não sabia se havia entendido direito o que ele disse.
- Você acha que eu sou uma um sete um ou coisa assim? Inquiri.
A incredulidade tingindo minha voz. Como ele podia pensar uma coisa
dessas?
Bom, claro que poderia pensar uma coisa dessas, ele mal me conhecia.
Mas ele me hospedou, me ajudou e até chamou um médico para cuidar do
ferimento na minha cabeça, como podia abrigar alguém que suspeitava ser
uma pilantra?
- Não sei o que um sete um significa, mas...
- É a mesma coisa que safada, sem vergonha, picareta ou espertalhona
farrista, como disse Ana!
Expliquei, sentindo o sangue correr mais
rápido nas veias.
- Não foi isso o que eu quis dizer.
A senhorita se envolveu com... Ele se remexeu desconfortavelmente na cadeira.
- Algum problema de natureza... bíblica?
- Natureza bíblica? Do que você está falando? Eu...
Então me lembrei,
Natureza bíblica, no sentido bíblico! Como Adão e Eva. Oh!
- Você está falando sobre sexo?
Ele se virou na cadeira enquanto fazia SHHHH pra mim, procurando ver se
alguém tinha ouvido nossa conversa.
- Senhorita Ka...
- Por que diabos transar com alguém faria... eu me perder aqui?
minhas sobrancelhas arqueadas, esperei que ele se explicasse.
- Isso não são modos de falar, minha jovem! Ralhou como se fosse meu avô.
- E não sei o que transar significa mas...
- É a mesma coisa que sexo, fazer amor, dormir com alguém, trep...
- Pare com isso, o rosto duro. Já entendi o que quer dizer.
Eu o encarei obstinadamente.
- Então, me explique por que acha que fazer isso me colocaria em problemas. Porque eu realmente não consigo entender!
Não imaginava como o sexo pudesse me colocar naquela roubada, a não ser que eu tivesse sido dopada com alguma boa-noite-cinderela e ainda estava piradona sob o efeito da droga e estivesse imaginando tudo aquilo. Humm.,.
Ele pareceu relutante em começar.
Não perdi meu foco, o encarei com olhos desafiadores. E, depois de um tempo, ele finalmente falou.
- Você disse que uma mulher a mandou aqui sem seu consentimento, eu a encontrei praticamente sem roupas e você me disse que não sabe como voltar. Deduzi que... talvez a tal mulher fosse esposa de alguém.Aiai coitadinho do Ruggero sem entender nada.
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Meu lugar
FanfictionA garota da cidade grande, independente que gosta de praticidade, tudo para ela tem que ser moderno e que não dê trabalho. Mas vê sua vida virar de ponta a cabeça e embarcar em uma grande batalha para alcançar sua liberdade o que ela não sabia é que...