Parte 38

58 8 1
                                    

- Tá bom. Disse exasperada.
Então, me lembrei.
- Malena eu queria conversar com você. Só nós duas. Pedi conspitatoriamente olhando para os dois lados.
- Num lugar mais reservado.
- Podemos falar em meu quarto.
Ela sugeriu.
- Beleza! Quero dizer, ótimo! Ela riu. Depois de algumas fungadelas e de secar os olhos, fomos até o quarto de Malena. Um quarto que parecia ser de uma princesa de conto de fadas, com tecidos brancos e um rosa delicado cobrindo toda a mobília, era lindo e acolhedor, assim como sua dona. Depois de passar a chave na porta, Malena se sentou ao meu lado na cama grande de dossel.
- Ninguém nos perturbará aqui. O que quer falar que parece ser tão importante que ninguém deve ouvir?
- Errrr... Imaginei que fosse mais fácil começar.
- Eu... queria falar sobre uma coisa que... Primeiro, me prometa que não contará a ninguém sobre o que conversaremos!Implorei, agarrando suas mãos.
- Principalmente para Ruggero! Ele me mata se souber que te contei isso!
- Eu prometo. Ela disse, alarmada.
- Estou ficando preocupada, Karol!
- Não fique, Malena, não é nada tão horrível assim, mas você precisa saber
de algumas... Coisas que só uma mulher mais velha pode te explicar.
E seu irmão deu a entender que ninguém vai ter essa conversa com você.
Sua mãe talvez gostasse de te explicar como tudo funciona, mas já que ela...
Não estava dando muito certo, e aquela conversa era muito importante para
uma garota.
Respirei findo e tentei me lembrar de como foi a minha com a minha mãe. Talvez ela tivesse tido mais tempo para se preparar...
Decidi fazer o que minha mãe fez.
Sondei o que Malena sabia primeiro para ter por onde começar.
- Malena, você sabe o que um homem e uma mulher fazem no quarto quando são casados?
- Eu acredito que eles durmam? Seu rosto ficou confuso.
- Sim. Concordei lentamente.
- E o que mais?
- Tem mais? A voz incrédula.
Ai, Deus!
- Tem muito mais, Malena.
Tem a parte principal de um casamento! Seria muito complicado, seria como explicar para uma criança de seis anos, se é que Malena sabia tudo o que uma criança de seis anos do meu tempo sabia.
Seus olhos se arregalaram.
- É mesmo? Ninguém nunca me disse nada! Que parte é essa?
Exigiu, agarrando uma de minhas mãos.
- Já ouviu alguma coisa sobre... Fazer amor? Imaginei que esse fosse o termo mais adequado para a época.
- Hã... Não!
- E sobre sexo?
Ela corou um pouco. Talvez soubesse de alguma coisa afinal.
- Bem... Uma vez, uma professora disse algo sobre homens serem governados pelo sexo, mas não explicou mais nada. Perguntei a Ruggero o que ela quis dizer com isso, mas meu irmão me deu uma bronca e me deixou de castigo, disse que jovens de família não deviam usar tais palavras. Nunca!
Então, imaginei que fosse uma coisa ruim e não perguntei a mais ninguém.
Se Ruggero descobrisse o que eu estava prestes a fazer, me estrangularia, sem
dúvida alguma.
- É sobre isso que vamos conversar. Sobre sexo. Vou explicar como tudo funciona para que não se assuste com absolutamente nada quando se casar,
apenas... se divirta.
Ela assentiu, o rosto muito sério.
Respirei fundo e comecei explicando as diferenças físicas entre o corpo feminino e o masculino.
Ela já vira um bebê sem roupas, o que facilitou um pouco a coisa.
Quando comecei a explicar sobre o ato, onde cada coisa se encaixava, seu rosto assumiu um tom vermelho intenso, quase roxo, mas eu não parei, ela tinha que saber como tudo funcionava.
Toda mulher precisava saber.
Respondi a todas as suas perguntas, coisas de que me lembrava ter perguntado a minha mãe.
Dói? Vai sangrar? E se não sangrar, o que ele vai pensar? Preciso tirar toda a roupa? E se eu ficar com medo? Como
pode caber? Vou gostar disso? E se eu não tiver um orgasmo, significa que
tem algo errado comigo?
Expliquei tudo: que não precisava temer porque quando encontrasse alguém que realmente amasse, tudo seria natural. Que o corpo dela também iria querer fazer aquilo, que não era apenas o homem que era governado pelo sexo. Que as mulheres também se divertiam muito, até mais que os homens, já que orgasmos múltiplos eram exclusividade feminina. Outras perguntas, porém, eu não estava preparada.
Então se eu me sentar no mesmo lugar onde um rapaz estava sentado, não
vou ter um bebê?
Eu ri. Ensinei a ela como fazer as contas para evitar a gravidez, fiz com que repetisse os cálculos diversas vezes para que não se esquecesse.
Expliquei sobre a gestação, mas essa parte eu também conhecia apenas na teoria, porém contei a ela tudo que sabia.
Quando terminei, sua expressão era um misto de vergonha, alegria e satisfação. Me fez sorrir, ela estava feliz por saber o que acontecia na cama de um casal.
- Então, aquela história de que uma jovem pode ter filhos apenas por beijar um rapaz é mentira!
Disse ela, abismada.
- É sim. Daí me corrigi.
- Bem, só com o beijo é mentira, se só a
língua dele estiver dentro de você...
Segurei suas mãos e olhei dentro de seus olhos.
- Não saia beijando por aí, Malena! Ela era jovem e precisava de todas as explicações.
- Principalmente aqui, onde a reputação de uma garota conta tanto.
Sexo é diferente de amor. Sexo é físico, enquanto o amor é emocional, você pode sentir desejo por alguém sem
necessariamente amá-lo.
O ideal é que sinta as duas coisas pela mesma pessoa.
Exatamente como eu sinto por seu irmão, eu quis acrescentar.
- Eu entendi. Fique tranquila. Ela sorriu, acanhada.
- Não vou beijar ninguém.
Olhei para ela, seus olhos tão preto, mas que, de alguma forma, me lembrava os de Ruggero, me trouxe recordações de outra conversa que tivemos.
- Malena, me prometa uma coisa.
- Prometo. Ela concordou solene, antes mesmo de eu dizer o que queria.
Ela não tinha a desconfiança que eu tinha das pessoas. Assim como Ruggero. Talvez o século vinte e um não fosse tudo isso, afinal...
- Prometa que apenas se casará quando se apaixonar por alguém, prometa que só se casará com alguém que realmente ame! Nada de casamento arranjado.
- Prometo! Ainda mais depois de tudo o que me contou! E sacudiu a cabeça corando levemente.
- Se não amá-lo demais não serei capaz de permitir que veja minha anágua, que dirá sem ela! Disse um pouco
escandalizada.
- Obrigada, Karol! Eu adoro você!
E lançou os braços em meu pescoço.
- Eu também, Malena. Quero que você seja muito feliz! Mesmo que eu não
possa ficar aqui pra ver.
- Ah! Karol! Se pudesse ver o quanto você é importante para meu irmão e para mim, jamais nos deixaria.
- Vocês também são muito importantes para mim, acredite! Você é como uma irmã caçula.
Minha outra irmã Nina, mas era três meses mais velha que eu. Minha irmã mala velha.
Minha querida Nina! Percebi que se ficasse abraçada com Malena muito tempo voltaria a chorar, então a soltei e tentei sorrir,
- Agora é sua vez de me ensinar. Pedi.
- Ensiná-la? Sua testa se enrugou, seu rosto surpreso.
- Claro! Ergui as pernas, apoiando os pés na beirada da cama e abracei os joelhos.
- Me ensinar o que eu devo fazer na ópera. Ou melhor, o que não devo fazer na ópera!
- Ah! Ela riu.
- Entendi.
Prestei bastante atenção no que ela me disse: me inclinar quando alguém fosse apresentado, nada de "valeu", "beleza", "e aí" ou coisa parecida.
Meus cabelos deveriam estar presos.
As mulheres solteiras sempre se
sentavam à frente dos cavalheiros. Basicamente, ela me disse o que eu já
tinha visto em filmes épicos.
Tentei memorizar tudo para não colocá-los numa situação embaraçosa.
Sacudi a cabeça rindo.
Como se isso fosse possível!

Meu lugarOnde histórias criam vida. Descubra agora