- O que estamos fazendo? Perguntei mais para mim mesma, arrumando o vestido rapidamente e me sentando ao seu lado.
- Tem razão. Eu... sinto muito! Não sei o que deu em mim. Perdoe-me, Karol.
Ele disse, corando muito, arrumando a bagunça da camisa e gravata abertas.
- Eu não posso tratá-la desta maneira... O que eu estou pensando? E eu havia prometido que não a tocaria... Apenas...
- O que? Perguntei, embaraçada, quando ele não continuou.
- Perco o controle sobre mim mesmo quanto estou perto de você. Ele concluiu abaixando a cabeça.
- A culpa não é sua. Não é só sua, afinal. Eu também não consigo me conter quando você... me... beija. Fui mais honesta do que realmente pretendia.
Ele tentou muito conter um sorriso.
- É mesmo?
Não pude deixar de sorrir de sua cara de satisfação.
- Não me diga que ainda não percebeu isso? Ele riu.
- Pensei que talvez... Estivesse sendo condescendente comigo.
- Tá brincando? Ruggero corresponder a um beijo é uma coisa, isso que estávamos fazendo... Era outra coisa... Era... Não estou sendo condescendente. Ninguém me toca a não ser que eu queira muito. Terminei, meio enrolada, ainda sentia a cabeça girando.
O sorriso em seu rosto se alargou ainda mais.
- Pare de sorrir! Pedi, séria.
- O que estávamos fazendo é errado! Irá
magoar a nós dois num futuro nada distante.
O sorriso desapareceu imediatamente Seu rosto fico duro.
Novamente, como uma nuvem de tempestade
- Por que gosta tanto de viver no futuro? Perguntou à queima-roupa.
Olhei para ele atônita. Minha boca se abriu e pisquei diversas vezes antes
de conseguir responder.
Sabia que Ruggero era muito inteligente, perspicaz até demais! Mas como ele descobriu meu segredo?
- Como você soube...? Tentei dizer, mas estava chocada demais por ele ter descoberto sabe-se-la-como que eu vim do futuro e que ainda me olhasse da mesma forma. Quase da mesma forma, ele estava zangado agora.
- Basta observá-la. Você nunca vive o presente, o agora, sempre com a cabeça no futuro, no amanhã no que ainda está para acontecer. Um leve toque de ressentimento se espreitou em sua voz.
Ah! Esse futuro!
- Eu faço isso, às vezes. Nina me enche o saco por não aproveitar o “momento”. Acho que vocês dois se dariam bem, sabia?
- Não respondeu a minha pergunta. Disse ele, sério. Seus olhos repletos de um brilho novo. Um que eu não soube o significado.
Eu não tinha resposta para essa pergunta. Então, não disse nada, apenas olhei pela janela e vi outra casa se aproximando.
- É aqui? Perguntei tentando distraí-lo.
- Sim, esta é a casa da senhorita Ana.
A casa era bem menor que a que eu acabara de ver na estrada, mais normal, como a casa de Ruggero. Era bonita.
- Se eu lhe fizer uma pergunta, responderá com sinceridade. Ruggero ainda estava bicudo.
Um curto silêncio se seguiu antes que ele voltasse a me encarar com tamanha intensidade que apenas sacudi a cabeça confirmando, totalmente impotente.
- Está comprometida com alguém?
- Não. Essa era uma pergunta fácil de responder.
- Nem mesmo no lugar de onde vem?
A intensidade me puxava para ele outra vez.
- Não, não tenho ninguém me esperando. Sussurrei.
Ele assentiu. Voltou a olhar pela janela por um tempo, depois seus olhos voltaram aos meus com uma força opressora.
- Fico feliz em ouvir isso.
A forma como articulou, tão firme e honesto e... Aliviado, me deixou sem fôlego.
- Não terei que lutar contra mais ninguém além de você mesma.
Puxei uma grande quantidade de ar.
- Lutar comigo? Gemi.
Ele assentiu, a determinação estampada em seu rosto.
- Sim. Karol vou fazê-la entender o que reluta tanto a aceitar. Eu gemi baixinho, porque, se ele iria se esforçar ainda mais... Eu realmente estaria perdida. Sem trocadilhos!Chegamos perto das seis horas ao grande teatro. Um dos lugares mais lindos em que já estive na vida. Muito luxuoso, com paredes revestidas de madeira cor de mel e detalhes dourados, o teto segurava um lustre de cristal gigantesco com centenas de velas, a balaustrada delicada coberta por mais ouro e os assentos revestidos por um tecido vermelho escuro talvez veludo, deixava o balcão onde estávamos com aspecto elegante e charmoso.
Sentei-me ao lado de Ana, na fila de três cadeiras da frente, com Ruggero bem atrás e Malena ao seu lado.
A viagem foi longa, demorou muito para chegar até a cidade.
Não que fosse tão longe assim, mas a carruagem ficou mais pesada com quatro adultos no seu interior e se arrastava a meros quilômetros por hora.
Falei pouco, quase nada, durante a viagem. Ainda estava muito assustada
com o meu comportamento ou com a falta dele no caminho até a casa de Ana. E se alguém nos visse agarrados daquela maneira? E se Malenativesse visto? Apenas respondi a algumas perguntas banais que Malena e para minha surpresa Ana me fizeram.
Tentei muito não olhar para Ruggero. Não queria ver a pergunta ainda em seu rosto. Por que não vive o presente?
Eu não sabia o que responder, nem para mim mesma. Entretanto algumas vezes meus olhos vagavam por vontade própria em sua direção e, em todas as vezes, encontrei seus olhos me
observando atentamente.
Eu mal sabia dizer como havíamos chegado até a cidade, não consegui prestar atenção em nada além de Ruggero.
Até mesmo Malena notou, percebi isso depois que saímos da carruagem, quando se afastou um pouco do nosso pequeno grupo e me puxou junto com ela.
- Você e meu irmão brigaram?
- Claro que não. Assegurei a ela.
Ela sorriu um pouco.
- Oh! E seu rosto se iluminou.
- O quer dizer com Oh. Não gostei do brilho em seu rosto.
- Não é nada. Apenas nunca vi Ruggero ficar tão perturbado na presença de
uma dama como ele fica quando você está presente. Outro sorriso, dessa
vez um enorme.
- Malena, eu não... Mas eu não sabia o que dizer a ela, e nem tinha certeza se não queria realmente perturbá-lo.
- Não seja tola, Karol. Você não tem Culpa se ele se apaixonou por você, tem?
Meu queixo caiu.
Tentei pensar em algo que contradissesse sua suposição, mas não fui capaz. Ruggero não estava apaixonado por mim. O que sentia era atração física muito forte e incontrolável, ao que parecia, mas apenas isso.
Ao menos, era o que eu pensava.
E depois não pude mais explicar que ela estava enganada, já que Ruggero e Ana se juntaram ao nosso pequeno grupo.
Esforcei-me muito para não me virar e observá-lo de vez em quando.
E dessa vez, consegui por um tempo.
Em parte porque a orquestra começou a tocar e prendeu minha atenção, mas, assim que a cortina se abriu e os atores começaram a atuar, percebi que não entendia absolutamente nada.
Malena discretamente me entregou um pedaço de papel, um tipo de programa como aqueles de desfile de carnaval que explicam as mias e alegorias que gente normal como eu nunca conseguia encontrar sentido. Analisei o papel sob vários ângulos.
- Também está em italiano! Murmurei.
- Mas é claro que está, minha cara. Toda ópera é em italiano! Anasussurrou, um pouco irritada pela interrupção.
- Você não consegue acompanhar? Malena perguntou. Suas sobrancelhas
quase unidas indicavam que eu deveria saber italiano.
- Não! Rebati.
- É sobre o que?
Malena se inclinou um pouco, recuando logo em seguida, assim que viu Ruggero
fazendo o mesmo.
Ele estava bem atrás do meu assento, ficava mais fácil se comunicar sem atrapalhar as outras pessoas.
Sua mão quente nas costas da cadeira roçou em minha pele, sua boca se aproximou de minha orelha e o calor de sua respiração queimou minha concentração.
- Trata-se de uma comedia lírica. Dom Magnífico é um homem muito ambicioso. Tem duas filhas igualmente ambiciosas, Clorinda e Tisbe, e uma enteada gentil e bondosa. Angelina, da qual trata como criada. O príncipe Ramiro...
Ruggero continuou dizendo alguma coisa, mas meu cérebro não assimilava mais as palavras. Registrei apenas o tom rouco de sua voz, seu calor sapecando
minha pele, seu cheiro delicioso, um misto de madeira e ervas extremamente sensual me entorpecendo.
- Arrã. Resmunguei quando ele terminou sua narrativa. Tentei muito entender tudo o que ele havia acabado de dizer, mas não sabia ao certo se tinha conseguido.
A ponta de seu nariz brincava em minha orelha e eu já não tinha certeza nem mesmo de qual era o meu nome.
- Ainda tem mais. Ele se aproximou um pouco mais, seus dedos tocaram suavemente meu ombro nu.
Seu toque quente e delicado fez meu
coração retumbar, abafando os outros sons do teatro, quase podia sentir seus lábios em minha pele.
Era enlouquecedor!
- O príncipe lhes comunica que dará um baile para todas as jovens do reino. Angelina vai ao baile às escondidas, vestida luxuosamente, graças à ajuda de Alidoro, o tutor de príncipe Ramiro, e deixa a todos encantado.
Contudo, Dom Magnífico a reconhece e teme que todos descubram que ele renegou a Angelina todos os direitos como sua filha.
Obviamente, não vou lhe contar como termina, mas creio que agora poderá acompanhar.
Ele suspirou em meus cabelos, a mão ainda em meu ombro.
- Entende melhor agora, senhorita?
Eu... tentei me lembrar o que ouvi, tentei muito. Mas, pra dizer a verdade, não sabia dizer exatamente o que havia escutado, tinha alguma coisa a ver com um príncipe e um baile e a irmã de alguém. Uma nuvem espessa cobria meu cérebro, era impossível me concentrar em qualquer coisa com Ruggero sussurrando daquela forma em minha orelha.
Virei-me para agradecer a ele, mas Ruggero estava perto o bastante para que meu nariz esbarrasse em seu queixo brevemente. Ele não recuou.
- Claro. Obrigada. Sussurrei atordoada.
- Fico feliz em lhe ser útil. Um sorriso malicioso apareceu em sua boca perfeita. Sorri também, me virando depressa para não cometer nenhuma idiotice em local público, do tipo me jogar no colo dele e beijá-lo ali mesmo, bem ao lado de sua irmã adolescente.
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Meu lugar
Fiksi PenggemarA garota da cidade grande, independente que gosta de praticidade, tudo para ela tem que ser moderno e que não dê trabalho. Mas vê sua vida virar de ponta a cabeça e embarcar em uma grande batalha para alcançar sua liberdade o que ela não sabia é que...