Parte 24

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Ruggero já havia partido para seu compromisso quando encontrei as garotas na sala de jantar prontas para o compromisso com a costureira.
Fiz um rabo de cavalo dessa vez, prendendo todo o cabelo para trás.
Recusei a oferta de usar um dos vários chapéus de Malena.
Precisei de muita persuasão para convencê-la que eu não queria e não usaria aquilo na cabeça.
Decidi deixar o celular no quarto, se a costureira fosse tomar minhas medidas e encontrasse um retângulo duro e prateado que nunca viu na vida no decote do vestido poderia começar a fazer perguntas, e eu não queria perguntas.
Queria respostas!
Ao chegamos na vila, notei que o movimento era bem maior do que o que
eu tinha visto no dia anterior, os prédios de paredes e portas igualmente altas estavam abertos, fiquei surpresa com o tipo de comércio que vi.
Na verdade, não achei que realmente se tratasse de comércio, era mais uma feira livre ou coisa assim.
Diversas carroças se amontoavam na rua de pedras, com os mais variados produtos: galinhas e porcos vivos, verduras e legumes, artigos de decoração, um tiozinho esquisito vendia o elixir da vida por apenas uma moeda.
Malena me mostrou o que pensei ser a padaria nem de perto se parecia com
uma, apenas uma banca na calçada estreita, repleta de pães variados.
Vi o tal boticário, um senhor idoso, mas de uma vitalidade impressionante: Ana me contou que ele fazia algumas poções que podiam curar doenças tipo um remédio homeopático, imaginei.
Um dos comércios que passamos em frente tinha aparentemente tudo que dava para se ter ali, de sabonete a sacos de farinha, talvez fosse o precursor do supermercado. Fiquei atenta a qualquer pessoa suspeita ou, de repente, um objeto que pudesse ser o que eu estava
procurando.
Imaginei que, num lugar tão enfadonho, qualquer notícia nova devia correr como pólvora. Tive essa suspeita confirmada quando madame Georgette, não tinha a menor ideia do porquê todo mundo se referia a ela como madame, me cumprimentou.
- Então esta é mademoiselle Karol Sevilla Ela disse, com seu sotaque francês. -Fiquei curriosa a seu respeito.
É encantadorra, chérrie!
- Err... Mérci? Arrisquei.
- Oh! Chérrie! Ela juntou as mãos sobre o colo farto.
- Quanta delicadeza! Não me admirra que mademoiselle Valentina tenha dito que o Senhor Pasquarelli parrecesse tão encantado com você, minha carra!
Ah! Que ótimo! Agora a família dele era a fofoca do dia!
- Mas este seu vestido! Ela fez uma careta, desaprovando.
- Não está lhe favorrecendo, chérrie. Veja! Está frrouxo e curto demais! Uma beleza como a sua prrecisa ser valorrizada. Papo de vendedora, tão antigo quanto a vaidade feminina.
Ela me mostrou diversos vestidos quase prontos. Não me empolguei muito, não era meu estilo, mas Malena ficou esfuziante.
- Me ajude a escolher um, Malena. Pedi. Por mim, não levaria nada.
Ela separou diversos deles para que eu provasse. Gostou muito de um branco, mas consegui convencê-la de que, para quem tinha poucos vestidos ou nem um cores escuras seriam mais práticas, por não mancharem com tanta facilidade.
Acabei ficando com um vestido verde escuro e outro vinho, Malema não permitiu que eu ficasse com apenas um, disse que o compraria de uma forma ou de outra, não me deu outra escolha.
A costureira era muito hábil, apenas uma assistente a ajudava.
A grande sala de seu atelier de costura
estava escura, entulhada de tecidos e papéis por toda parte, parecia que
acabara de acontecer um terremoto.
E eu pensei que meu apartamento se
parecesse com uma zona de guerra... Enquanto fazia alguns ajustes nos dois vestidos, madame Georgette me lançava um olhar reprovador toda vez que tocava minha cintura.
Puxou a saia do vestido para que aumentasse o volume e sua testa se enrugou.
- Humm... Resmungou.
- Seus sapatos são muito interresantes,
chérrie.
Malema escolheu seu vestido rapidamente, marfim, mangas curtas, com alguns bordados delicados e ampla saia. Pelo desenho, achei a cara dela.
Ana, porém, deu mais trabalho.
Disse diversas vezes que o vestido tinha que ser especial, digno de uma rainha!
Madame Georgette devia conhecer muito bem suas clientes, pois pegou um rolo de tecido dourado e encorpado e o abriu sobre a mesa.
- Que tal este, mademoiselle Anaa? Não há tecido mais nobrre nem mesmo na Eurropa!
Depois de meia hora, depois de muitos: este não está à altura de uma rainha, Ana escolheu um modelo cheio de detalhes, com muitos bordados e de mangas bufantes.
- Não vai escolher o seu, chérrie? me perguntou madame Georgette, piscando várias vezes seus cílios longos.
- Ah, não. Não sei se estarei aqui no sábado e, se por acaso ainda estiver,
posso usar um destes dois aqui.
As três se entreolharam e depois olharam de volta para mim.
- Você deve escolher um vestido de baile, Karol. Me disse Malena.
Adorei a forma casual que usou para dizer meu nome, sem frescuras, como
fazia seu irmão.
- Estes são para os dias normais. Já lhe disse que muitos amigos da família estarão lá. Quero que lhe admirem, e não que sintam pena. Além disso, Ruggero foi muito explícito esta manhã, quando me pediu para que lhe ajudasse a escolher o vestido, já que você não está familiarizada com a moda local. Ela se aproximou.
- Eu lhe ajudo! Malena colocou suas mãos em meu braço e me guiou gentilmente até a mesa onde estavam os desenhos de madame Georgette.
- Este ficaria muito bem em você, o que acha? Dei uma olhadela no desenho. Tinha detalhes demais.
- Ainda acho que não é necessário, Malena. Eu agradeço sua preocupação,
mas realmente...
- Karol eu vou escolher sozinha se continuar sendo intransigente. E sorriu calmamente. Suspirei.
- Preferia algo menos elaborado então. Fiz uma careta involuntária para o desenho.
- Não quero chamar muita atenção. sussurrei.
Malena sorriu e continuou a virar as folhas grandes de papel amarelado.
- Já souberram da novidade? Ontem à tarde um chevalier se hospedou na penson de dame Herbert, a pobrre viúva ficou assustada quando o homem bateu em sua porta, todo sujo, sem bagagem e sem crriados! Mon Dieu!
Opa!
Virei-me para poder ver melhor o rosto da costureira, mas acabei esbarrando sem querer numa bacia cheia de botõezinhos que estava sobre a mesa. Milhares de bolinhas se esparramaram pelo chão.
- Caramba! Desculpa, madame.
Me abaixei para recolher os pequenos
botões enquanto sua assistente vinha a meu socorro.
- Não se preocupe, chérrie. Anelize cuidarrá disso. Disse a costureira, me levantando do chão.
- Foi sem querer, eu juro! Meu rosto ardia.
- Já disse parra não se prreocupar com isso! O que estava dizendo? Oh!
Sim, sobrre o forrasteirro.
Parrece que foi assaltado, pobrre homem! Mas, felizmente, não foi ferrido! Ela balançou a cabeça, fazendo seus cachos louros sacudirem.
- Onde disse que ele está, madame Georgette? Perguntei aflita.
- Na penson Herbert.
- Que coincidência! Parece-me que a história desse cavalheiro e a sua são
parecidas... Ana começou e foi interrompida por Malena rapidamente.
- Ana, veja aquela fita! Acho que é perfeita para seu novo chapéu.
Malena não queria que a costureira soubesse que eu também tinha uma
história muito parecida, pelo menos era o que ela e Ruggero pensavam, mesmo
eu tendo dito diversas vezes que não havia sido assaltada.
- Onde, senhorita Malena? Oh! É perfeita! Ficará linda em meu novo chapéu. Completamente distraída pela fita, Ana se levantou da cadeira e foi até um bolo de fitas coloridas penduradas num varal. O assunto esquecido.
- Qual é o nome dele? A senhora o conheceu? não pude me segurar.
Eu precisava saber mais sobre ele.
- Não o conheci ainda, mas o vi hoje de manhã alugando um cavalo.
Crreio que está forra da vila no momento.
- Você o conhece? Suas sobrancelhas finas arquearam, vi a curiosidade crescer em seu rosto pálido.
- Ah, não! Dei de ombros torcendo para que minha expressão não demonstrasse a frustração que sentia por não obter mais detalhes.
- Apenas... Fiquei curiosa. Aqui parece ser um lugar tão tranquilo!
- Oh! Há muito tempo que já não é assim, chérrie. Os tempos moderrnos estão trrazendo muitas coisas desagradáveis.
Tempos muito modernos, realmente.
Não fiz mais perguntas, não queria colocar Malena numa situação
constrangedora.
Já era ruim saber que toda a vila estava falando da família dela por culpa minha, não queria complicar as coisas ainda mais. Esperaria até poder falar com Ruggero e pediria sua ajuda. Outra vez!

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