Parte 44

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Ficamos na sala de música até que o almoço foi anunciado.
Ruggero não estava à mesa. Madalena e mais dois empregados apareceram com os braços repletos de bandejas e travessas.
- Oh! Senhorita Malena! Mandei avisar seu irmão que o almoço seria servido, mas ele disse que não sairá do quarto até que termine o que está fazendo. Sua voz agoniada.
- Ele nem tomou o café hoje!
Estou preocupada que ele esteja doente!
Malena ficou alarmada. Assim como eu.
Ele não estava bem? Estaria realmente doente? Tinha algum remédio naquele lugar atrasado? Mas ele pareceu tão normal e bem disposto quando nos vimos pela manhã!
- Eu vou chamá-lo. Eu disse, apressada. Os olhos das três mulheres me observavam.
- Talvez consiga convencê-lo a comer alguma coisa para não deixá-las tão preocupadas.
- Por favor, faça isso. Malena me disse.
Fui para o corredor quase correndo, mas tive que voltar quando estava na metade.
- Err... Eu não sei onde é o quarto dele. Falei desconcertada.
- Três portas à esquerda do meu. Malena se levantou.
- Se quiser, posso ir até lá com você.
- Não precisa! Sei chegar lá. Acho que talvez uma amiga possa argumentar de forma mais persuasiva que própria irmã. Sorri amarelo.
Minha desculpa soou esfarrapada até pra mim.
Sai apressada para o corredor que levava até a sala principal, eu só conseguiria encontrar o quarto de Malena se partisse dali. Apressei o passo, enquanto pensamentos desagradáveis teimavam em entrar em minha cabeça.
Ele estava doente? Mas parecia tão normal de manhã, corado e saudável e lindo e forte e cheiroso e...
Talvez estivesse mal e não tenha dito
nada para não me preocupar.
Ruggero não parecia ser um daqueles homens resmungões que precisam de morfina quando uma unha do pé encrava.
Encontrei o quarto de Malena.
Contei três portas à esquerda.
Bati. Não ouvi som de passos ou resposta. Bati novamente, ficando impaciente.
Senti um pouco de alívio quando ouvi passos e, depois a voz abafada de Ruggero.
- Senhora Madalena, eu já lhe disse que não estou... Ele abriu a porta e me viu. -Com fome. Terminou confuso
- Oi.
Analisei atentamente sua fisionomia, ele não parecia doente, pelo contrário, parecia esbanjar saúde com seu cabelo desarrumado, uma mancha de tinta rosa em sua testa.
Não vestia o casaco habitual apenas uma camisa branca os dois primeiros botões desabotoados permitiam entrever os pelos negros de seu peito.
As mangas enroladas até a altura dos cotovelos e pequenas pintas coloridas decoravam todo o redor.
Nunca o vi mais lindo!
- Está tudo bem com você?
Consegui falar, depois de recuperar o
fôlego.
- Mas é claro que está. Por que não estaria? Sua testa se enrugou.
Vestido daquele jeito, com camisa e calças escuras, ele parecia um rapaz
comum não por sua aparência, Ruggero era lindo demais para ser considerado
comum, mas comum como um rapaz do século vinte e um.
Qualquer homem ainda usava camisas e calças.
- Madalena pensou que você estivesse doente. Ficamos preocupadas e eu vim até aqui para ver se você estava bem.
E, caso estivesse bem, te arrastar até a mesa e obrigá-lo a comer.
Ele bufou.
- A Senhora Madalena sempre se preocupa desnecessariamente.
Eu estou bem, apenas quero terminar o que estou fazendo e depois vou comer.
- Está pintando?
- Estou. Respondeu exasperado.
- Minha governanta não sabe manter
a boca fechada.
- Ela não fez por mal. Posso ver?
- Não! Disse ele, um pouco alto demais. Assustei-me com sua reação exagerada ao meu pedido simples.
- Quero dizer, ainda não. Não está pronto.
- Ah! Exclamei frustrada.
- Então, vamos almoçar?
- Eu pretendia terminar o que estou fazendo primeiro.
- Oh! Murmurei infeliz.
- Vou até a vila com sua irmã e Ana para pegar os vestidos esta tarde.
- Estão prontos? Que ótima notícia. Assim, não terá nem uma desculpa para não dançar comigo no baile. Ele sorriu mal maliciosamente e meu coração disparou.
- Não quero desapontá-lo masprovavelmente não sei dançar o tipo de dança que você conhece.
Recuei e comecei a voltar para a sala.
- Te vejo depois então. Dei de ombros. Não pude evitar ficar decepcionada.
- Espere. Sua voz um pouco mais alta.
- Me dê apenas um minuto.
- Mudou de ideia?
- Sim. Ele abriu a porta do quarto. -Apenas preciso me livrar de toda esta tinta primeiro. Me mostrou mãos coloridas e entrou fechando a porta outra vez.
Esperei no corredor, observando alguns quadros, brincando com uma das flores do imenso buquê no vaso sobre um aparador.
Depois de um curto período, Ruggero saiu do quarto mais alinhado, seu cabelo estava levemente úmido, uma camisa limpa embaixo do casaco.
- Assim está melhor. Disse ao se aproximar.
- Não sei se eu concordo... gostei muito de vê-lo mais desalinhado.
Muito mesmo!
- Perdoe-me, o que disse? Ele franziu a testa, a mancha rosa ainda estava ali.
Mordi o lábio para não rir.
- Sua testa está rosa. Se Madalena te visse agora, iria pensar que é algum tipo novo de doença que faz as pessoas mudarem de cor.
- Onde? Perguntou levando a mão a testa. - Bem aqui. Toquei sua testa e friccionei levemente, mas a tinta não saiu.
- Acho que terá que lavar com sabão, a tinta está seca.
Rápido como o bote de uma cobra, seus braços me envolveram e, de repente, eu estava colada a ele.
Tentei empurrá-lo para me livrar do abraço, mas Ruggero era mais forte que eu.
- Agora, senhorita, me diga exatamente quanto! E sorriu.
Tentei mover suas mão de minha cintura, mas não consegui mover nem
mesmo um de seus dedos.
- Pare de brincadeiras, Ruggero, alguém pode nos ver. Pedi inquieta.
Seu sorriso se alargou.
- A soltarei assim que me disser o quanto. Seus olhos brilhavam, o sorriso de fazer meu coração parar de bater.
- Quanto o que? Perguntei exaurida.
Se Malena viesse procurar por ele e nos visse agarrados daquele jeito, depois de tudo o que contei a ela...
- O quanto gosta de mim! Disse divertido. - Você me disse que gosta e que eu nem imagino o quanto!
- Ruggero! Me solte e pare de brincadeira. Estava ficando com medo. Meu corpo começava a perder o controle outra vez, e estávamos sozinhos no corredor cheio de portas e com quartos cheios de camas.
- Malena pode aparecer...
- Então, me conte! Pediu com a voz intensa e suplicante, a diversão em seus olhos foi substituída por alguma emoção que não pude ler.
- Por favor, me diga.
- Não digo até que me solte!
Proferi desesperada, minha pele pinicava, meu nariz cheio do aroma de sua pele, tão masculina turvava meus
pensamentos.
- Karol. Ele sussurrou, se inclinando rapidamente para me beijar.
Tentei detê-lo, mas seu súbito ataque me pegou de surpresa e não consegui afastá-lo a tempo.
Obviamente, quando sua boca encontrou a minha, meu corpo reagiu imediatamente e minhas boas intenções caíram por terra, e lá estava eu, outra vez, agarrada a ele de forma nada educada, sem me importar se o mundo fosse acabar ou se alguém nos veria. Parecia que a cada vez que ele me beijava, uma nova parte de mim despertava.
Eu era inteiramente nova, uma outra pessoa, uma pessoa mais feliz e completa.
Não sei bem como acabei presa entre ele e a parede, os botões do vestido cravados em minhas costas, mas fiquei extremamente satisfeita.
Suas mãos deixaram minha cintura e deslizaram por meu corpo, subindo e descendo por minhas costas, rodeando a lateral do meu quadril, descendo até minhas coxas. Instintivamente, levantei minhas pernas e as prendi em seu quadril. Ele me apertou ainda mais contra a parede fria.
Tudo ao meu redor começou a girar enquanto seus lábios brincavam em meu pescoço.
- Ruggero. Arfei, trazendo sua boca de volta para minha.
Minhas mãos, por vontade própria desvendavam a musculatura firme de seu peito, sua barriga chata, seus ombros largos, o calor que irradiava dele me queimava, me deixando completamente maluca e eu queria desesperadamente que sua camisa se desintegrasse.
Ele encontrou um caminho por dentro de minha saia, sua mão subiu lentamente pela lateral de minha coxa e apertei ainda mais minhas pernas em seu quadril, o trazendo para mais perto.
Presa a ele daquela forma, eu não tinha para onde escapar.
Eu não quis escapar!
Desci minhas mãos por sua barriga, procurando pelo botão, e acabei encontrando outra coisa.
Uma coisa muito maior que um botão!
Ruggero gemeu.
Seus beijos se tornaram mais sérios, ainda mais urgentes e fiquei feliz demais quando ele tentou alcançar os botões em minhas costas.
- Rã-Rã...
De repente, Ruggero me soltou. Escorreguei pela parede e acabei no chão, com a parte de trás da saia enrolada na cabeça.
- Ah! Desculpe-me, Karol. Digo, senhorita Karol. Senti suas mãos tentando me desembrulhar. Sua voz estranha.
- Ruggero... Tentei me desenrolar do tecido.
- O que...
- Desculpe-me, senhor.
Quando pude ver alguma coisa, vi apenas as costas de um homem mais velho. O mordomo. Gomes, me lembrei. -Não tive a intenção de interrompê-los. Vim avisá-lo que as bebidas para o baile acabaram ser entregues, pensei que gostaria de conferir a qualidade como é seu costume.
Ai, droga!
Droga! Droga! Droga!

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