- Err.. Eu... Vou num minuto, Gomes.
Ruggero não sabia bem o que fazer: se me acudia ou se levava o homem dali.
- Apenas vou... ajudar a senhorita Karol chegar até a sala e me encontro com você na adega.
Ainda de costas, o homem disse:
- Sim, senhor. E se retirou rapidamente.
Ruggero estendeu as mãos para me ajudar a ficar de pé, aceitei sua ajuda sem hesitar.
- Você está bem? Perguntou preocupado. Suas mãos separaram as mechas de cabelo que cobriam meu rosto.
Não, eu quis dizer. Não estou bem.
Não estarei bem até que me beije outra
vez!
- Ótima! Ofeguei.
Arrumei o vestido e passei as mãos pelos cabelos, tentando me recompor.
Estava claro que esse tipo de coisa.
Ruggero e eu sozinhos em qualquer lugar não estava dando certo.
- Você acha que ele vai contar pra alguém? Perguntei preocupada com Malena.
Ele tocou delicadamente uma mecha de cabelo que teimava em cair nos meus olhos e a colocou atrás da orelha.
- Não se preocupe com isso, Gomes é muito discreto, faz parte de seu trabalho ser discreto. Sorriu.
Afastei-me um pouco dele.
- Não quero te causar problemas. Recuei um pouco mais.
- E não causou. Se me lembro bem, fui eu quem começou isso. Ele me observava atentamente.
- Por que está se afastando como se eu fosse perigoso?
A distância agora era de alguns passos.
- Por que dessa forma, poderemos conversar civilizadamente sem acabar... Do jeito que acabou agora pouco.
Falei envergonhada.
Ele riu.
- Acho que tem razão. Correu uma das mãos em seus cabelos.
- Creio que precisamos conversar sobre o que está acontecendo entre nós dois. Você não pode mais fugir do que sente.
- Eu sei. Concordei, pensando na conversa que tinha tido com Ana na sala de música.
Ele precisava saber da minha história, toda a história, para poder entender que eu não era livre para decidir nada.
- Preciso te explicar muita coisa, mas não agora, Malena está me esperando e você tem que ver as bebidas...
Eu estava presa à parede outra vez. Dessa vez, apenas pela parede, ele não
pareceu satisfeito em adiar a conversa.
- Outra hora, então. Disse, solenemente -Vou acompanhá-la até a sala de jantar para que Malena não se preocupe mais. Ofereceu-me seu braço.
Sacudi a cabeça. Suas sobrancelhas arquearam.
- Você vai daí. Indiquei a outra parede.
- E eu vou daqui. Essa casa tem muitos corredores iguais a este.
Esclareci meio sem graça.
Ele sorriu,
- Não vou atacá-la, Karol.
- Mas talvez eu te ataque. Sorri também. -Melhor não arriscar! Ele assentiu, ainda sorrindo.
Andamos alguns passos em silencio, eu
espiava seu rosto de vez em quando e sempre encontrava seus olhos me
observando, depois de um tempo, Ruggero resolveu falar.
- Então irá até a vila esta tarde? Perguntou casualmente.
- Vou. Acho que Malena não me deu outra opção.
- Pode ficar aqui comigo se quiser. Ele se aproximou.
- Já prometi que iria. Menti, era melhor evitar a tentação de ter a casa só para nós dois outra vez.
Ele continuou andando, colocou as mãos no bolso e se aproximou um pouco mais.
- Talvez depois do jantar possamos conversar. Sua voz mais baixa me causou calafrios.
- Talvez. Ou amanhã durante o dia, num lugar onde não tenha portas nem paredes.
Com certeza, seria mais prudente se, pelo menos, não tivéssemos a facilidade de tantos quartos ao alcance das mãos.
Ele se aproximou mais, as mãos ainda dentro dos bolsos, mas nossos cotovelos se tocavam. De repente, um pensamento desagradável encheu minha cabeça.
Eu parei e o puxei pelo braço fazendo com que ficasse de frente para mim.
- Ruggero, preciso te dizer uma coisa!
- Diga! Observei seu rosto atentamente.
- Você já sabe que eu... dormi com alguns homens. Não muitos.
Me apressei, ainda observando sua reação.
- Mas alguns.
Seus olhos ficaram tristes, não era bem o que eu estava esperando.
- Por acaso, você não estaria imaginando que eu me comporto com todos os homens que encontro pela frente da mesma forma que ando me comportando com você, estaria? Seu rosto escureceu, como uma tempestade de verão.
- Acha que estou querendo me aproveitar de você pelo fato de saber que já foi de outro homem?
Rosnou, trincando os dentes.
- Conheço muitos tipos de homens, não seria uma surpresa se fosse assim, afinal.
Ele agarrou meu braço com força, mas não a ponto de me machucar, me impedindo de sair do seu campo de visão.
- Não sei que tipo de homem você conhece, mas eu não sou um aproveitador! Você é tão cega assim, Karol? A fúria e o desespero em sua
voz me deixou alarmada.
- Não pode ver o que eu sinto por você? Eu jamais a trataria de forma tão desonrosa se eu não estivesse tão.., tão...
Ele parou e sacudiu a cabeça, depois soltou meu braço e recuou.
Eu fiquei paralisada, de medo, de espanto e de ansiedade também, queria que ele concluísse. Se eu não estivesse tão... Apaixonado? Assim como eu estava?
- Desculpe-me. Parece que não estou sendo muito claro com você.
E nem posso culpá-la por não entender o que eu sinto, não depois de tê-la tratado de forma tão abominável.
Ele me encarou, a raiva ainda em seus olhos, mas agora se misturava com angústia.
- Realmente, precisamos ter uma conversa definitiva!
Concordei com a cabeça, incapaz de dizer qualquer coisa, ele se virou para
o corredor, andou apenas um passo e depois voltou rapidamente até onde eu estava, ainda estarrecida e grudada no chão.
- Perdoe-me, Karol. Ele disse, tocando o local em meu braço onde sua mão esteve agarrada até alguns segundos atrás.
- Tudo bem. Sussurrei.
- Não me machucou, nem nada disso,
Ruggero sorriu tristonho.
- Não estou me saindo muito bem. Mas essa é a primeira vez que me apaixono. Sorriu timidamente.
Senti um tremor percorrer cada centímetro de meu corpo, a emoção que me dominou me deixou entorpecida.
E, antes que eu pudesse dizer qualquer
coisa, antes mesmo de poder piscar, suas mãos se encaixaram em meu queixo e seus lábios pressionaram os meus delicadamente, então me soltou, cedo demais pro meu gosto, e suspirou.
- Até depois.
Ele estava apaixonado por mim!
Por mim! Ele me queria tanto quanto eu o queria e, assim como eu, era a primeira vez. Tentei recuperar o fôlego pra poder dizer que eu também estava louca por ele, contudo, não consegui responder a tempo.
Quando finalmente o ar voltou aos meus pulmões, Ruggero já tinha desaparecido no corredor.
Ele estava apaixonado por mim!
A alegria era tanta que eu queria sair gritando para os quatros cantos.
Respirei fundo algumas vezes para me recompor, meu sorriso imenso e
involuntário se espalhou em meu rosto.
Ele estava apaixonado por mim!
Não conseguia parar de repetir as palavras, meu coração quase explodindo de tanta felicidade.
Um novo tipo de felicidade, muito mais intensa, prazerosa, importante e maravilhosa!BSS. BSS. BSS.
O zumbido fraco, quase um sussurro, mas que eu conhecia bem, ecoou no
corredor.
Disparei para o quarto, quase derrubando a porta ao entrar, corri para o celular. Minha mão tremia.Fase três: completa.
Bem vinda ao novo nível Esteja preparada.Ah! Não!Ah! Não!
Não agora! Não agora que Ruggero...
Estava apaixonado por mim!
Horror, dor e medo me invadiram de uma só vez. O que foi que eu fiz?
Iria magoá-lo tanto! E eu sabia disso! Sempre soube disso! E por que novo nível?
Eu nem sabia o que tinha feito para acabar o nível anterior! Já não sabia mais o que eu queria de verdade.
Mas tinha certeza do que eu não queria. E eu não queria machucar Ruggero.
Não sabia ao certo o que "esteja preparada" significava, mas minha intuição me dizia que era minha volta
para casa.
Um bolo no estômago me impediu de respirar, me agachei perto da poltrona abraçando os joelhos e deixei que as lágrimas corressem livremente, enquanto uma dor profunda e cortante atingia meu coração.
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Meu lugar
FanfictionA garota da cidade grande, independente que gosta de praticidade, tudo para ela tem que ser moderno e que não dê trabalho. Mas vê sua vida virar de ponta a cabeça e embarcar em uma grande batalha para alcançar sua liberdade o que ela não sabia é que...