Parte 5

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Segurei o pequeno aparelho prateado nas mãos e apertei a tecla liga.
Nada aconteceu, virei o telefone em busca de algum outro botão, mas não
encontrei nada. Apertei a tecla verde novamente.
Nada! Mas que droga! Não me admira custar tão pouco.
Não funciona! Talvez fosse esse o motivo da vendedora agir de forma tão estranha e relutante. Ela sabia que estava quebrado.
Cheguei à praça praticamente deserta e tentei mais uma vez. Nada!
Nada!
Girei nos calcanhares para voltar até a loja e dizer umas coisinhas para aquela vendedora esquisita enquanto apertava freneticamente o botão verde.
Então, de repente, a tela se acendeu. Gradualmente, foi ficando mais clara
até se tornar insuportável e eu não consegui mais olhar para ela.
Parecia que tudo ao meu redor foi envolvido por aquela luz insuportavelmente forte e branca.
Cega pela luz, acabei tropeçando em alguma coisa e cai no chão.
Aos poucos, vagarosamente, a luz enfraqueceu e tentei ajustar o foco dos
olhos, mas ainda não era capaz de enxergar nada.
Alguns minutos se passaram antes que eu pudesse recuperar minha visão. Quando finalmente meus olhos voltaram ao seu estado normal, vi a pedra em que meu pé se enroscou, a grama debaixo de meu corpo, a luz do sol, natural e
confortável outra vez.
O que foi aquilo?
O celular devia ter pifado ou coisa assim. E por que toda aquela luz?
Parecia ter saído dele, mas não poderia ser isso, poderia? Não tinha ouvido
nada sobre luzes ofuscantes nos novos aparelhos, talvez tivesse entrado em
curto.

Ainda no chão, olhei para o celular, que estava apagado outra vez.
Foi então que percebi que algo estava diferente. Muito, muito diferente!
Olhei em volta com assombro.
Meus olhos procuravam por qualquer coisa familiar, qualquer coisa que deveria estar ali. Que deveria estar ali e que não estava!
Onde estavam os prédios? Onde estava a rua? Onde estava a praça em que
tropecei meio minuto atrás? Perguntei-me desesperada.
Eu me encontrava no chão de um vasto gramado, como um campo de futebol,
apenas uma árvore de médio porte a alguns metros, notei uma estreita estrada de terra batida onde deveria estar a rua.
Eu devia ter batido a cabeça com muita força! Só poderia ser isso!
Olhei freneticamente em todas as direções e nada estava ali. Nada!
As pessoas, a cidade, tudo havia sumido.
Quanto eu bebi noite passada? Talvez ainda esteja bêbada! Isso.
Com certeza, bêbada!
Eu não conseguia me mover, me levantar e provar que estava tão embriagada que não podia sequer ficar de pé, que estava tão doida que tinha feito tudo desaparecer.
Fechei os olhos e os apertei bem forte, rezando para que, quando os abrisse novamente, tudo voltasse ao normal.
Então ouvi um barulho, abri os olhos rapidamente.
Avistei um homem em cima de um cavalo marrom claro vindo em minha direção. Estreitei os olhos para entender o que estava vendo.
Realmente era um homem e um cavalo!
Continuei a observar enquanto ele se aproximava e notei que o cavalo
diminuía sua corrida.
Diminuiu um pouco mais até parar bem perto de onde eu estava.
Olhei para o homem, completamente confusa.
Suas roupas eram muito esquisitas e antigas. Muito, muito antigas! Vestia um casaco escuro e comprido, um colete sob ele, gravata ou talvez fosse um lenço branco amarrado no pescoço e botas pretas na altura dos joelhos.
Ele estaria indo para alguma festa à fantasia? Ou um casamento temático, talvez?
Fiquei observando o rapaz enquanto ele descia de seu cavalo com uma expressão preocupada no rosto.
- Você está bem, senhorita?
Ele perguntou, se agachando ao meu lado. Continuei a encará-lo de boca aberta, seus olhos procuraram alguma coisa ao redor.
Assim como eu, também não encontrou nada ali, apenas a árvore, a pedra e eu, ainda caída no chão.
Ele voltou a observar meu rosto, depois
seus olhos avaliaram o resto de mim e sua cara assumiu um tom avermelhado quando examinou minhas pernas. Rapidamente, voltou a me encarar, sua face confusa.
- Você está bem, senhorita? Ele repetiu.
Minha cabeça girava, me deixando tonta.
- O-o que? Respondi pateticamente.
- Tem um ferimento na cabeça, está sangrando muito. Ele moveu sua mão em direção à minha testa, mas não me tocou.
Estava tão confusa que não notei, a princípio, a umidade quente e pulsante
em minha têmpora.
- Ah! Eu disse tocando minha testa debilmente. Doeu um pouco.
Então, eu não estava sonhando! Ou tendo um pesadelo.
- O que aconteceu? Parece assustada e... suas roupas... Hã...
- Cadê a cidade? Perguntei, com a voz quase sem som.
-Foi de lá que a senhorita veio? Sua testa franziu.
- Como foi que eu vim parar aqui? Como tudo sumiu tão depressa? Cadê as pessoas? Disse eu, agarrando com as duas mãos a gola de seu casaco.
Olhei em volta, procurando uma forma lógica para explicar o que estava
acontecendo, mas não havia nada ali, além da paisagem rural, estava
assustada demais para entender qualquer coisa.
O rapaz se espantou um pouco com minha reação, mas o que mais eu poderia fazer, além de ter um
ataque?
- Melhor levá-la até minha casa e chamar o médico, depois arrumarei uma carruagem para levá-la até sua casa.
Seus olhos me fitavam de uma forma muito estranha.
Era muito intenso.
Fiquei zonza, e soltei seu casaco
imediatamente.
Um médico seria bom. Talvez ele me desse alguma coisa que me fizesse
acordar ou sair daquele pileque mais depressa.
- Posso ajudá-la a se levantar, senhorita?E estendeu suas mãos, para que eu as usasse como apoio.
Apenas assenti, confusa. Tinha certeza que não conseguiria ficar de pé sozinha, de toda forma. Meus joelhos pareciam feitos de gelatina.
Estiquei meus braços para pegar suas mãos, quando o que ele disse entrou no
redemoinho de pensamentos.
- Carruagem?
- Talvez seja mais prudente permitir que o Dr. Almeida lhe examine primeiro. Um ferimento na cabeça pode ser muito perigoso.
- Não é nada. Afirmei.
- Nem sei como aconteceu, você também viu aquela luz? Perguntei, ansiosa para poder encontrar o sentido daquilo tudo.
Ele pareceu confuso.
- Luz? Refere-se à luz do sol?
- Não! Sacudi a cabeça.
- A luz branca insuportável que fez tudo
desaparecer!
Ele sacudiu a cabeça lentamente.
Eu fui a única que vi, então?
- Vejo que está um pouco atordoada! Vamos até minha casa, descanse um pouco e, depois que falar com o médico, prometo que farei o possível para ajudá-la, está bem? Sua voz baixa e rouca, os olhos intensos, não me deixaram outra escolha.
Eu nem mesmo tinha outra escolha.
- Tá. Murmurei.
Ele alcançou minhas mãos e me ajudou a levantar.
- Não é prudente que uma jovem como a senhorita fique sozinha neste lugar, ainda mais com seus trajes nestas condições. Ele passou a mão em minha cintura para me dar apoio e começou a me conduzir até seu cavalo.
Senti algo muito estranho quando ele me tocou.
Tipo um déjavú ou como se já nos conhecêssemos de algum lugar, fiquei ligeiramente sem equilíbrio.
- Por que está vestido desse jeito? Perguntei, tocando seu casaco.
- Estava indo para alguma festa?

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