Seus lábios tocaram os meus delicadamente, os dedos em minha nuca se apertaram minimamente, fiquei em chamas, minha pele ardia ansiando por seu toque, um fogo denso e abrasador que me dominou acabando com qualquer resistência.
Passei meus braços em seu pescoço e me apertei contra ele.
O beijo que havia começado de forma suave e delicada se tornou mais intenso, urgente depois disso, senti seu braço se estreitar em minha cintura e, apesar de não haver uma única parte de mim que não estivesse colada a ele, ainda assim não era o bastante.
Separei um pouco meus lábios tentando tomar fôlego e, para minha surpresa, encontrei sua língua começando uma atrevida exploração em minha boca. Uma pequena parte do meu cérebro, talvez a parte que eu usasse para virar as páginas de revistas, ficou maravilhada com esta descoberta.
Sim! O beijo de língua já existia sim!
Todo o resto de mim se concentrava nele.
Senti algo diferente enquanto nossos lábios e línguas se moviam.
Alguma coisa dentro de mim ligou, como se eu estivesse adormecida há muito tempo e acordasse só agora, como se um novo órgão de importância vital começasse a funcionar apenas naquele instante, vinte e quatro anos depois de meu nascimento, nos braços de Ruggero.
Ele tinha razão.
Existia o “nós”, eu não sabia dizer desde quando, mas existia. E era forte!
Tão forte que talvez me quebraria em duas quando eu voltasse para casa.
E eu sabia que voltaria, sentia que voltaria, e meu coração se despedaçaria.
Talvez o dele também.
Meus olhos repentinamente ficaram úmidos e lutei até conseguir me afastar
dele. Não por que ele me impedisse, mas meu corpo relutava em deixá-lo.
- Não! Gritei, tentando recuperar o fôlego.
- Karol... Ruggero ficou tão surpreso quanto eu com minha reação.
- Não. Não diga mais nada, Ruggero, eu não quero ouvir mais nada!
Me afastei um pouco mais. Meu corpo tremia, querendo desesperadamente
voltar para o seu abraço quente.
- Não posso me envolver com você! Não
quero magoá-lo, e eu irei magoá-lo por que sei que vou voltar para casa!
Fiquei tão confusa enquanto estava em seus braços, a sensação de conforto e proteção me inundaram tão fortemente que, por um instante, pensei que já estivesse em casa.
- Karol. Ele se aproximou, uma mão erguida para tocar meu rosto. Eu recuei. - Tudo bem! Levantou as mãos espalmadas como quem se rende.
- Não vou tocá-la, esta vendo? Por favor, Karol, perdoe-me. Eu fui um tolo pretensioso. Pensei que...
- Você pensou que eu estivesse... atraída por você. Pensou que... Que...
Eu quero tanto tocar você que perco a noção de certo e errado.
Que quando você me toca é quando me sinto mais viva, e que quando me beijou, foi como se finalmente minha vida começasse! Que até agora eu estive adormecida esperando que você me despertasse.
Eu lutava bravamente contra as lágrimas que teimavam em sair.
- É assim que se sente? Perguntou, me encarando profundamente.
Mais lágrimas inundaram meus olhos e, dessa vez, não pude mais contê- las.
Abri os braços, exaurida.
- Faz alguma diferença?
Vi pela expressão de seu rosto, de dor, prazer, angústia, que ele havia entendido, não pude mais ficar ali.
Corri em direção a casa, levantando o
vestido para ser mais rápida.
Corri até meus pulmões queimarem.
Tranquei-me no quarto, ignorando as caras de espanto dos empregados quando me viram atravessar a casa correndo com a saia erguida.
Encostei- me na porta, ainda sem fôlego.
O que foi que eu fiz?
Deixei meu corpo cair no chão e não segurei as lágrimas que vieram.
Não sabia ao certo por que chorava: se era por mim, por Ruggero, ou pelo “nós” que jamais existiria.
Ou se chorava simplesmente porque queria desesperadamente voltar para os seus braços outra vez.
Nina tinha razão, eu nunca me apaixonei antes. Nunca me senti tão vulnerável,
fraca e tola como naquele momento, a primeira vez, eu não sabia lidar com o que estava sentindo. Mas sabia, com cada fibra do meu corpo, que a agonia só acabaria quando eu estivesse nos braços de Ruggero novamente.
BSS. BSS. BSS.
Levantei a cabeça dos joelhos e encarei minha bolsa.
O que era agora?
Rastejei até ela e peguei o celular.
Nova mensagem?
Desconfiada, apertei o botão verde.
Fase dois : Completa.
Não tive reação alguma, apenas olhei para a tela, li e reli a mensagem até ela se apagar e desligar totalmente.
Eu não pude entender. Tudo bem que a
conversa com Santiago foi um pouco... Bem pouco esclarecedora.
O celular que pensei ter visto em sua mão era a prova de que ele também
estava naquela enrascada.
Mas ela foi muito enfática quando me disse que eu só voltaria se encontrasse o que eu procurava.
E, certamente, o que eu estava procurando não era a outra pessoa perdida ali, mas sim algo misterioso e oculto, algo importante apenas para mim...
E então, como se uma luz de emergência se acendesse, me lembrei do que disse a vendedora quando me ligou pela primeira vez.
E finalmente começar a viver sua vida!
Depois de ter beijado Ruggero, eu disse exatamente como eu me sentia, praticamente usando as mesmas palavras.
E quando me beijou, foi como se finalmente minha vida começasse.
Será isso? Ruggero, de alguma maneira, poderia me levar de volta?
A primeira mensagem chegou quando Ruggero e eu voltamos da vila.
Ruggero estava comigo.
A segunda mensagem chegou depois do jantar em que conheci Santiago, depois que Ruggero e eu conversamos.
Ruggero estava comigo.
E a ultima chegou instante depois de termos nos beijado. Obviamente, Ruggero também estava comigo.
Então seria Ruggero? Mas como me apaixonar por ele poderia me ajudar de alguma forma?
Pensei sobre isso por um tempo, mas é claro que não consegui ver o que estava bem na minha frente. Talvez a jornada fosse Ruggero.
Mas, se fosse isso, se me apaixonar por ele fosse o motivo real de eu estar presa no passado, como poderia voltar para casa e deixá-lo?
Não fazia sentido! Não poderia ser Ruggero.
Então o que era?
Uma vez que eu resolvesse o mistério, sabia que estaria em casa outra vez.
Já estava ali há quatro dias e ainda não compreendia o que a tal jornada
significava, tentei unir as outras pistas que eu achava que tinha: Santiago, Ruggero, o celular e, talvez, meu livro. Nenhuma delas tinha ligação.
Santiago e Ruggero não se conheciam anteriormente é claro. Ruggero não conhecia um celular e nem, aparentemente, Jane Austen. Santiago talvez conhecesse as duas coisas.
Então onde Ruggero entrava na equação?
Talvez, quando estivesse mais calma, ligaria os fios soltos que agora me
escapavam. Guardei o celular de volta na bolsa e me levantei, decidida.
Eu não era disso, ficar sentada chorando e me lamentando.
Eu lutava. E agora lutaria ainda mais para tirar Ruggero da cabeça, se eu era capaz de aturar o intolerável Gary todos os dias, suportaria conviver com Ruggero que era mais gentil e doce e lindo e forte e... Por isso mesmo, muito mais difícil. Por alguns dias.
Lavei meu rosto, ajeitei o cabelo, eu precisava dar um jeito nele, no cabelo e marchei para o corredor.
Para me distrair, tentei me concentrar em coisas mais simples mantendo Ruggero longe dos meus pensamentos. Coisas mais simples como fazer um
condicionador.
Contudo, não era tão simples assim conseguir um no século dezenove.
Uma vez, numa das muitas maluquices de Nina, na primeira viagem que ela fez para o exterior, a doida resolveu que tinha que ser para a Indonésia, ela cismou que o condicionador caseiro que as indonésias usavam era muito melhor que os caros de perfumaria.
Servi de cobaia na época e o resultado até que foi satisfatório.
Nem de longe tão bom quanto os cosméticos que eu usava, mas para o que eu estava usando, detergente sem nada para hidratar, a gosma da Nina era melhor que nada.
- Madalena, você conhece leite de coco? Eu já tinha encontrado as outras frutas.
- Leite de coco? Leite?
- Já vi que não! Sem leite de coco. Humm...
Mas tinha coco na imensa fruteira!
E a água de coco era hidratante, pelo
menos os médicos a indicava em caso de diarréia, se a água era capaz de hidratar por dentro, por que não por fora?
Valia a pena arriscar!

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Meu lugar
FanfictionA garota da cidade grande, independente que gosta de praticidade, tudo para ela tem que ser moderno e que não dê trabalho. Mas vê sua vida virar de ponta a cabeça e embarcar em uma grande batalha para alcançar sua liberdade o que ela não sabia é que...