Fui até o apartamento de Nina no final de semana, pra conhecer o “novo” ninho de amor do casal, onde fui informada que se casariam oficialmente no próximo mês.
- Quem sabe você pega meu buquê, Karol. Nina tentou me animar.
Ela me conhecia bem para saber que eu não estava nada bem.
- Quem sabe. Concordei, desanimada.
Tem uns caras bacanas do Jiu-Jitsu que talvez você goste.
Se quiser, posso te apresentar a algum deles. Gaston ofereceu. Nina contou a ele que eu estava apaixonada, para explicar as minhas ações tão atípicas nos últimos
dias. Mas é claro que ela não contou a ele que Ruggero não morava naquele mesmo século. Gaston pensava que eu tinha tomado um belo pé na bunda.
- Não, não. Valeu pela oferta, mas não, obrigada!
Gaston foi até a cozinha pegar os pratos para comermos a pizza.
Ele ajudava Nina em tudo, fiquei surpresa.
- Ele começa a trabalhar nesta segunda. Ela me confidenciou, orgulhosa.
- Isso eu tenho que ver! Quem foi o maluco que deu emprego pra ele?
- Foi o Zezão. O Gaston vai ser personal na academia dele.
- O salário até que é razoável e ele pode acabar conseguindo uns por fora!
Sorriu entusiasmada.
- Bacana! Fiquei fora alguns dias e o Gaston está trabalhando, casando... e
eu não estou trabalhando.
O mundo tá mesmo de pernas pro ar! Tentei brincar, mas não me sentia muito animada. Nina notou isso.
- Ah! Karol! Ela lançou seus braços ao meu redor e me apertou firme.
- Não podia se apaixonar por alguém mais acessível? Disse, meio brincando, meio lamentando.
- Não tive escolha, Nina. Não sei como viver sem ele. Tenho que encontrá-la a qualquer custo. Eu tenho que encontrar a tal mulher! E muito rápido.
- A cada dia, ficava mais insuportável respirar.
- Humm. Ela resmungou.
- E nós vamos encontrá-la.
Vamos procurar em cada canto do planeta. Você não vai passar o resto da vida sofrendo assim! Afirmou convicta.
- Valeu, Nina! Eu me apertei mais contra ela.
- Eu te adoro.
Voltei para casa tarde da noite e, dessa vez, sóbria.
Ainda era muito cedo.
A cidade começava a despertar.
Dirigi pelas ruas semi desertas até o apartamento de Nina.
- Pra onde vamos assim tão cedo? Você encontrou alguma coisa? Perguntou, entrando no carro com rapidez.
Eu não tinha encontrado nada.
Mal dormi na última noite, mas o pouco
tempo em que estava inconsciente eu sonhei com Ruggero. Estávamos em casa, na casa dele e conversávamos sobre seus cavalos. Ele estava animado, sorridente, feliz. Seus olhos brilhavam e seu sorriso me hipnotizava. O mesmo de sempre! Mas, então, de repente ele começou a se
distanciar.
O sofá no qual estávamos sentados começou a se esticar e Ruggero ficava cada vez mais longe.
Eu tentei gritar, chamar por ele, mas minha voz não saiu, ficou presa em meu peito. Tentei me levantar para alcançá-lo, mas minhas pernas pareciam feitas de chumbo e eu não pude movê-las.
Ele continuava se distanciando, até que, finalmente, foi engolido pelas sombras. Acordei com o coração batendo rápido, com lágrimas nos olhos e o grito ainda preso em minha garganta.
A dor me apunhalou fundo quando percebi que ainda estava em meu
apartamento. Sem pensar, liguei pra Nina para encontrá-la.
- Não, Nina, não encontrei nada, mas eu preciso ir até lá.Até a casa dele.
Não vou conseguir fazer isso sozinha. Talvez tenha alguma pista ou... sei lá!
Eu preciso ir até lá!
- Acha que a casa ainda existe?
Ela perguntou, descrente.
- Espero que sim. Eu disse, pisando no acelerador. Refiz o caminho para a casa de Ruggero, bem diferente agora com avenidas pavimentadas e semáforos me perdendo inúmeras vezes antes de encontrar uma ruela estreita.
Depois de um tempo, avistei a casa, uma pequena chácara no meio da cidade grande. Era a mesma casa, deteriorada pelo tempo, acinzentada, mas era a mesma, eu tinha certeza.
Minhas mãos começaram a tremer, pensei que a dor fosse me rasgar em duas. Nina percebeu.
- É ali? Assenti. Parei o carro perto das escadas envelhecidas sem saber bem o que fazer. Não me importava se o dono chamaria a polícia ou se me levariam
para a ala psiquiátrica outra vez, eu tinha que entrar lá.
- O que pretende fazer? Nina indagou, observando a casa imponente.
- Eu não sei. Só quero... Só preciso entrar lá! Ver que tudo foi real e...
Sacudi a cabeça. Eu não sabia o motivo, mas eu tinha que entrar naquela casa. Era como se me chamasse.
Saí do carro decidida, subi os degraus até alcançar a porta. Nina me seguiu.
Eu bati e esperei.
- O que vai dizer? Por acaso, o Ruggero ainda mora aqui? Ela sussurrou, meio apavorada.
Não tive tempo para responder.
A porta se abriu, um rapaz de cabelos cor de areia, estatura média e olhos de um castanho escuro familiar nos observou.
- Oi! Comecei insegura.
Será que posso entrar e ver se o cara que eu amo está aí dentro? Você o conhece? Ele mora em 1830!
- Eu...Tudo b...
Para minha surpresa, o rapaz sorriu.
- Karol Sevilla! Disse de forma muito segura.
Minha boca se abriu.
Os olhos de Nina se arregalaram. Demorei um pouco para responder.
- S-sou eu. Como sabe? Perguntei, ainda em choque.
- Entrem. E se afastou para nos dar passagem. Senti meu coração se encolher dentro do peito ao ver a sala de visitas agora mobiliada com moveis atuais e uma grande TV de plasma bem ao centro dela. Tudo estava diferente, todos os móveis eram contemporâneos, atuais. Até a cor das paredes era diferente.
Também vazia, como eu.
- Estamos esperando por você há muito tempo. Há séculos, na verdade!
Eu nem acreditava nas histórias, mas...
Ele esticou os braços apontando para mim e sorriu eufórico.
- Você está aqui!
E como gostaria de não estar! Estar em casa com Ruggero conversando sobre
qualquer idiotice. Ou até mesmo estar assistindo Ana discursar fervorosamente sobre a importância da fita no chapéu.
- Ouvi muito sobre você. Ele disse, animado.
- Ouviu? Uma centelha de esperança se acendeu
- Vem comigo. Ele indicou o caminho.
Fui na frente, olhando de vez em quando para ele e Nina que parecia aparvalhada, olhando para todos de boca aberta pra ver de que lado ir.
Contudo, depois de algumas portas, eu sabia para onde seguíamos.
Para o meu quarto.
A porta estava trancada.
- Esperem um minuto, vou pegar a chave. Disse o rapaz, saindo pelo corredor que levava até cozinha.
Toquei a porta envelhecida.
A mesma porta que tentei fechar e Ruggero me impediu.
A mesma que arrombou quando pedi a navalha e ele pensou que eu fosse suicida. Tentei me controlar um pouco, respirando fundo diversas vezes, tentando juntar meus cacos.
Era doloroso demais estar ali sem ele,
sem os móveis, sem Malena.
- Conhece este quarto? Nina inquiriu, minha mão ainda na porta.
- É o meu quarto, Nina. Sussurrei.
O rapaz que eu ainda não sabia o nome voltou e colocou a chave na porta.
- Este quarto fica trancado o tempo todo. Apenas a família tem acesso. Me explicou enquanto o abria.
Estava escuro lá dentro, o quarto não tinha luz elétrica como o resto da casa. Fiquei parada na porta, enquanto ele se enfiava na escuridão abrindo as cortinas pesadas.
Dei um passo, vacilante, sem saber o que iria encontrar ali. Nina me seguiu.
Logo fiquei sem ar.
- Puta Merda! Nina exclamou.
Estava tudo como antes.
Exatamente como eu o deixei!
A cama, a banheira, o frasco de xampu, a mesa com o vinho, a poltrona, até a roupa de cama era a mesma, mas agora tinha manchas amareladas causadas pela passagem do tempo.
Olhei em volta, sem saber o que procurava, quando encontrei.
Minhas pernas falharam.
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Meu lugar
FanfictionA garota da cidade grande, independente que gosta de praticidade, tudo para ela tem que ser moderno e que não dê trabalho. Mas vê sua vida virar de ponta a cabeça e embarcar em uma grande batalha para alcançar sua liberdade o que ela não sabia é que...