Parte 33

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- Senhor Pasquarelli, senhorita! Estão todos bem? O rapaz corria em nossa
direção, segurando o chapéu em uma das mãos.
Senti meu corpo voltar à terra firme, senti o peso dele novamente, senti que
era capaz de comandar meus movimentos outra vez.
Rapidamente me levantei, sacudindo a barra do vestido, tentando me recompor um pouco.
Ruggero ainda estava no chão, me encarando, estendi a mão pra ajudá-lo mas ele apenas me observava.
- Vem, Ruggero, levanta daí! O rapaz vai achar que você se machucou.
Seus olhos ansiosos se voltaram para o rapaz e, depois, de volta para mim.
- E você não está ferido, está?
- Não. Sua voz rouca e intensa.
Um arrepio percorreu minha coluna.
- Então, vem! Estiquei as duas mãos e agarrei seu braço. Ruggero era muito
pesado! Também, com toda aquela altura...
- Muito bem! Tem certeza de que está bem mesmo? Acha que pode andar?
- Estou bem. Murmurou, se endireitando, porém, não parecia ter tanta certeza disso.
- Oh! Senhor Pasquarelli...
O garoto ofegante nos alcançou.
- O cavalo... Fugiu... Estava atrás... Dele... Há horas... patrão.
Ruggero não disse nada, apenas encarava, confuso, o rapaz recuperar o fôlego.
- Errr... Storm não fugiu. Respondi, já que Ruggero não parecia ser capaz de fazê-lo. - Apenas saiu para um passeio, eu acho.
Estava ficando preocupada. Ruggero não abria a boca.
- Será que pode levá-lo de volta? Vou ajudar o R... Senhor Pasquarelli a voltar
para casa. Storm o derrubou.
- Minha nossa! Está ferido, patrão? Não deveria tentar montá-lo outra vez. Lembra-se da última tentativa quando...
- Não! Ele não tentou montá-lo!
Me apressei. Ruggero ainda me encarava
sem dizer nada.
- É que o cavalo se assustou quando eu tropecei e acabei... Acabei...
- Leve-o daqui, Isaac. Ruggero disse, a voz séria e firme.
- Está tudo bem comigo. Apenas leve-o e certifique-se de trancar o estábulo dessa vez. Suspirei de alivio. Ele estava bem!
- Sim, senhor! O rapaz correu até Storm que desta vez não deu trabalho algum e
rapidamente ambos corriam para o caminho de casa.
Comecei a andar também, querendo chegar o mais rápido possível na segurança da casa, já que Ruggero parecia estar bem.
Entretanto, sua mão agarrou meu pulso outra vez, me restringindo.
- Você não vai fugir desta vez! Pediu com a voz mais alta. Fiquei surpresa com a intensidade que ouvi nela.
- Não vou mesmo! Eu não fugi nem uma vez, não seria agora que eu faria isso. Retruquei petulante. Tentei puxar meu braço, mas sua mão era firme.
Não a ponto de me machucar, apenas firme o suficiente para que eu não conseguisse escapar.
- Eu estou com fome. Andamos por horas,
sabia? Agora, quer fazer a gentileza de me soltar?
Eu não conseguia pensar direito quando ele me tocava, e eu precisava pensar muito bem no que estava fazendo.
Não cometer erros. Não me meter em confusão.
Em mais confusão.
- Não. Respondeu simplesmente.
- Não? Puxei minha mão outra vez, mas ele não me soltou.
- Me solte! Agora!
- Não! Repetiu e rapidamente me puxou para mais perto. Tentei girar meu pulso na esperança de me libertar, mas um braço livre contornou minha cintura antes que eu pudesse perceber o que ele estava fazendo.
- Dessa vez, você vai ficar aqui comigo, Karol.
Olhei para ele atônita, meu coração bateu forte em meu peito.
- Do... Que... Você... Me... Chamou? Perguntei num sussurro, meus joelhos tremiam.
- Karol! Pensei que esse fosse seu nome! Um meio sorriso brincou em sua boca perfeita.
- Agora, ouça-me, por favor!
Gostei muito da forma como meu nome soou em seus Lábios. Gostei demais!
- Sobre o que quer conversar? Perguntei derrotada e, muito perturbada com sua proximidade.
- Sobre você e eu. Sobre nós dois.
O calor de seu hálito pinicou meu rosto. Eu não conseguia encontrar uma única parte de mim que quisesse realmente sair do seu abraço.
Nem uma única célula!
- Não existe nós, Ruggero, então, não temos nada para conversar. Respondi
fracamente, hipnotizada por seus olhos urgentes.
- Existe sim! Sei que você também sente alguma coisa quando estamos assim.
Ele estreitou o braço em minha cintura, fazendo meu corpo colar ainda mais ao dele, o que era praticamente impossível. - Não negue! Posso ver isso em seus olhos!
- Você precisa de óculos então. Tentei parecer firme, mas minha respiração acelerada fez minha sentença soar como um gemido.
- Não posso ter certeza do que você sente, é claro, mas eu sei que não é
indiferente a mim, que sente algo além de apenas gratidão e amizade, e sei, com muita exatidão, como eu me sinto.
- E como se sente?
Eu não queria perguntar, por não queria ouvir a resposta, tornava tudo mais difícil saber como ele se sentia, mas minha boca não deu ouvidos ao meu cérebro, e curiosa que só, perguntou mesmo assim.
- Sinto que posso... Flutuar quando estou com você, como se fosse capaz de realmente voar! Sinto-me completo pela primeira vez, Karol. Há uma força em você que me atrai, que me arrasta para perto, uma força inexplicável que turva meus pensamentos, não consigo pensar em nada mais, apenas em como seria tocar seu cabelo...
Ele afrouxou meu pulso e delicadamente deslizou os dedos em uma mecha perto do meu rosto.
- Segurar sua mão... Segurou minha mão por um momento, depois a colocou sobre o peito, sobre seu coração.
- Sinta o que acontece com meu coração quando estou com você.
Batia forte e rápido, assim como o meu.
Eu lutava para respirar.
- E quando não estou com você, meu peito fica vazio, como se meu coração se recusasse a bater até que lhe encontre novamente. Sinta! Ele diz Karol, Karol, Karol! Tem sido assim desde a primeira vez que a vi. Desde aquele instante percebi que não era mais dono do meu coração, que ele não me pertencia mais. Então ele tocou meu rosto, deslizou os dedos por meu pescoço e acabou os prendendo em minha nuca.
- Não diga que não existe “nós”!
E, lentamente ainda me prendendo com seu olhar, aproximou seus lábios dos meus, meu coração palpitava com tanta força que doía.
Pude sentir sua respiração quente contra minha pele, seu cheiro inebriante me cegando por um instante fazendo tudo ao meu redor desaparecer.

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