Parte 72

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- E já sabe que eu não entendo nada sobre comandar empregados, entreter
convidados e essas baboseiras todas.
Não sou uma jovem preparada!
- Ah! Não diga isso, senhorita, você consegue entreter qualquer pessoa que a conheça.
E seus talentos são infinitamente mais interessantes que os de qualquer outra jovem que eu conheço. Ruggero se virou até seu rosto ficar bem próximo do meu. - E então?
- Então o que? Repliquei, enquanto me deleitava com a visão de seu corpo nu. Ruggero era perfeito! O corpo mais perfeito que já tive o prazer de ver sem roupas. Tudo nele era perfeito, absolutamente tudo. Ele revirou os olhos.
- Será minha esposa?
- Sim! A esposa mais despreparada que alguém já viu.
- Puta Merda! Como eu iria fazer isso?
- A mais atrapalhada, desastrada e esquisita que já se teve notícias por aqui.
Ele sorriu aquele sorriso de fazer minha cabeça girar.
- A mais petulante, complicada e teimosa, não se esqueça. A mais linda também!Adicionou carinhoso.
- Sabe bem onde está se metendo, não sabe?
- Karol, não tenho escolha! Meti-me na maior confusão de minha vida quando parei para ajudá-la. Eu fechei a cara. Ele riu.
- E vou agradecer todos os dias por ter feito isso.
- Vamos ver se ainda vai pensar assim daqui a alguns anos! Ele riu e tocou meus lábios suavemente com os seus.
Reagi imediatamente, deixando os pensamentos de lado, enquanto sua boca
faminta mordiscava meu queixo.
- Há mais alguma coisa que deseje?
E delicadamente, me deitou na cama.
Seus lábios desceram até meu pescoço, fazendo minha respiração voar.
Continuou descendo um pouco mais, sua barba curta pinicava deliciosamente minha pele.
- Não. Acho que é tudo. O banheiro e meu nome. Estava muito distraída com suas carícias, mas, com algum esforço, me concentrei em sua pergunta e me lembrei da mais importante de minhas condições.
- Não, espere! Tem mais uma coisa sim!
Ele levantou a cabeça e me olhou nos olhos, a testa enrugada.
- E qual seria?
- Será que não dava para me casar com você e continuar sendo sua amante?
Eu gosto de ser amante! Me abracei a seu pescoço.
- Gosto demais!
Vi o sorriso malicioso transformar seu rosto, os olhos brilhando prateado.
Seu corpo quente rolou sobre o meu me afundando um pouco no colchão.
- De acordo! Concordou sem hesitar.

Claro que minha volta causou muito rebuliço na casa e na vila, a fofoca se
espalhou rapidamente.
Malena ficou felicíssima mas não surpresa, ainda mais depois de Ruggero e eu termos passado a noite juntos tão abertamente ao saber que nos casaríamos dentro de algumas semanas. Ruggero não queria esperar tanto, tinha
pressa, assim como eu.
Mas a papelada tomava algum tempo,
principalmente porque eu tinha que arranjar novos documentos.
Veio muito a calhar que Ruggero tivesse tanto prestígio com o escrivão do cartório, que nem ao menos questionou a história do falso assalto e, em troca de algumas moedas, criou documentos novos para mim.
Não dava para apresentar meus documentos originais com data de duzentos anos à frente.
Então, agora eu era Karol Sevilla, nascida em 29 de maio de 1805. Uma loucura!
Ana se tornou mais tolerável, ainda que não fossemos as melhores amigas, vi que ela se esforçava para ser mais agradável, e eu tentei fazer o mesmo.
Tendo Malena como amiga em comum, imaginei que o tempo se encarregaria de nos aproximar mais.
Madalena chorou muito quando me viu pela manhã. Abracei-a forte contra meu peito. Ela me disse o quanto sentiu minha falta e que não apenas ela, mas os outros empregados estavam estranhando a monotonia.
Ela me botou a par de muitas coisas que aconteceram durante minha ausência. Não gostei de ouvir como Ruggero havia se comportado neste período: sem comer, sem sair de casa, abandonou seus assuntos comerciais, sempre acompanhado de uma garrafa de uísque, sempre gritando com todos, até mesmo com Malena. Pretendia dar uma bronca nele, mas seus olhos cheios de angústia com a lembrança me impediram.
Eu não permitiria que ele sofresse daquela forma outra vez. Nunca mais!
E, apesar de minhas negativas, Ruggero decidiu fazer um novo baile para anunciar formalmente o nosso noivado. Malena ficou eufórica e eu sabia o motivo.
Ela se encontraria com Lucas e eu era a única que sabia como aqueles dois terminariam.
Ruggero me levou até a vila para encomendar novos vestidos um para o baile de noivado, um para o casamento e uma dezena deles para o dia-a-dia.
Aproveitei para pedir à madame Georgette que me fizesse calcinhas novas.
Fiz alguns rabiscos do que eu queria eu desenhava mal pra caramba.
Pedi que fizesse pelo menos uma dúzia delas. Não conseguia me acostumar com os tais shortinhos.
É claro que ela quase surtou quando expliquei que aquele pequeno pedaço de tecido fazia a função deles.
Tive muito trabalho para fazê-la entender que calcinha não era coisa do demônio. Ruggero gargalhou enquanto eu tentava explicar para a costureira que algumas mulheres preferiam usar menos roupas debaixo dos vestidos porque sentiam muito calor. Madame Georgette me prometeu que faria vestidos mais simples, sem tanto volume, mas que fossem bonitos.
Depois, Ruggero me convidou para um passeio pelas ruas da vila no final da
tarde, mas na verdade, desconfiei que foi apenas um pretexto para poder me exibir aos seus conhecidos.
- Boa tarde, Senhor Cabral. Como tem passado? Creio que ainda não lhe
apresentei minha noiva! Ele disse orgulhoso ao padeiro, com um imenso
sorriso no rosto.
Ele me apresentou como sua noiva a dezenas de pessoas.
Algumas que eu até já conhecia, como Valentina. Seu rosto de porcelana se retorceu em tristeza quando Ruggero lhe informou de nosso compromisso.
Fiquei com pena dela, mas ela encontraria seu par por aí, porque Ruggeri era o meu, jamais seria de outra pessoa, mesmo que eu não tivesse aparecido e bagunçado tudo.
E, contra minha vontade, precisei pedir a Ruggero que me comprasse um sapato.
Eu só tinha o sapato de salto agulha, e ali não era o melhor lugar para se usar salto fino. Sempre se enroscava nas pedras do pavimento ou afundava no chão de terra, era irritante.
Amaldiçoei-me diversas vezes por não ter usado tênis na cerimônia de casamento.
Além disso, Ruggero adorou a ideia de fazer mais compras. Ele estava eufórico
na verdade, esse era o seu estado atual agora, enquanto me comprava tudo que via pela frente, tudo o que havia para comprar ali: perfumes franceses, cremes para o rosto, talcos, adereços delicados para o cabelo.
Parecia que queria me dar o mundo!
Ele só não entendia que já tinha feito
isso quando disse que me amava pela primeira vez.
- Vou sentir falta de seus antigos sapatos, senhorita. Suspirou, enquanto o sapateiro tirava o molde de meus pés.
Os sapatos eram feitos sob medida, artesanalmente, não comprados prontos por numeração, como eu estava habituada. Infelizmente, o sapateiro não sabia como fazer tênis, apenas sapatos e botas.
- Foi a primeira coisa que prendeu minha atenção quando a conheci.
- Sei! Os tênis e falta de roupas, não se esqueça. Retruquei e ele sorriu descarado. Suspirei.
Meus pés também sentiriam muita falta deles.

Depois da noite em que voltei para casa, Ruggero e eu tivemos alguns problemas para ficarmos juntos. Madalena nos vigiava dia e noite e madrugada, principalmente madrugada!Incansavelmente.
- Tudo para o bem de Malena! Me dizia Ruggero revirando os olhos, claramente insatisfeito. No entanto, ele conseguiu despistá-la algumas vezes e eu não pude e não quis impedi-lo de entrar em meu quarto outras vezes.
Nada parecia tão certo como quando eu estava em seus braços.
Storm ainda estava ali, não tentou fugir como das outras vezes mas ainda,
continuava arredio e cheio de vontades. Ruggero e eu cavalgávamos com ele com frequência, contudo, ainda era ele quem decidia para onde ir.
E, em geral, ele nos levava para nosso lugar especial, o lugar onde tudo começou.
Passávamos muito tempo debaixo da nossa árvore, conversando, planejando o futuro, namorando, sem nos preocuparmos com mais nada.
Dessa vez, não me assustei com o frenesi causado pelo baile quando o dia chegou. Na verdade, estava tão nervosa quanto todo mundo ali.
Talvez até mais! As pessoas viriam ao baile para conhecer a noiva do Senhor Pasquarelli.
Eu queria causar boa impressão aos seus amigos, o que não era nada fácil,
especialmente quando se precisava pensar em cada sílaba que sairia de sua
boca.
- Quer, por favor, acalmar-se! Ruggero disse, depois do almoço, quando a casa estava abarrotada de comida e empregados preparando tudo para o
baile daquela noite.
Eu quicava no sofá, inquieta.
- A maioria dos convidados já a conhece e estou certo de que apreciam sua companhia quase tanto quanto eu.
- Não sei não, Ruggero. Falei apreensiva. Ele pegou minha mão e a apertou entre as suas. O calor se espalhou rapidamente por todo meu braço.
- Eu não sei agir como Malena e Ana. Acho que nunca serei capaz de agir como elas. As pessoas vão rir de você por se casar comigo!
- Não vão, não! Ele sorriu carinhoso. -Ninguém se atreveria a rir de alguém tão especial como você.
E espero que tenha razão, que nunca possa ter os mesmos modos que minha irmã. O sorriso que eu adorava apareceu em seu rosto.

Minha testa franziu.

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