Parte 39

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Encontrei Madalena em meu quarto deixando um vestido rosa sobre a
cama.
- Oh! Senhorita Karol, acabei de ajustar o vestido. Ficará muito bonita com ele.
Ela exclamou, colocando as mãos sobre o peito.
- Obrigada, Madalena. Eu disse a Malena que não era necessário, mas ela não me deu ouvidos.
- Que bom! Uma jovem como a senhorita precisa se vestir à altura de sua beleza, e este aqui é um dos mais bonitos! Sei que Malena usou este vestido apenas uma vez. Ninguém notará.
- Não ligo para isso. Eu dei de ombros.
Quando se vivia com um salário apertado como o meu, se aprendia a
aproveitar todas as roupas de formas muito criativas, e apesar de estar em
outro século, eu ainda continuava pegando roupas emprestadas das amigas.
Um ciclo que nunca teria um fim, ao que parecia.
- Quer que eu lhe ajude, senhorita? Ofereceu.
- Não, Madalena, eu me viro bem sozinha.
- Como quiser. Ela hesitou, parecia que queria me dizer mais alguma coisa e depois mudara de ideia.
- Tá tudo bem, Madalena?
- Eu... Queria saber se... A senhorita poderia me ensinar a fazer o
condicionador. Ela corou.
Eu ri.
- Ah! Você usou, então? Mulheres sempre seriam as mesmas com relação aos cabelos, não importava a década ou o século em que viviam.
- Nunca experimentei nada parecido!
Disse maravilhada.
Pode me ensinar?
- Claro, Madalena. Amanhã eu faço mais e você presta atenção, pode ser?
- Certamente. Exclamou satisfeita. Ajeitou as saias, olhou para ver se estava tudo em ordem e saiu do quarto.
- Se precisar, estou às ordens, senhorita.
Observei o vestido bordado, toquei as pequenas contas transparentes com as pontas dos dedos.
Um vestido tipo princesa de conto de fadas, bufante com alças largas que caiam nos ombros.
Essa seria uma das coisas que eu não sentiria saudades quando voltasse para casa, os vestidos longos. E a casinha Acrescentei rapidamente a lista.
Comecei a me produzir, primeiro colocando o vestido, me sentindo um
gigantesco suspiro cor-de-rosa de padaria, em seguida, fiz uma maquiagem mais elaborada.
Um pouco de sombra, um pouco de blush, batom e máscara para cílios. Queria ter algum delineador para fazer o contorno dos olhos, mas tive que me contentar em fazer um risco de forma
imprecisa com o pincel para sombra daqueles curtos com duas esponjinhas nas pontas.
Esfumacei tudo e ficou bastante razoável.
Depois, cheguei ao mais complicado: o meu cabelo. O que fazer com ele? Malena disse que as mulheres não iam, jamais, com os cabelos soltos, na verdade, as mulheres jamais deixavam seus cabelos soltos na presença de outras pessoas homens, principalmente.
Fiquei me olhando no espelho, tentando lembrar de algum penteado fácil de fazer.
Ah! Se a Nina estivesse aqui!
Mas eu estava sozinha e tinha que me virar do jeito que dava, e como não tinha muitas opções, eu não sabia fazer muita coisa além de rabo de cavalo e coque, só que para isso, precisaria de alguns grampos e eu não tinha nem um, resolvi fazer uma trança lateral meio frouxa. Alguns fios ficaram soltos, mas achei que ficou bem bacana, o elástico preto destoava um pouco, mas dava para disfarçar colocando uma flor sobre ele, e foi exatamente o que fiz.
Peguei uma flor branca do vaso do corredor e a prendi no elástico.
Eu estava usando uma flor no cabelo! Agora tinha chegado ao fundo do
poço.
Dirigi-me até a sala para esperar pelos outros e encontrei Ruggero sozinho,
vestido com um smoking preto completo muito parecido com os de hoje em dia quis dizer em 2010.
Tinha uma cartola nas mãos e uma expressão séria no rosto.
Meu Deus, como estava lindo!
Assim que Ruggero ouviu minha chegada, se pôs de pé e se curvou, como sempre.
- Senhorita. Ele disse, enquanto seus olhos percorreram meus cabelos, meu rosto, meu corpo, até meus pés dentro dos tênis vermelhos, que dessa vez não apareciam graças ao trabalho de Madalena.
- Se me permite, preciso dizer que você está muito... Ele hesitou.
- Malena que...
- Não, senhorita Karol.
Ele me interrompeu apressadamente.
- Estou tentando encontrar a palavra adequada para descrevê-la agora.
Não acredito que exista uma única palavra que descreva tanta beleza. Seu sorriso se alargou.
- Creio que esplendorosa e magnífica não façam justiça à sua figura neste momento.
- Ah! Corei um pouco.
- Obrigada, Ruggero. Você também está um arraso!
Ele piscou algumas vezes antes de falar outra vez.
- Desculpe-me. O que disse? Perguntou, confuso. Suspirei revirando os olhos. -Você está um arraso. Tão lindo que pode causar um ataque cardíaco em alguma garota desavisada. Expliquei, corando pra valer.
- É como pessoas da minha idade se expressam. Me desculpe.
Estou realmente tentando evitar esse tipo de expressão, mas é tão difícil! Velhos hábitos, lembra?
- Sim, eu me lembro. E não se desculpe. Gosto de ouvir você dizê-las.
Creio que acabo de encontrar o que procurava. Você está um arraso, Karol!
Meus joelhos sacudiram um pouco quando ouvi sua voz baixa e rouca dizer meu nome.
- Onde está Malena? Estou atrasada?
Mudei de assunto para não me jogar
em cima dele, como eu queria desesperadamente fazer.
- A senhorita Ana mandou a carruagem até aqui para buscar Malena.
Parece que ela tinha uma emergência. Algo sobre fitas ou outra coisa...
Realmente uma emergência!
- E não está atrasada. Estamos bem de tempo. Podemos partir agora mesmo e pegar Malena e a senhorita Ana no caminho. Está pronta?
- Estou. Acho que, depois de tudo isso, estarei pronta pra qualquer coisa!
- O que disse?
- Rã... nada!
Pensei que não seria uma viagem longa até a casa de Ana.
Não que fosse longe ou a estrada ruim e esburacada, mas ficar com Ruggero a menos de um palmo do meu corpo, numa carruagem fechada, me deixou inquieta, o tempo parecia rastejar. Tantas coisas pecaminosas entraram na minha cabeça sem serem convidadas... Tentei rebatê-las, mas algumas imagens já estavam plantadas ali: abrir os botões de sua camisa, correr minhas mãos por seu peito rijo, beijar sua boca perfeita, depois deslizar meus lábios na pele macia do pescoço, sentindo seu gosto em minha língua...
- Está me ouvindo, senhorita? Perguntou Ruggero, tocando meu braço e me despertando do sonho.
- Você está bem?
- Ah! Está tudo bem. Acho que eu corei. -Estou ótima, porque não estaria?
- Eu lhe fiz a mesma pergunta duas vezes e você não pareceu me ouvir. Suas sobrancelhas quase unidas.
- Eu... Eu... Estava sonhando acordada, eu acho. Me desculpe. Abaixei a cabeça embaraçada, meu rosto ardendo.
Sua mão rapidamente deixou meu braço e descansou sobre sua perna.
Ruggero sorriu.
- Ao menos, espero que o sonho fosse agradável.
- Nem faz ideia! Mas o que me perguntou antes? Me apressei para que ele não pudesse ter mais detalhes do meu “sonho”.
Ele olhou por sua janela e apontou.
- O que acha?
Estiquei o pescoço para ver o que ele apontava, bem longe, vi uma enorme
construção, com muitos andares e a largura de três ou quatro casarões.
- É um castelo? Perguntei em dúvida.
- Não. É uma mansão, apenas, o que acha?
- Acho enorme! Por que?
- Estou pensando em comprar essa propriedade. O rosto presunçoso.
Franzi a testa.
- Por que? Não tem quartos o bastante naquele seu labirinto? Voltei a admirar a mansão. Havia uma quantidade enorme de janelas, poderia muito bem ser um hotel luxuoso. Ruggero riu outra vez.
- Não é para mim. É para Malena! Para quando se casar. Não quero que ela
vá para longe.
Contemplei a mansão, que mais parecia ter saído de um filme.
- Bem, ainda acho que se parece com um palácio, mas... Me aproximei mais da janela colocando a mão sobre o vidro. . . -É linda!
- Estava pensando a mesma coisa. Ruggero falou, a voz um pouco rouca.
Virei-me, encontrei seu olhar penetrante e paralisei. Só então percebi que tinha me aproximado demais, que meu rosto estava a meros centímetros do
dele.
Meu coração disparou quando vi seus olhos castanhos ganharem aquele brilho prateado, senti o martelar dele em minhas veias até zumbir em meus
ouvidos. Não me movi um centímetro sequer, fiquei ali parada, o encarando de volta, querendo muito obedecer aos impulsos de meu corpo e esquecer o que minha cabeça me dizia.
- Karol. Hesitante ele tocou meu rosto.
- Eu queria que... Sua voz morreu e a frase inacabada me deixou arrepiada.
Sim, eu quis dizer, eu também queria. Mas, ao invés disso, sem poder me conter, também toquei seu rosto, sentindo a maciez de sua pele contrastando com a aspereza dos fios de sua barba que já teimavam em aparecer.
Foi o que bastou para incentivar Ruggero.
Não me afastei quando sua outra mão enlaçou minha cintura, me puxando
para mais perto, nem tentei impedi-lo quando seu rosto se aproximou do meu com a clara intenção de me beijar.
Não o empurrei quando seus lábios
gentilmente esmagaram os meus.
Ao contrário, agarrei-me à gola de sua
camisa na intenção de nunca mais soltá-lo.
Sua boca faminta devorava a minha, correspondi com a mesma intensidade, até que tudo ao nosso redor se tornou um borrão sem sentido, e novamente a sensação de estar viva, de que tudo fazia sentido, me sufocou como uma avalanche.
E, na verdade, naquele exato momento, com seus lábios colados aos meus, seus braços me prendendo com urgência, tudo parecia estar no lugar certo.
Inclusive eu.
Ruggero deslizou seus lábios até meu queixo, meu pescoço e todo o caminho até minha orelha.
Meu coração já acelerado quase saiu pela boca.
- Karol. Ele sussurrou ali.
Um jorro de prazer percorreu meu corpo todo, me fazendo estremecer.
Quando seus lábios recapturaram os meus, eu já tinha dificuldade para respirar, mas me apertei ainda mais contra ele. Porém, ainda não era perto o bastante.
Seguindo as ordens de meu corpo, passei minhas pernas ao redor de seu quadril, colocando meus joelhos no assento da carruagem e grudei todas as partes de mim a ele.
A forma como Ruggero me beijou depois disso foi quase selvagem. Ele me apertou tanto na ânsia de afugentar a distância
inexistente entre nós, que eu mal sabia dizer onde ele terminava e eu começava, éramos um só naquele instante grudados como um adesivo.
Um gemido rouco escapou de seus lábios, e imediatamente eu soube onde aquilo acabaria. Não tentei evitar.
Não mesmo!
Deixei que minhas mãos percorressem seu peito plano e tentei abrir alguns botões enquanto seus dedos acompanhavam a alça do vestido, fazendo o tecido escorregar por meu braço, deixando o decote ainda mais baixo.
Fiquei um pouco surpresa e extremamente satisfeita, quando uma mão deslizou, ainda que um pouco hesitante, sobre meu peito, eu estava de acordo com aquilo. Muito de acordo! Estremeci quando sua mão quente me
tocou ali, ainda vestida, contra minha vontade. Uma onda de desejo afogou qualquer outro sentimento.
Tentei arrancar aquela gravata de nó tão complicado o mais rápido que pude. Queria vê-lo, realmente vê-lo, sem todo aquele amontoado de tecidos.
Seus lábios deixaram os meus para criar um rastro de fogo em meu pescoço, sua barba recém-cortada, pinicava prazerosamente minha pele.
Mas Ruggero não parou, continuou descendo um pouco mais, até alcançar as curvas de meus seios, seus dedos acompanharam delicadamente o contorno do decote, a carícia tão suave, tão delicada e tão quente me fez tremer. Não pude conter um gemido de prazer quando seus dedos finalmente me
descobriram e seus lábios acolheram a parte exposta.
Arquei minhas costas instintivamente, me oferecendo ainda mais a ele enquanto enroscava meus dedos em seus cabelos macios.
Fiquei deslumbrada ao constatar apesar de todo o tecido da saia volumosa que ele também me deseja. Densamente!
- Karol. Murmurou, rodeando meu quadril com as duas mãos, me trazendo para mais perto, enquanto voltava a me beijar ferozmente.
Foi aí que a carruagem deu um solavanco que me fez bater a cabeça no teto e, depois quase cair no chão, se Ruggero não tivesse sido rápido o bastante para me segurar.
A consciência retornou instantaneamente, me libertando do transe, me deixando absolutamente constrangida, extremamente exposta e ainda em seu colo.

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