- Você achou que eu estava de caso com um cara casado? Berrei.
Não tinha a intenção de gritar, não tinha mesmo, mas fiquei tão chocada que ele tivesse pensado numa coisa como aquela que não pude me controlar.
Estava chocada e furiosa, por mais que o casamento não fosse prioridade em minha lista na verdade, não estava nem na lista. Eu jamais poderia me envolver com alguém casado. Jamais estragaria a vida de uma outra garota.
Eu conhecia a sensação de ser traída. Conhecia bem demais.
Não por um marido, claro, mas podia imaginar que doeria muito.
- Que tipo de garota você pensa que eu sou? Uma vadia que se mete no relacionamento de outras pessoas? Pois fique sabendo que eu não sou, eu sou uma garota decente, sempre fui.
Eu nunca fui pra cama com alguém
que estivesse comprometido. NUNCA! Todos os homens que passaram por minha vida eram tão livres quanto eu! Minha voz começou a subir um pouco. Minha raiva aumentando.
- Como se atreve a pensar uma coisa
dessas? Pensei que você fosse diferente das pessoas que eu conheço, com esse seu jeito gentil e de aparência inocente. Mas vejo que me enganei!
Levantei-me tão depressa que a cadeira acabou caindo no chão, fazendo muito barulho. A careca do mordomo apareceu na porta, provavelmente pra ver se eu não tinha, de repente, atacado o Senhor Pasquarelli com o bule de ferro!
Ignorei quando Ruggero começou a dizer alguma coisa, dei-lhe as costas e marchei decidida até meu quarto. Ele me seguiu.
- Senhorita Karol, perdoe-me, não tive a intenção de insultá-la. Ele corria com as palavras enquanto apertava o passo para me alcançar.
- Eu fui um imbecil.
- Foi não, você é um imbecil. Retruquei, enquanto acelerava o passo.
- Sim, senhorita Karol. Sou mesmo! Mas, por favor, aceite minhas desculpas, não tive intenção de lhe deixar irritada.
- Ah! Mas eu não estou irritada.
Estou furiosa!
Entrei no quarto e peguei minha bolsa. Ele me seguiu, ficou ali parado, me encarando com cara de assustado, juntei minhas coisas rapidamente, não havia muita coisa pra juntar.
- Quer olhar minha bolsa? De repente, estou roubando alguma coisa.
Eu disse secamente, esticando a bolsa.
- Senhorita Karol, por favor!
Cuspiu revoltado.
- Por favor o quê, Ruggero?
- Por favor, acalme-se. Acalme-se e me escute. Aceite minhas desculpas, por favor! Sua voz angustiada.
Primeiro, me insultava, e depois, queria que eu o escutasse, igualzinho a qualquer outro homem!
- Agradeço tudo o que fez por mim, mas não posso mais ficar aqui, tem certeza que não quer olhar minha bolsa? Ultima chance! Estiquei um pouco mais meu braço, mas ele não se moveu.
Ruggero não disse nada, parecia não saber o que dizer.
Estava tão furiosa que joguei a bolsa nos ombros e, como ele não fez movimento algum para sair da minha frente, abri caminho a cotoveladas.
Entretanto, suas mãos alcançaram meu cotovelo antes que eu chegasse a porta.
- Ouça-me, por favor! Pediu numa voz baixa e magoada. Balancei um pouco. Aquela sensação estranha de que já o conhecia inundou meu corpo mais uma vez quando ele me tocou.
- Me solte! Exigi, com menos convicção do que pretendia.
Porém, Ruggero não me soltou, suas mãos estavam muito quentes senti a pele do meu braço queimar.
Pinicava de uma forma diferente, sem dor.
- Perdoe-me, senhorita Karol, foi muito rude de minha parte pensar algo tão... Perdoe-me. Eu sinto muito por tê-la ofendido, estava apenas tentando encontrar sentido em sua história.
Não tinha a intenção de ofendê-la, sinto
muitíssimo. Seus olhos estavam nos meus.
Tão escuros quanto um buraco negro, uma estranha força me puxava para eles. Não pude desviar os olhos, um calor repentino se espalhou por meu rosto.
Meu Deus! Eu estava corando!
Que ridículo!
- Eu... hã... Meus pensamentos ficaram ligeiramente incoerentes.
- Tudo bem. Desculpas aceitas. Acho que exagerei um pouquinho.
Fiquei muito confusa, realmente chocada com minha reação, por que me incomodou tanto que ele pensasse coisas ruins a meu respeito?
- Não. Eu fui extremamente indelicado. Não sei por que pensei um absurdo desses! Seus olhos, ainda intensos, prendendo os meus.
- Perdoe-me, senhorita Karol.
- Nem sei se posso culpá-lo por pensar isso a meu respeito, você não tem como entender a história. Eu mesma estou tendo dificuldades! Me... Desculpe também. Disse constrangida, sem saber o porquê.
- Não tenho como entender, realmente. Mas não posso acusá-la da maneira tão cruel. Fui muito rude. Perdoe-me.
Suas mãos ainda seguravam meu braço e o calor provocado por seu toque começava a se espalhar por meu corpo todo.
O que era aquilo?
- Tudo bem. Murmurei.
Eu tinha que ficar ali. Pra onde iria?
Eu não conhecida nada, nem ninguém.
E até que Ruggero foi rápido pra tentar associar o que eu havia dito com algo
que fizesse sentindo.
Associou totalmente errado, mas ele pensou depressa.
Talvez isso fosse de alguma ajuda, afinal. Quem sabe ele não conseguiria ver o que eu estava deixando passar?
E, sendo totalmente honesta, eu gostava um pouco dele.
Ruggero era um cara bacana, mesmo sendo um cara do século dezenove que pensava que eu estava tendo um caso com um homem casado.
- Obrigado! Ele me soltou.
Fiquei um pouco sem equilíbrio, tentei me endireitar.
- Agora, por favor, deixe suas coisas aqui e vamos voltar para a sala, creio que ainda esteja com fome...? Ele sorriu timidamente, testando se tudo estava realmente bem.
- Eu não estou com fome. Tinha uma sensação estranha na boca do estômago. Não entendi o que era. Deviam ser os nervos! Ele deliberou por um segundo.
- Então, talvez deseje conhecer a propriedade? Há um riacho muito bonito
aqui perto e uma pequena floresta que cerca a lateral de uma das divisas.
É um passeio muito agradável.
Ele parecia entusiasmado, até tive vontade de ver como seriam as coisas por ali, mas eu tinha assuntos mais urgentes para resolver.
- Será que a gente podia fazer isso outra hora?
- Certamente! Deseja fazer outra coisa, senhorita? Ele franziu o cenho.
- Karol, apenas Karol, Ruggero. Ele não ia aprender nunca? - E, sim, eu gostaria de fazer outra coisa.
- Se eu puder ajudar ficarei feliz em lhe ser útil. O rosto sincero.
- Na verdade, pode sim. Gostaria que me levasse até a vila pra procurar a tal pessoa.
Se é que ela estava ali. Se é que existia realmente mais alguém.
- Como quiser. Concordou.
- Pedirei aos criados para prepararem a
carruagem.
Não gostava da forma como ele se referia aos empregados. Criados!
Era muito ofensivo!
Se o Gary se referisse a mim daquela maneira, eu seria capaz de fazê-lo engolir o próprio pé!
Joguei minha bolsa na poltrona e fui esperar por ele na entrada da casa, mas
parei antes de chegar ao corredor. L
Eu farei contato, a voz dela ecoou em minha cabeça, voltei até a poltrona e
peguei o celular, eu achava meio impossível, mas como funcionou da
primeira vez, talvez ele pegasse o sinal “mágico” em outras áreas também.
A ligação não teve chiados nem estalos, excelente recepção!
Eu não podia andar com o celular na mão pra todo lado, não queria ter que
explicar o que era, mesmo porque ninguém acreditaria.
Na falta de um bolso ou de um lugar melhor enfiei o aparelho no decote do vestido.
Ainda bem que o celular não era grande, pois, com peitos de tamanho médio, não seria possível escondê-lo ali se fosse qualquer centímetro maior.
Ninguém iria notar a pequena adição ao volume.
Dei uns pulinhos para me certificar que estava firme, ele não se moveu.
Arrumei o vestido para escondê-lo bem e saí para me encontrar com Ruggero.
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Meu lugar
FanfictionA garota da cidade grande, independente que gosta de praticidade, tudo para ela tem que ser moderno e que não dê trabalho. Mas vê sua vida virar de ponta a cabeça e embarcar em uma grande batalha para alcançar sua liberdade o que ela não sabia é que...