Pai amoroso...

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Raul Gonzalez

Cheguei no hospital desesperado, procurei informações sobre Amanda e ninguém me disse nada, a dor da perda começava a me consumir, será que a morte da minha amada filha era a punição dos meus pecados? Não aguentava mais a angústia, me aproximei do balcão e perguntei pela milésima vez a recepcionista:

- Preciso de informações sobre a moça que chegou aqui após um acidente de carro gravíssimo no centro de Nova Jersey, ela se chama Amanda Gonzalez. Eu sou o pai dela e estou extremamente preocupado.

- Desculpe senhor, como falei não temos informações do quadro da garota, assim que ela chegou foi transferida imediatamente para o centro cirúrgico, só nos resta esperar.

Desolado com a resposta, me encaminhei até a capela, ajoelhei -me no chão e fiz uma coisa que não fazia há tempos, eu rezei. Pedi a Deus misericórdia e implorei para que ele não levasse minha única filha de mim. Notei que chorava e não me importei com as lágrimas que saíam dos meus olhos.

Fiquei naquele ambiente silencioso por alguns minutos, ou talvez foi horas, não sei dizer ao certo. Assim que saí, um jovem vestido de branco me interceptou:

- Muito prazer, me chamo Fernando. Acabei de realizar a cirurgia em sua filha, ela teve muita sorte. O quadro é extremamente grave mas a operação foi um sucesso, os próximos dias serão cruciais.

Um misto de sentimentos tomou conta de mim, ela estava viva, mas não fora de perigo. Abracei o médico com carinho, eu raramente demonstrava sentimentos, mas a esperança dentro de mim se renovou com suas palavras.

- Obrigado doutor. - agradeci.

- De nada. - ele sorriu timidamente e saiu.

Em meio ao caos e ao sofrimento, uma ideia macabra me sobressaltou, o acidente de Amanda e a prisão de Mateo havia sido noticiado em vários veículos de imprensa, nesse momento Salazar já devia saber do ocorrido, eu poderia muito bem dizer que minha amada filha não resistiu aos ferimentos e veio falecer poucos minutos da cirurgia, montaria um enterro a uma homenagem fúnebre onde ele estivesse presente e assim encerraria a guerra que não começou, aliás estaríamos quites já que ambos perdemos nossos filhos.

Peguei meu celular e disquei o número do desgraçado, o telefone tocou algumas vezes assim que ele atendeu eu falei:

- Boa noite caro amigo, hoje infelizmente eu compartilho da sua mesma dor. Minha filha acabou de falecer. Acho que não precisamos começar uma guerra, já que estamos quites.

- Eu sinto muito Raul, mas não nego que saber disso me deixa extremamente feliz. Acredito que podemos sim manter nossa aliança intacta, um filho pelo outro, nada mais justo. - ele falou.

- Um filho pelo outro. - repeti - amanhã farei uma homenagem fúnebre para ela, infelizmente terá que ser com o caixão fechado, seu rosto está extremamente deformado, uma cena horrenda de se ver. Minha doce menina, tão jovem e cheia de vida. - falei chorando.

- Nos vemos amanhã para selar a paz mais uma vez. Meus pêsames. - ele disse desligando o telefone.

Apertei o celular contra meu peito aliviado, o acidente veio num bom momento apesar de tudo. Realizei algumas ligações, comprei um caixão e pedi que emoldurasse uma foto de Amanda, tudo devia seguir perfeitamente para que todos acreditassem que ela estivesse realmente morta, a notícia do enterros chegaria ao presídio e Mateo nunca mais se aproximaria dos Gonzalez, duas vitórias numa noite.

Estávamos com sorte, guardei meu celular, o bolso e caminhei pelo corredor, encontrei o Lucas um tanto sorridente, assim que me viu ele disfarçou o sorriso e me perguntou fingindo preocupação:

- Como ela está?

- Vai sobreviver, o estado é gravíssimo, mas tenho fé que ela vai sair dessa. Aliás, ela é uma Gonzales.

- Não sabia que um homem como você tinha fé.

- Até homens como eu se rendem ao poder divino em momentos de desespero.

- Entendo, já que nossa doce princesa está viva, vou para casa. Não há motivos para que eu fique aqui. Aliás, tenho um cartel para tomar, se me der autorização, é claro.

- Faça os homens de Mateo jurarem lealdade a nós, aqueles que se rebelarem, mate-os. Coloque fogo na boate e destrua tudo. Finalmente destruí os Ferraz.

- Claro chefe. Você quem manda, por enquanto. - ele sussurrou.

- O que disse? - perguntei.

- Você quem manda. - ele respondeu caminhando rumo a saída.

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