Quem é Edgar?

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Mateo

Não preguei os olhos a noite inteira, os gritos agonizantes dos presos sendo queimados me perturbaram durante a madrugada, eu realmente tinha me tornado um sanguinário como meu pai, não gostava de matar pessoas sem motivos aparentes e de todos que morreram por minha culpa, o que mais me atormentava era o carcereiro, ele não parecia ser um homem ruim, mas foi o preço que tive que pagar pelo meu amor. A morte dele não seria em vão, eu salvaria Amanda e teríamos uma vida feliz graças ao seu sacrifício.

Aguardei ansioso pela chegada de Oscar, o homem adentrou ao casebre por volta das sete da manhã, trazia contigo alguma roupas, lentes de contato, documentos e uma máscara meio rosto.

— A partir de hoje você se chama Edgar, matador de elite. Entendeu?

— Sim. — respondi — serei realmente mudo? Como vou me aproximar da Amanda? — questionei.

— Eu estava pensando nisso, qualquer vacilo é fatal. — ele observou — tente responder apenas o básico quando o Lucas te interrogar, pessoas tem vozes parecidas, talvez passe despercebido. Teremos que ter fé, precisamos salvar a senhorita Gonzalez o mais rápido possível. — falou preocupado.

— Porque diz isso? — perguntei cerrando os punhos.

— Ontem o Lucas tentou abusar dela, por sorte eu cheguei a tempo e ela conseguiu fugir.

— Aquele desgraçado. — gritei com raiva — tomara que ele não encoste mais nenhum dedo na minha mulher, se não o mandarei para o inferno. — cuspi.

— Vou convencê-lo a se afastar dela pelo menos até o casamento, posso falar que a forma que a trata desencadeia gatilhos que farão ela recuperar a memória, sem o casamento ele não tem poder algum, ele precisa que ela diga sim para selar a união dos cartéis. — o homem falou com inteligência — enquanto isso planejamos a fuga e ganhamos a confiança de Amanda, ela está com medo e não confia em ninguém naquela casa.

Meu coração se condoeu quando ouvi isso, minha doce Amanda estava acuada e sem proteção.

— Podemos ir? — perguntei ansioso — quero protegê-la — falei apaixonadamente.

— Claro. Mas lembre-se! Temos que agir com cautela.

Balancei a cabeça em concordância e me vesti rapidamente, olhei-me no espelho e percebi que naquele instante Mateo Ferraz estava morto. O reflexo mostrava outra pessoa, a roupa escura, a máscara e os olhos da mesma cor, juntamente com minha barba enorme disfarçavam bem quem eu era, ou quem eu fui.

Respirei fundo e acompanhei Oscar até o carro, ele deu partida no veículo e em poucos minutos estávamos na mansão dos Gonzalez.

Alguns lembranças tomaram conta de mim, pensei que nunca mais pisaria nesse lugar, respirei fundo e entramos pelo enorme portão, admirei o muro que Amanda tentou pular quando nos conhecemos, não contive o breve sorriso que se surgiu em meus lábios. Era por ela que eu estava ali e era por ela que eu ia lutar.

Assim que estacionamos o veículo, fomos recebidos pelo filho da puta. Ele usava uma camisa social azul elegante, juntamente com uma calça jeans branca. Ostentava em seus dedos aneis de ouro e me destinava um sorriso amigável.

— Em qual lixão você resgatou esse homem? — ele perguntou para seu capanga.

— Patrão, a aparência dele não é das melhores, mas  é excelente com uma arma em punho, além de ser obediente e leal. Não é mesmo Edgar? — o homem me perguntou.

— Sim. — respondi brevemente.

— Ótimo. — Lucas comemorou — O que houve com seu rosto? — ele quis saber.

— Uma vadia me queimou quando eu tentei abusar dela, em troca a matei dolorosamente. — falei engrossando a voz.

— Essas putas perderam o total respeito. — ele sorriu— tenho uma que quero destruir. — disse maliciosamente.

— Se refere a senhorita Raquel? — Oscar perguntou curioso.

— Ela mesmo. A vadia sumiu, mas vou encontrá-la, ela não pode se esconder pra sempre, tenho certeza que não saiu da mansão, não conseguiria escapar. Tenho olhos em todo lugar.

— Patrão? Preciso te aconselhar, mesmo que não concorde. A forma que trata a senhorita pode desencadear gatilhos que a façam recuperar a memória. Isso seria ruim para os negócios, creio que seja melhor agir com prudência. Pelo menos até o casamento, conhecemos a moça e ela é traiçoeira como uma cobra. Melhor a termos do nosso lado. — ouvi o capataz de Raul falar com sabedoria.

Analisei a face do Matarazzo e percebi que ele assimilava as palavras do sábio homem, orei em silêncio para que ele concordasse com Oscar. Para minha surpresa, ele bateu a mão no ombro do seu sudito e agradeceu:

— Você tem razão. Vou me desculpar com minha noiva assim que encontrá-la, mas antes quero provar a lealdade do seu sobrinho, depois do casamento terei todo o poder e domínio sobre ela, e poderei usufruir de seus atributos com ou sem consentimento. — ele riu.

Meu sangue ferveu nas veias só de imaginar Amanda nos braços desse desgraçado, tentei me acalmar porque não queria estragar o plano, Lucas ordenou que eu o seguisse até a parte de trás da casa, avistei uma linda mulher de longe e a reconheci. Margarida admirava as rosas e não se assustou quando nos aproximamos, ela era uma das dançarinas da minha boate e sempre se deitava com Lucas. Pelo visto a união de ambos manteve-se firme depois de tudo.

— Margarida, esse é o Edgar, o novo capataz do cartel. Quero testar a lealdade dele por mim, por isso ele vai te matar. — Lucas falou sem remorso algum.

— Porque? Eu não fiz nada. Eu te amo Lucas. — ela implorou não acreditando no que ouvia.

— Ontem você quase revelou o verdadeiro nome da Amanda. Mulheres como você são perigosas para os negócios, sentirei falta do seu corpo, mas vou pagar esse preço. — ele a puxou beijando sua boca. — Edgar?  tá vendo essa mulher? Quero que a mate, pode abusar dela se quiser. Mas mate-a.

Eu não queria matar mais uma pessoa inocente, o carcereiro já me atormentava demais, mas não tinha escolha.

— Adeus querida. — Lucas se despediu — Você tem cinco segundos para correr.

Olhei nos olhos da moça e me compadeci de seu sofrimento, mas infelizmente era ela ou Amanda. Assim que Lucas a soltou ela correu rumo ao jardim, saquei a arma que estava na minha cintura e disparei. O tiro acertou em cheio sua cabeça. A loira despencou desfalecida no chão.

Senti algumas lágrimas teimando em descer pelo meus rosto mas as contive, Lucas ria sem parar. O desgraçado era um psicopata.

— Ótima pontaria e excelente trabalho. — ele observou — limpe a bagunça e me encontre no meu escritório daqui alguns minutos. Você está contratado. — ele disse estendo a mão pra mim.

A apertei com firmeza selando nosso acordo macabro.

Assim que ele saiu me aproximei do corpo ensanguentado, estava de cabeça baixa quando ouvi passos se aproximando de mim. Ergui meu rosto para ver quem se aproximava e a vi, toda a minha culpa se esvaiu assim que coloquei meus olhos nos dela.

Amanda, minha mulher, a única que amei me encarava horrorizada. Provavelmente ela havia presenciado tudo e me odiava, assim como abominava seu falso noivo. Antes que eu pudesse me explicar, ela começou a correr, eu queria ir atrás dela, senti seus lábios nos meus, senti seu cheiro, sua pele quente e sua respiração ofegante, mas não podia, teria que ganhar sua confiança, já que ela não se lembrava de mim nem do nosso amor.

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