Acordo com o Diabo

40 8 11
                                    

Mateo

O presente de Patrícia renovou minhas forças. Era como se Amanda estivesse presente fisicamente, o reli inúmeras vezes apenas para senti-la perto de mim. A algumas noites tenho sonhado com seu rosto, a imagem é tão vívida e perfeita que nem parece fruto da minha imaginação.

Acordei ofegante várias vezes, seu olhar no sonho parecia um pedido de socorro. Será que havia alguma chance dela estar viva? Mas eu a vi morta em meus braços, seu coração não batia mais quando a abracei pela última vez. Todas as vezes que me lembrava daquele fatídico dia meu peito doía.Esse era o pior castigo possível para os meus pecados.

— Mateo? — o carcereiro chamou — você tem visita?

— É a Patrícia de novo? — perguntei.

— Não. Agora é um senhor, disse que precisa te ver urgentemente.

Respirei fundo já imaginando quem eu encontraria na sala de visitas a minha espera, há tempos eu não via Raul Gonzalez e ele ainda não tinha vindo pisar na pouca decência que me restava. Eu podia negar a visita, mas queria ver a tristeza em seus olhos. Aliás, ele também havia perdido sua filha. Pelo menos meu pai estava vingado, uma pena que essa vingança tenha custado minha felicidade.

Fui escoltado como o bandido que eu era até seu encontro, assim que o vi me impressionei com seu estado, sua roupa de grife encontrava-se tão suja quanto a minha.

— O que você quer? — perguntei rispidamente - veio se vangloriar da minha derrota? Apesar que não faz sentido, já que ambos perdemos quem mais amamos nesse mundo.

— Preciso da sua ajuda. — ele disse.

Pensei que eu estivesse ficando louco, o poderoso Raul implorando minha ajuda?

— Como assim? —perguntei incrédulo.

— Lucas tomou o meu cartel, preciso recuperá-lo e quero que você se una a mim nessa guerra.

— Isso é uma piada? — perguntei — Carcereiro? Quero voltar para minha cela. — gritei. — a visita acabou. Passar bem Raul.

— Amanda está viva. — ele gritou enquanto eu caminhava rumo a saída.

Demorei alguns segundos para processar a informação, não podia ser verdade. Ou podia? Meu coração quebrado queria acreditar que era, meus olhos se encheram de lágrimas e eu me virei, os olhos de Raul transpareciam verdade.

— O que disse? — perguntei trêmulo.

— Amanda está viva, ela nao morreu no acidente, foi um milagre. Ela ficou em coma por alguns meses, pensei que não sobreviveria, mas sobreviveu.

Eu assimilava cada palavra que saía da sua boca , o amor da minha vida tinha sobrevivido, essa era nossa nova chance. Se fosse verdade eu não a desperdiçaria.

— O acidente deixou uma sequela, ela não se lembra de nada, com medo que Salazar descobrisse a mentira que inventei, disse para Amanda que seu nome é Raquel e que ela e Lucas são noivos.

—  Você o que seu desgraçado? — segurei a maldita gola de sua camisa o sufocando
— Arrependi-me amargamente de ter feito isso, o filho da puta do Matarazzo é um traidor, aproveitou do meu momento de fragilidade e colocou meus homens contra mim. — falou puxando o ar.

— Você deixou Amanda nas mãos do  abusador de mulheres? A deixou lá sem memória e a própria sorte? Que merda de pai você é?

— Não tive escolha, ele me prendeu no subsolo da mansão. Por sorte lembrei-me que tinha uma passagem secreta e consegui sair. Preciso que me ajude, depois do casamento ele pretende entrega-la para o Salazar. Não podemos deixar isso acontecer. Eu imploro Mateo.

Não sabia se podia acreditar nele, os Gonzales são traiçoeiros e ótimos mentirosos, mas meu coração me dizia que suas palavras eram verídicas. Os sonhos com ela me pedindo socorro eram reais. Eu ia arriscar, soltei a gola da sua camisa e perguntei:

— Qual seu plano?

— No momento nenhum em específico, mas a ideia é você se infiltrar na mansão.

— Você tá louco? O Lucas me reconheceria. —  pestanejei

— Não vai reconhecer se você estiver morto, pode  entrar na mansão como outra pessoa, Oscar se propôs a me ajudar com isso. Mas primeiro preciso que você saia daqui como um cadáver.

— Preciso forjar minha própria morte?

—  Sim. — respondeu secamente. — provavelmente o desgraçado vai querer ver seu corpo, tem que ser uma morte bem calculada e sem erro.

— Um incêndio. — pensei em voz alta — posso causar um incêndio e carbonizar outro corpo.

— É uma ótima ideia. O fogo vai chamar atenção dos policiais, precisamos que destrua toda sua cela. Já pensou em quem vai morrer no seu lugar? — perguntou curioso.

— Ele. — apontei para o carcereiro que se mantinha entretido no celular.

— Como vai causar esse incêndio?

— Tenho uma vela na minha cela, eu costumo ler a noite. Vou usá-la para começar o fogaréu.

— Ótimo, Oscar te aguardará do lado de fora. Ele está me dando cobertura, tenho que voltar para o calabouço, se Lucas descobrir que eu fugi ele pode se vingar da Amanda. Eu confio em você, Mateo, não me decepcione.

— Eu que não confio em você, mas não tenho outra escolha.

Eu não ia falhar, precisava rever Amanda e salvá-la antes que fosse tarde demais, não a perderia de novo , Raul e eu  não tínhamos apoio de ninguém. Meu cartel havia sido arruinado e o dele estava nas mãos do inimigo.

A contragosto, estiquei minha mão para ele selando o acordo.

Encontro Fatal Onde histórias criam vida. Descubra agora