A fuga...

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Mateo

A noite chegou e junto com ela a ansiedade para colocar o plano em prática, nada poderia dar errado, culpava-me por ter que sacrificar o carcereiro, mas  não podia simplesmente colocar fogo na cela vazia, além do mais, eu precisava das chaves. Respirei fundo tentando me apegar ao rosto de Amanda, eu iria ao inferno por ela, quando Raul me disse que ela estava viva, meu coração renasceu. Eu precisava vê-la, estancar de vez a ferida aberta no meu peito, por isso eu não ia falhar.

Sentei-me na cama e aguardei o momento exato que o carcereiro entrou nos meus aposentos, ele sempre fazia uma inspeção noturna para saber se não tinha algo ilícito no quarto, ele realizava essa ronda no horário do jantar, eu menti dizendo que não me sentia bem, por isso não saí da cela.

Aguardei calmamente o momento em que ele ficou de costas para mim, por sorte nós tínhamos o físico parecido, o que nos diferenciava era a cor do cabelo e dos olhos, assim que ele se virou, eu o golpeei na nuca com um pedaço de madeira que arranquei da cama, o homem caiu desfalecido aos meus pés.

Eu não tinha tempo para lamentar, retirei sua roupa rapidamente e a vesti. Ele sempre carregava um cantil com uísque no bolso, peguei o objeto e derramei todo o líquido no livro da minha amada. O fogo se alastraria mais rápido no papel, doeu-me desfazer do exemplar, mas era por um bom motivo.

Assim que tranquei a grade da cela e me vi do lado de fora com o homem desmaiado a minha frente, acendi o fósforo e esperei que o fogo consumisse seu corpo.
A fumaça tomou conta do lugar, a maioria dos presos se encontravam na cozinha, eu tinha apenas alguns minutos para fugir até que alguém notasse o incêndio.

O fogo começou a se alastrar por todo o corredor, as paredes velhas não suportaram e desabaram uma a uma, comecei a ouvir algumas vozes implorando por socorro, meu coração doeu, mas eu não podia fazer nada. Vi o fogo consumindo corpos enquanto eu corria desesperadamente.

Não era para o plano tomar essa proporção, tentei me apegar ao fato que se eles estavam ali eram porque mereciam. Corri até que meus pulmões falharam, a fumaça ardia meus olhos, continuei a correr, assim que vi o muro foi inevitável, um sorriso tomou conta dos meus lábios. Por sorte, todos os policiais estavam desesperados tentando conter as chamas.

Agi rapidamente e o escalei com habilidade, assim que me vi do lado de fora do presídio comecei a chorar. O plano tinha dado certo e eu salvaria minha mulher.

O capanga do Raul não havia chegado, me mantive escondido atrás de uma árvore, passaram-se algumas horas até que eu vi um carro conhecido estacionar na frente do presídio, reconheci a silhueta masculina que saiu do veículo e ao seu lado a linda mulher que eu tanto amava. Ele realmente estava viva. Eu quis correr para seus braços, instintivamente meus pés começaram a se mover em sua direção. Ela era como um imã, senti um braço enlaçar meu pescoço e me assustei:

— O que pensa que está fazendo? Quer estragar tudo?— o homem que eu não conhecia gritou.

— Eu só queria vê-la de perto. — falei com os olhos cheios de lágrimas.

— Agora não, Mateo. — o homem me repreendeu — Vamos? Não podemos ficar aqui. — observou — Sou o Oscar.

— Mateo Ferraz.

— Te conheço bem rapaz. — ele falou.

Caminhei ao lado do homem que eu mal conhecia, entramos no seu veículo e fomos rumo a um destino desconhecido pra mim enquanto meu coração ficava nas mãos do inimigo.

Algumas horas depois estacionamos em frente a um casebre do outro lado da cidade, pelo visto ali seria minha casa por um tempo.

— Qual o próximo passo? — eu quis saber.

— Precisamos arranjar documentos falsos para você. — ele observou — você acha que o Lucas vai te reconhecer?

— Acho que sim, mesmo com a barba e meu corpo modificado, a cor dos meus olhos e minha voz são irreconhecíveis.

— Entendo. Se esse plano falhar, estamos mortos. — ele falou— conseguirei uma lente para disfarçar os olhos e uma máscara de meio rosto, vou dizer que você é meu sobrinho, um matador de elite e que está a procura de um novo líder. Em questão da sua voz, podemos dizer que você é mudo. — ele concluiu. — mas ouça, não pode vacilar. Nem perto da senhorita Gonzalez. Entendeu?

— Entendi. Farei tudo como o planejado. Não aguento perdê-la novamente.

— Ótimo, amanhã eu volto. Preciso sondar a mansão e saber se o Lucas realmente está convencido de sua morte.

— Tudo bem. Obrigado Oscar. — estiquei minha mão para ele.

— Não estou fazendo isso por você, por mim sua geração toda queimaria no fogo do inferno, mas sou leal aos Gonzalez. — ele concluiu negando meu aperto de mão.

— Entendo, mesmo assim, muito obrigado mais uma vez.

O homem me entregou uma arma e saiu para providenciar as outras coisas do disfarce. Sentei-me na poltrona velha que havia no casebre, lembrando-me da cena que presenciei alguns minutos atrás. Eu daria minha vida, mas tiraria Amanda das mãos do desgraçado do Matarazzo

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