Café da manhã ☕

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Mateo

Eu tinha que reverter as coisas, tanto com Amanda quanto com Sebastian, acabei sendo injusto com os dois. Vasculhei na cozinha e por sorte tinha os ingredientes para fazer panquecas, as apadrinhei com carinho como panquecas de aniversário, as fiz quando minha noiva completou dezoito anos, e eu mantinha o ritual de fazê-las em todos os aniversários dela, mesmo que Amanda não estivesse presente neles.

Hoje ela não completava mais um ano de vida, mas quis preparar a receita como um pedido de desculpas, a magoei quando disse que não valia um minhão de reais. Mal sabe ela que eu ansiava por mais noites como aquela.

Coloquei um avental e comecei o preparo, devo admitir que com o passar dos anos melhorei muito, a essência de baunilha era o toque especial, torcia para que ela percebesse o novo ingrediente sutil. O quarto se mantinha silencioso, sua indiferença me matava. Ela não retribuiu  meu beijo  muito menos meu abraço. Eu ia pedir uma trégua, estou exausto dessa luta.

Assei as panquecas e o cheiro maravilhoso inundou a cozinha, bati na porta do quarto e a abri, Amanda não tinha se trocado e meu corpo acordou novamente ao vê-la enrolada na toalha, tentei uma conversa amigável mas ela foi dura com as palavras.

Essa batalha seria árdua e dolorosa. Pedi que  se vestisse pois íamos sair, precisava implorar o perdão de Sebastian. Ele era um fiel amigo e eu duvidei de sua índole, para piorar o abandonei a própria sorte na prisão, fui um desgraçado filho da puta. Aguardei até que a mulher da minha vida estivesse pronta.

Alguns minutos depois ela saiu do quarto vestindo a calça preta que usava na primeira noite em que a vi e uma blusa azul de gatinho, era um pijama mas creio que ninguém notaria. Seu lindo cabelo cacheado estava preso em um coque alto. Meu coração bateu duas vezes mais ao notar o quão linda ela era.

- Foi o melhor que deu para fazer com as roupas que tem na sua  gaveta de fetiches.

- Gaveta de fetiches? Como assim? - perguntei incrédulo.

- Só um maluco compra um monte de camisola e lingerie e as deixa com etiqueta, deduzi que fosse um fetiche estranho seu. - ela sorriu sem graça.

Nunca admitiria que comprei aquelas peças torcendo com o dia que ela as usasse, jamais faria isso, era humilhante demais. Apenas retribuí o sorriso e a convidei para se sentar.

- Tome seu café e vamos sair, não tenho o dia todo.

Ela se sentou e eu a servi, coloquei três panquecas em seu prato, reguei com bastante mel e finalizei com morangos, ela sempre gostou disso, torci que entendesse meu pedido de desculpas velado. Ela olhou diretamente em meus olhos e agradeceu.

- Obrigado senhor Ferraz pela benevolência,  realmente amo panquecas. - e sorriu.

- Raquel Resende de novo? Não cola comigo, sei até onde está cada ponto de todas as obras dela. Melhor recitar outro autor.

- Uau! Você é um fã fiel, mas dessa vez quem está agradecendo é Amanda Gonzalez.

- De nada então, agora coma.

Esperei que ela provasse o primeiro pedaço, a satisfação em seu rosto era evidente,  parecia estar em êxtase, o prazer que demonstrava era parecido com o da noite anterior, me segurei para não agarra-la,  vi que um pouco de mel escorreu no canto de seus lábios, sem pensar o limpei com o meu polegar e lambi meu dedo, saboreando a mistura perfeita que era Amanda e mel.

- Isso é muito bom. Uau! A receita original não é essa, não me recordo do gosto de baunilha, nos meus aniversários eu tentava reproduzir a receita mas nunca ficava igual a sua. - ela se calou percebendo que havia falado demais.

- Eu a gourmetizei com o passar dos anos, mas no seu aniversário sempre faço a original para me sentir mais próximo de você. - falei sinceramente.

O silêncio constrangedor se abateu sobre nós, eu queria muito beijá-la, mas não podia. Assim que comemos todas as panquecas, me levantei, não podia perder mais tempo, nesse momento senti as mãos de Amanda se enlaçarem em meu pulso com delicadeza.

- Obrigado mais uma vez.

- Não precisa agradecer, agora vamos,tenho que salvar meu amigo.

Ela se levantou lambendo as pontas dos dedos,  não queria destruir aquela lembrança boa, mas Amanda é uma Gonzales e estaríamos na rua, precisava me precaver. Entrei no quarto, peguei as chaves do carro, um outro celular já que o meu só sobrou os cacos e um par de algemas da gaveta de fetiches, além disso verifiquei meu revólver para garantir que tinha balas, nunca se sabe quando vai precisar de uma, vi a bombinha de ar e a peguei por precaução, ela me odiaria por prende-la mais uma vez, mas não ia correr o risco de perdê-la novamente.

Amanda

Descemos as escadas em silêncio, assim que passamos pela porta da boate o sol penetrou minha pele, o seu calor me esquentou de imediato, respirei o ar fresco e senti a sensação de liberdade, como era bom estar fora daquele loft apertado, Mateo segurava alguns objetos nas mãos, percebi que um deles era uma algema, mais uma vez ele ia me prender destruindo o lindo momento que tivemos juntos a poucos minutos, me conduziu até seu conversível preto e como um cavalheiro abriu a porta pra que eu entrasse.

- Me dê sua mão, terei que te prender de novo. - falou com tristeza.

- Outra vez isso? Por quantas vezes mais terei que passar por isso? Já tá chato sabia? Você me prende e me solta , me prende e me solta. Se fosse um livro os leitores estariam cansados desse enredo. - falei com raiva.

Ele me lançou um sorriso de canto sedutor e me encarou com aqueles maravilhosos olhos azuis.

- Infelizmente Amanda nossa vida não é um livro, e eu vou seguir o meu enredo. Me dê umas das mãos, não confio em você.

Ergui minha mão esquerda para ele e vi  que a algema era erótica, aquelas que se usam para dominar o parceiro, analisei atentamente o material, não seria tão difícil me libertar mesmo sem a chave. Ele a prendeu e conferiu se eu realmente estava presa.

- Ótimo,quero ver conseguir fugir agora. - ele disse.

- Nao me subestime. - retruquei.

Mateo dirigiu tranquilamente pelas ruas de nova Jersey, nem parecia ser um mafioso, nunca entendi como bandidos feito ele e meu pai transitavam tranquilamente pela sociedade, sem ameaça de serem pegos. o dinheiro realmente faz milagres.

O caminho era longo e eu me entediei, como as janelas estavam fechadas não pude admirar a paisagem, infelizmente a única coisa que eu poderia olhar era o Mateo. Admirei cada detalhe do seu corpo,  sua camisa social branca demarcava cada músculo do seu braço, as várias tatuagens lhe davam um ar de perigo, sua calça jeans colada revelava mais do que devia, lambi os lábios quando os pensamentos sórdidos começaram a invadir minha mente, ele notou que eu o observava, passou a mão na minha coxa e a acariciou, aquele toque me estremeceu dos pés a cabeça, ele nem me olhou, continuou focado dirigindo, mas permaneceu com a mão ali por todo trajeto, assim que estacionamos em frente a delegacia,  me ameaçou:

- Não ouse sair daqui, manterei os vidros fechados, mas voltarei logo.

- Você tá louco? Vou sufocar aqui dentro.

- Não vai não, tem ar condicionado. - ele riu fechando a porta do motorista, ouvi quando acionou o alarme do carro, ele tinha pensado em tudo.

Meus olhos foram levados para a arma que ele havia esquecido no banco do motorista, torci para que não precisasse dela, olhei pelo vidro fumê e vi sua silhueta desaparecer assim que entrou na delegacia,me recordei da noite anterior lembrando de como foi bom estar em seus braços novamente, suspirei frustrada e sussurrei para mim mesma " Idiota gostoso".

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