Solidão...

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Mateo

A cela que me colocaram era gélida e fedida, pelo menos o cumbiculo era só meu, não havia nenhum outro hóspede no local. Deitei-me na minúscula cama e deixei a dor me consumir, a cena do acidente se repetia em minha mente todas as vezes que eu fechava os olhos. O cheiro de Amanda estava impregnado na minha roupa, chorei feito uma criança abandonada, o plano do Lucas deu certo no fim das contas, eu estava preso e a filha de Raul morta.

Os dias se seguiram e a dor era minha única companhia, ouvi boatos que minha boate foi destruída e que alguns dos meus homens juraram lealdade ao Matarazzo, aqueles que se negaram a curvar diante do seu poder foram mortos sem piedade.

Alguns dias depois, fui transferido para um presídio de segurança máxima onde me isolei, por sorte consegui papel e caneta, os poemas se tornaram minha válvula de escape. Sei que Lucas não vai me deixar vivo, ele veio me visitar algumas vezes apenas para se certificar do meu estado deprimente, meu semblante está irreconhecível,  emagreci alguns quilos e minha barba cresceu tomando conta do meu rosto, hoje fazem dois meses que ela se foi, contei cada maldito segundo sem sua presença.

Não nego que pensei em suicídio algumas vezes, mas a morte seria a escapatória mais fácil desse sofrimento, se não existisse vida após a morte eu não a veria nunca mais, então, preferi  continuar sobrevivendo com a dor, me forço a lembrar dela todos os dias, do seu sorriso e daqueles magníficos olhos verdes, não tive tempo de pedir perdão nem de falar o quanto a amava.

Amanda morreu por minha culpa, pelo meu egoísmo. Devia ter abandonado o maldito cartel, no fim, perdi os dois de toda forma e meu inimigo venceu. Mereço estar aqui, e vou viver com a dor para sempre, até o final da minha existência.

- Ferraz? Você tem visita. - o carcereiro falou me tirando do devaneio.

- Não quero ver ninguém. - respondi com rispidez.

- É uma moça bem gostosa que tá lá fora, falei com ela que hoje não é dia de visita íntima, ela insiste em te ver.

- Uma mulher? Não imagino quem seja. - falei abismado me levantando da cama.

- Vou te levar até lá. - o homem disse destrancando a cela.

Caminhamos em silêncio pelo amplo corredor, assim que avistei a silhueta feminina reconheci a mulher em questão, Patrícia me olhava com ternura e pena. Sem pensar muito, ela me abraçou carinhosamente.

- Eu sinto muito. - sussurrou em meu ouvido.

- Também sinto. O que faz aqui? - perguntei surpreso.

- Vim te ver, desculpe a demora. Estava fugindo do desgraçado do Lucas. Aquele filho da puta colocou uma tropa de homens atrás de mim.

- Por qual motivo? - quis saber

- Me neguei a deitar com ele e não quis jurar lealdade ao seu maldito cartel. - ela cuspiu com raiva.

- Ele jogou sujo e venceu, infelizmente a vida é injusta.

- É sim, sinto muito pela morte da Amanda, foi noticiada em todas os jornais, fico chocada como Raul saí como herói nas reportagens mesmo sendo um bandido da pior espécie. - ela observou.

- Quanto mais aliados você tiver, mais fácil escapa dos problemas. Meu pai nunca foi preso porque tinha alianças poderosas ao seu lado. Ao contrário de mim, ele era um líder nato.

- Não diga isso. O único erro que cometeu foi amar demais e ninguém pode te culpar por isso.

- E esse maldito amou me destruiu e ainda a tirou de mim. Será que realmente valeu a pena? - questionei.

- Infelizmente eu não sei. Sempre invejei a Amanda, a forma que você olhava pra ela, o carinho nas palavras. Ela teve sorte em ter você, mesmo que foi por pouco tempo.

- Sortudo fui eu , mesmo que nosso amor foi amaldiçoado, valeu cada segundo que passei ao lado dela.

- A visita acabou. - ouvi o policial gritar impaciente.

- Tenho que ir, vou tentar voltar mais vezes. Consegui pegar isso antes do fogo consumir seu loft. Espero que te console um pouco, você sempre lia essa história. - ela falou retirando um livro de Raquel Resende da bolsa.

- Muito obrigado. Você é uma ótima amiga. - agradeci pegando o livro como se fosse o bem mais precioso da minha vida. - Se cuida. - falei docemente.

- Você também. - ela respondeu e saiu me deixando ali com minha tristeza mais uma vez.

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