Os dois lados da mesma moeda

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Amanda

Abri a gaveta para pegar uma roupa, não podia dormir de calça jeans, fiquei abismada ao perceber que todas as peças estavam devidamente dobradas e com etiquetas, ninguém nunca as havia usado. Me perguntei por qual motivo Mateo comprava roupas femininas e as guardava com etiquetas, talvez fosse algum fetiche estranho. Encontrei um pijama de gatinho que achei lindo, o vesti e ele serviu como se tivesse sido comprado para mim.

Abri a geladeira e peguei um resto de pizza, a esquentei no microondas enquanto arquitetava um plano de fuga. A porta estava trancada, olhei a janela e a estudei, talvez se eu pulasse quebraria um braço, nada tão trágico. Olhei mais atentamente e cheguei a conclusão que uma queda do quinto andar poderia me matar, não valia o risco. Eu estava exausta, poderia dormir um pouco e amanhã pensaria melhor, fui até a cozinha e peguei uma faca, a coloquei debaixo da almofada e me acomodei no sofá, a imagem de Mateo não saía da minha cabeça, lembrei-me que tudo entre nós poderia ter sido diferente, mas infelizmente não foi. Nem percebi quando fui vencida pelo cansaço e adormeci.

10 anos antes

Raul Gonzales

Se tem uma pessoa que eu mais odeio nessa vida é Alberto Ferraz, o desgraçado roubou o amor da mulher que sempre amei, Raquel se casou comigo por questões de poder, seu pai a havia prometido a mim quando era apenas uma criança, nosso casamento foi combinado com o intuito de prevenir uma guerra, e agora eu estava assinando o contrato de casamento da minha única filha com o mesmo propósito.

O cartel Matarazzo é a potência mais forte no momento, se os Gonzalez e os Ferraz não se unissem ambos seríamos exterminados sem dó nem piedade, antes de aceitar a proposta de união tentei contato com o cartel Matarazzo oferecendo aliança e infelizmente não obtive resposta. Minha potência estava enfraquecida depois que a polícia interceptou nossa exportação de drogas, perdi no total 7 homens: 4 mortos e 3  presos, a operação foi um fracasso e deixou um rombo altíssimo no cofre.

Eu não podia arriscar, quando Alberto me propôs o acordo, tive que guardar meu orgulho no bolso e aceitar, era isso ou perderia o cartel de vez, já que não tinha recursos suficientes para lutar numa batalha.
Alberto e eu éramos amigos de longa data, e nem sempre houve rivalidade entre nós, até que ambos nos apaixonamos por Raquel, ela sempre correspondeu ao amor do meu inimigo e aquilo me machucou profundamente, como nosso casamento estava marcado eu a proibi de vê-lo, o desgraçado invadiu minha propriedade e tentou rapta-la, entramos numa luta corporal, eu era mais habilidoso e venci, ordenei que meus capangas o matassem, mas Raquel implorou  piedade, como eu a amava cedi, em troca a fiz prometer  que nunca mais o veria.

Desde então, os Ferraz e os Gonzales vivem nessa guerra, o ódio me tomou e eu maltratei Raquel até seu último suspiro de vida,  sempre enxergava nela a traição. Mesmo depois do nascimento de nossa filha não foi diferente, quando ela morreu senti um alívio, pois sabia que meu inimigo sofreria.

Agora estava aqui, no meu escritório, combinando os últimos detalhes da nossa união, se ao menos tivesse outra forma.

- Assim que o casamento for consumado, Mateo será o novo comandante de ambas potências. - Alberto falou orgulhoso.

- Sim, mas terá que acatar todas as nossas decisões. Ele será apenas o representante legal por direito.

- Claro, meu filho tem muito potencial.

- Eu não acho, ele é fraco. Mas não tenho outra escolha. - falei com raiva.

- Infelizmente nem eu.

- Ótimo, o acordo só pode ser quebrado se uma das partes morrer ou o casamento não acontecer. Correto? - perguntei.

- Correto. Meu filho vai ser um ótimo líder, tenho absoluta convicção disso.

- E marido? Ele vai ser um bom marido?

- Assim como você foi para Raquel, acho que é válido, destruir sua filha como você destruiu a mulher da minha vida. - ele ameaçou.

- Lembre-se que Amanda é filha da Raquel. Tem certeza que quer fazer isso?

Vi dúvida em seus olhos, apesar dos anos o filho da puta ainda amava minha falecida esposa.

- Não sei, mas ficaria feliz em vê-lo sofrer. Passar bem Raul, preciso ir.

Eu apertei sua mão com firmeza e o vi sair em silêncio, se eles machucassem minha menina eu teria que matá-los, além do cartel, Amanda era a única coisa que me importava, e eu a protegeria de todas as formas possíveis.

Encontro Fatal Onde histórias criam vida. Descubra agora