Vingança não é algo que eu desejaria para alguém. A vingança é cruel. É uma parte do ser humano distorcida, onde tudo o que se passa na cabeça dele é o mero pensamento de que ele pode fazer justiça com as próprias mãos. Como se o ato de julgar fosse, por direito, nosso.
Mas a questão é que, quando aqueles olhos demasiadamente bonitos pousaram em mim, a minha primeira ação foi pensar em como seria bela a cena em que eu o banhava de rum com estilhaços da própria garrafa, quebrada, cruelmente, em sua cabeça.
Meu pai carregava tal beleza irresistível. Tinha o rosto formoso, dentes perfeitamente alinhados; o cabelo loiro areia caía em um penteado elegante. O nariz era esbelto e o sorriso, de covinhas do meu irmão, era lindo. Mas tamanha beleza não fazia jus ao seu caráter. Enquanto ele era admirado por ser bonito, Markus conseguia ser pior do que cruel.
O que, lógico, aumentava meu desejo de fazer um corte bem profundo por seu estômago. Talvez afundar uma lança em suas entranhas. Não sei. Era difícil decidir o que fazer primeiro.
Ele levantou-se da cadeira, com passos vagarosos, até mim.
Os soldados me soltaram e pude ficar, finalmente, frente a frente com meu pai, livre para poder socá-lo. Só que Markus sabia que eu não o faria.
Tinny ainda estava por lá e sua vida dependia da minha colaboração.
— Que tal tratarmos de nossos assuntos pendentes?
— Quais? O assunto em que você é um escroto ou o que deixa de ser pai?
Não sei porquê ele riu.
Ele recostou na mesa de madeira de carvalho, parecendo um tanto mais jovial do que o costumeiro. As olheiras haviam sumido; em seu lugar, uma pele perfeita assumira.
Nem parecia que era bebum.
Nem mesmo que estava em seus plenos sessenta e quatro anos.
Como a vida de um ser humano dura, em média, cento e vinte anos, meu pai era jovem demais. Havia pouco cabelo grisalho em sua testa.
Ele deu duas batidinhas na mesa, deslizando o olhar por seus guardas até pousar em mim de novo. Se não o conhecesse, diria que havia um olhar mais humanizado, como se, de repente, sentisse de fato amor por mim.
— Você conseguiu fugir das três vezes em que tentei te trazer para cá. Eu admito, fiquei muito impressionado. Achava que você era mais covarde.
— Ora, é mesmo? Poxa, talvez seja porque suguei toda a inteligência do seu cérebro antes de nascer.
Ele abriu um sorriso amargo.
— Você puxou o sarcasmo da sua mãe.
— Não mencione minha mãe como se isso fosse normal.
— E não é?
— Para quem a manipulou para que tivesse dois filhos, eu não acho que seja.
Por um breve momento, vi suas sobrancelhas subirem e descerem em um movimento de surpresa. Ele não esperava que eu soubesse.
Me questionava quando é que ele me contaria.
— Já que sabe, então deve imaginar o que vai acontecer com você nos próximos meses.
Engoli em seco. Ah, imaginava. Tantas e tantas vezes, que acabei deixando uma trilha de lágrimas no trem antes de chegar à Ayllier. Por medo, talvez, ou pela incerteza de um final. Talvez pelo vazio; a falta de Yüksek.
Não sabia onde ele estava. Nem se estava vendo minha situação, mas, por um momento, desejei rogá-lo para que viesse me buscar. Se eu morresse pelas mãos do Imperador, meu pai não poderia fazer nada comigo.
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Arthora | A Ascensão dos Sete Reis
FantasiaGaëlle nunca imaginou que sua vida poderia se tornar um pesadelo tão cruel novamente: prisão, tortura e o desprezo constante. Cada dia é uma luta, e suas preces se tornam súplicas desesperadas por um retorno ao lar, ansiando pela oportunidade de exp...