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Na escada, ouviu-se um som. Talvez de guardas subindo, talvez de vozes incessantes, talvez de uma busca pelo perdido.

Não sei.

Apenas sei que minhas pernas falharam, mas eu não gritei. Senti o peito se apertar, o rosto doer e as mãos ficarem, de repente, frias.

Quando o quepe de alguns soldados apareceram no topo da escada, eu fui puxada para trás. Eu esperneei, como uma criança, chutando o vestido ao invés da pessoa.

Mas então, entendi quem era.

Meu coração disparou.

Ele me virou, espremendo-nos na penumbra. Sua mão estava sobre minha boca, mantendo-me em silêncio. Os olhos verdes vibrantes de Renoward não foram retirados de mim um segundo sequer, até todos os guardas rodearem o andar e descerem novamente.

Então ele me soltou.

Lhe dei um tapa.

— O que estava pensando? Pensei que estivesse morto!

Renoward não esfregou o braço antes de me olhar com desdém e um pouquinho de raiva.

— O que você está pensando? Será que não percebe a péssima ideia de andar sozinha por um lugar desconhecido?

— Você age como se eu fosse uma criança.

— Às vezes, você age como uma. Não tem senso de autopreservação. Já imaginou o que aconteceria caso você morresse?

Cruzei os braços.

— Nem parece a pessoa que disse com todas as letras que me despacharia.

Os ombros de Renoward vacilaram. Apenas um pouquinho, para que eu conseguisse ver. Apesar da penumbra, percebi suas mãos fechadas em um punho, livres do couro.

Por algum motivo, dor pareceu tomar seus olhos.

— Só estou tentando evitar um caos maior.

Por alguns momentos, pensei que Aaden estivesse errado quanto à Renoward. Que o príncipe de Sulman realmente seria frio o bastante para brincar comigo e me despachar.

Mas antes que esse pensamento se alastrasse, ele virou-se para mim, passando a mão no cabelo preto, e a promessa que estaria ao meu lado retornou aos meus ouvidos.

Então, percebi o quão atraente ele estava.

Usava um colete, como de Ayaz, mas de um tom carmesim, que realçava o verde dos olhos. As sobrancelhas pretas e retas, estavam arrumadas, assim como o cabelo, penteado para trás e abandonando alguns fios na testa. De longe, parecia um mágico do circo.

A máscara preta, infelizmente, continuava ali.

Renoward ergueu a mão, colocando-a por trás do meu pescoço e acariciando minha têmpora. Sua outra mão estava no bolso, percebi.

Senti meu corpo relaxar por seu toque.

Sua carícia parecia mais um pedido de desculpas silencioso, uma prece para que eu o compreendesse.

O olhar de Renoward parecia distante.

— Aaden disse que você mentiu.

— Disse, é?

— Disse.

— Hm.

Uma pausa. Uma respiração entrecortada. Uma pontada no peito.

— Renoward...

— Eu sei o que vai dizer.

O príncipe retraiu, afastando-se um passo.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora