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Eu agarrei Vanella a tempo de cortar uma gárgula ao meio.

Haviam milhares delas rodopiando o céu, como morcegos cinzentos e com o triplo de tamanho, com um som horrendo.

Zylia atingiu três com apenas uma flechada. Quase nunca a vi usar o arco. Entretanto, a tenente carregava a arma para todos os lados. Ela retirou mais uma flecha da aljava, acertando o olho de mais uma, que saiu em um estrondo de arrepiar a espinha, espiralando pelo chão.

Então, virou-se para Aaden, que também acertava diversas delas à distância. O som de sua arma quase não podia ser ouvida por conta do som das gárgulas.

— De onde isso veio?

Portos lançou um olhar tensionado para a princesa antes de agarrar uma das aves e jogá-la no chão, pisando na cabeça e matando-a. O som agonizante do bicho me fez retorcer o nariz.

— Asriel — foi o que Aaden disse.

Zylia arregalou os olhos.

— Que peste!

E atingiu mais duas, uma em seguida da outra.

— Como sabe que foi ele? — questionei-o.

Com a cabeça, Aaden apontou a direção do jardim.

— Estava nas árvores. Se apostar a má sorte, e se é que isso existe, ele ouviu nossa conversa. Zylia, onde estão os outros?

— Eu não sei! Não tinha ninguém no acampamento quando cheguei aqui.

Cortei mais uma górgona ao meio, reclamando pelo cheiro do sangue que respingou no meu rosto.

— Ninguém? Como assim não tinha ninguém, Zylia?

— Eu também não sei. Estava prestes a ir atrás de vocês dois.

A tenente retirou mais uma flecha prateada da aljava, atingindo outra gárgula, longe no céu. Aaden pisoteou mais uma, antes de agarrar outra e quebrá-la contra a árvore. Uma delas agarrou meu ombro, mas enfiei Vanella antes mesmo que aquela avezinha miserável rasgasse minha pele.

Elas rodopiaram, céu acima, fazendo o som mais horrendo que já ouvi. Um grito ensurdecedor, de desespero, de medo. Aflição.

Elas estavam correndo de nós.

Observei Zylia. A respiração dela estava pesada.

Então, ouviu-se palmas.

Viramos para trás quando tropas e mais tropas, de cavalos marrons e pretos nos cercaram. Havia um homem, de pele escura e cabelos cacheados. Seus olhos eram de um castanho marcante. Ele era forte e grande. Usava um gibão vermelho, adornado por ouro e botões de pedras preciosas.

Ele sorriu.

— Até que são bons nisso. Eu nunca duvidei, na verdade.

Então, lançou-me uma piscadela. Eu quis jogá-lo de um precipício.

— Mas eu te avisei, Gaëlle. Não deveria levar as pessoas que você ama a territórios indesejados. — Ele deu de ombros. — Coisas ruins acontecem quando você age assim.

Perdi o equilíbrio.

— Harvey.

— Olá, princesa.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora