Eu não sei como encontrei o Jardim. Também não me recordo como cheguei até lá. Apenas me lembro de ter parado de frente para os portões prateados, trêmula e molhada de suor. Me lembro de ter tocado a barra gelada e molhada, desejando encostar a testa e lamentar apenas um pouco.
Entretanto, não havia tempo.
Com força, balancei as grades, mas elas não abriram. Apenas fizeram um som alto e os pássaros voaram para longe.
— Por favor, por favor, Yüksek. Zylia vai morrer se eu não abrir isso aqui e conseguirmos fugir. Não podemos voltar depois, não há chances disso. Se pisarmos aqui de novo, Harvey pode fazer muito pior! Me ajude a abrir o portão.
— Mas você não precisa abrir.
Virei-me, de repente, com o peito acelerado. Levando a mão ao peitoral, massageei-o, engolindo em seco como se isso fizesse com que meus batimentos se acalmassem.
Havia uma mulher na minha frente. Ela me encarava, alegre. Seus cabelos eram azuis, como o céu em um dia sem nuvens. Os cachos caiam formosos até a metade das costas. Ela usava um vestido azul cintilante, que, modéstia a parte, era belíssimo.
Ela piscou duas vezes antes de abrir um sorriso ainda maior, se era possível.
Talvez eu estivesse alucinando uma solução. Quem sabe isso não fosse verdade? Talvez estivesse com tanta pressa para garantir que Zylia estava bem que comecei a alucinar.
Esfreguei os olhos.
Ouvi a risada da mulher.
— Não sou uma alucinação. Mas tudo bem se quiser achar que sim.
— Como assim tudo bem? Quem é você?
— Meu nome é Tikvah. O Imperador me mandou aqui.
— O quê?
— Bem que ele disse que você duvidaria. Ele pediu para eu te guiar até o centro do Jardim.
Isso era, no mínimo, estranho. Nunca vi algo assim.
Com hesitação, dei dois passos para trás, sentindo o frio gelado das grades.
A mulher juntou as mãos na frente do corpo, observando-me com uma mansidão que nunca vi. Ela abriu um sorriso.
— Não fique com medo. Você saberia caso eu quisesse te prejudicar. Eu estou sozinha, sem armas e nem frascos para fazer você desmaiar.
— E como posso saber que posso confiar em você?
Tikvah balançou a saia rodada como uma menina que brinca quando criança.
— Já fui igual a você.
— Você quer dizer perdida?
— Não. Quero dizer desconfiada. Caso se sinta ameaçada, pode tirar uma das suas armas dos bolsos e me acertar. Apenas certifique-se de que não acerte o coração, ainda é muito cedo para morrer.
Ela estendeu a mão.
— Venha. Vou guiá-la até o centro do Jardim.
A garota de cabelos azuis e vestido deslumbrante, recolheu a mão, esticou as costas e sorriu, alegre, começando a andar. Precisei de alguns segundos, raciocinando, para decidir correr atrás dela.
— Faz muito tempo que você está aqui? — ela me perguntou. — Em Parvin?
— Acho que perdi as contas. Três dias, talvez.
— Bom, não são tantos dias assim. Você não me parece estar gostando.
— É porque não estou.
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Arthora | A Ascensão dos Sete Reis
FantasyGaëlle nunca imaginou que sua vida poderia se tornar um pesadelo tão cruel novamente: prisão, tortura e o desprezo constante. Cada dia é uma luta, e suas preces se tornam súplicas desesperadas por um retorno ao lar, ansiando pela oportunidade de exp...