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Ao cair do dia seis, o tique-taque pulsante foi o que nos fez agir.

Enquanto Liana e Tinny escondiam-se na penumbra, eu peguei a ponta da caneta que tinha escondida e fiz um corte no meu braço. Assim que o fiz, puxei uma parte da corrente, enrolando-a, suave, no meu pescoço.

Não puxaria, de qualquer forma.

Foi Tinny que gritou por ajuda.

Os guardas entraram correndo, arrancaram-me das correntes, estancaram o sangue e me arrastaram, direto para o escritório do meu pai.

Liana ficou responsável por roubar uma chave na confusão toda para que abrissem a porta da sala. Como espectro, ela sabia exatamente como fazer. Não era tão difícil para ela, durante o calor do momento, enfiar a mão no bolso deles.

Quando fui deixada no escritório trancado do meu pai, algemada, Ayllier ainda estava em silêncio.

Do lado de fora, eu sabia que haviam guardas, esperando por qualquer barulho. Mesmo assim, contei os segundos.

Dez, depois quinze. Nesse meio tempo, alcancei um pincel na gaveta da mesa de madeira.

E então, quando o relógio bateu quarenta e cinco segundos, eu bati à porta, pedindo por ajuda. Um guarda de farda branca entrou. Eram eles que ficavam no compartimento de salas, antes do porão.

Antes mesmo que ele pudesse fechar a porta, levei a mão no peito, gritando de dor. Lágrimas saíram dos meus olhos. Sentindo as mãos trêmulas, encolhi-me no tapete de pele de urso, sentindo o cheiro de madeira antiga.

Ao aproximar-se, o guarda tentou chamar por um médico e eu o atingi com a parte fina do pincel na cabeça. Ele caiu duro no chão. Isso nos daria apenas mais quarenta e cinco segundos para que tudo fosse completado ali.

Se batemos em um guarda, a sua roupa entra em estado de alerta e chama outros para o mesmo recinto, provavelmente indicando que algum prisioneiro o atingiu e assim, impeçam de escapar. Eles chegariam a qualquer momento para nos barrar e Markus provavelmente já estava sendo alertado do que ocorria.

Momentos depois, Liana apareceu correndo. Entrou no recinto e escancarou a porta que dava acesso ao porão.

Essa porta nunca ficava trancada. Estava no escritório de Markus afinal. Tinha que passar por ele para conseguir ao menos pensar em ir até o porão.

— Boa sorte — disse ela. — Contamos com você.

Liana desceu correndo. Permaneci agachada, pensando em uma forma de soltar meus pulsos. Precisaria deles livres. A corrente não era muito curta; ela me permitia esticar o braço. Isso me deixava com uma pulga atrás da orelha que dizia que Markus realmente acreditava que eu não tentaria fugir.

Coitado.

Fechei os olhos quando o relógio bateu quinze segundos e um barulho alto foi ouvido. Um alarme começou a soar. Acho que ouvi um grito de dor.

Desci as escadas em direção ao Jardim de Uxtan.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora