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Eu tive um vislumbre de olhos amarelos quando percorri a trilha até a Estrada de Jônix. Não parei para ouvir nem para ver.

O sentimento revoltante que se instalou em mim foi bizarro. Não sabia diferenciar entre raiva ou decepção. Mas, de verdade, nunca pensei que me sentiria de tal forma ao ouvir tão duras palavras.

Já tinha ouvido piores. Meu pai sempre me humilhou de todas as formas possíveis. Ainda assim, a frase de Renoward soou como um corte tão profundamente feito. Não compreendi. Não compreendi o que ele disse, nem quem ele era, nem o que ele queria.

Só, de repente, não queria mais vê-lo.

Então, seu cuidado todo foi por interesse? Claro, não me importava com isso. Mas ele nunca se importou minimamente de volta?

Queria xingá-lo, mas então, de súbito, apenas não queira vê-lo. Se mantivesse distância, não descarregaria palavra nenhuma. Porque, de súbito, não sentia mais nada.

Ajoelhei-me naquele trecho da Estrada de tijolos amarelos, sentindo o peito vazio vazio. Não entendia o que estava acontecendo, só que estava acontecendo.

Ele não se importava. Renoward era tão frio quanto os boatos no acampamento, meses atrás, diziam.

Ele nunca se importou.

Ou se importou? O medo que exalavam em seus olhos, o que aquilo significava? Do que ele tinha medo? De dizer a verdade?

Qual era a verdade?

Levantei a cabeça. O vento soprou, balançando meu cabelo ruivo, com os fios cobrindo parte da minha visão. Recusava-me a chorar. Já chega disso.

Por que estava tão sentida, eu nem mesmo me importava com ele! Renoward não dar a mínima para mim era o esperado. Ele só fazia o trabalho dele e pronto.

Será que ele nunca se importou mesmo?

Por favor, não. Essa possibilidade não.

Levantei-me, sentindo as pernas bambas, os braços doloridos.

Uma dor de estômago me atingiu.

E então um cheiro pútrido.

Na minha frente, havia um monstro que pingava a verde e marrom. E que tinha a pele asquerosa, chamuscada e enrugada. E que cheirava a vermes e flores de moscas.

Reprimi um grito.

Não tinha olhos amarelos, mas babava uma gosma bege.

O monstro fungou, sentindo meu cheiro. Deu um passo para frente, enquanto eu, sutilmente, dava um para trás. Ele fungou de novo, pedindo mais do meu cheiro.

Dei outro passo. Meu coração estava acelerado. Medo quase travava minhas pernas.

E então mais um. Um estalo. Tinha quase certeza de que eu não tinha pisado em um galho.

E o monstro me atacou.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora