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Ao me ver soluçar, do outro lado do ponteiro, Markus abriu um sorriso.

Ele gostava de me ver assim. Gostava quando eu tremia de dor.

Encolhi-me pela angústia que amarrou meu coração.

Por que mesmo estava fazendo esforço para ir embora?

Puxei o ar com força, ficando de pé. Agarrei o galho que segurava com tanta força que as farpas infincaram na palma da minha mão.

Olhei para trás. Markus espremia o nariz em uma reação de nojo, com os dentes cerrados ao me ver levantar o galho do Jardim de Uxtan, como se fosse uma espada, na direção dele, como se eu pudesse lhe acertar o coração. Cerrei os olhos, desafiando-o a vir atrás de mim. Ele fechou um punho.

Corri como se não houvesse amanhã.

Quando o ponteiro de segundos cruzou com o de minutos, ele quase me acertou. Sua ponta afiada pegou nas minhas costas, fazendo um corte da esquerda para a direita.

Eu caí no chão, arrastando-me. Tremi com a dor.

As pedras no chão fizeram alguns cortes no meu braço e nas minhas pernas quando elas se arrastaram pelo solo. Eu abracei o galho com força. O tintilar da corrente longa o bastante para me permitir levantar o braço parcialmente fez um barulho alto.

Assim que meu corpo parou de deslizar sobre o chão duro, eu me levantei rapidamente, e corri, empurrando a porta pesada de peltre para entrar no corredor do Interrogatório. Minha visão estava embaçada.

Concentre-se, a voz de Renoward soou na minha cabeça. Mantenha a calma em momentos de medo.

A sala de interrogatório era cumprida. Para atravessá-la por completo, era preciso passar por todas as salas. Mas haviam algumas portas espalhadas pelo corredor que me dariam acesso ao laboratório.

Assim que entrei, um grupo de guardas avistou-me. Levantaram-se, correndo em minha direção com as armas, prontos para me pegarem e prenderem de novo. Corri na direção deles, sem mudar o foco. Pulei sobre a mesa onde havia um prisioneiro acorrentado a ela.

Minha perna quase falhou quando bati contra o chão. A dor eletrizante subiu por minha coluna.

O guarda tentou agarrar meu braço, mas eu fui rápida o bastante para agarrar uma faca em seu coldre e fazer um corte em sua mão. Com mais um movimento ágil, atingi-lhe a barriga.

Outro me atacou por trás, acertando minha perna machucada, mas eu fiz bom proveito da situação e cortei o joelho dele quase tirando-o da perna.

Uma arma já estava comigo. Continuei a correr, torcendo para que nenhuma daquelas balas que chicoteavam na parede não me acertassem.

Atravessei mais uma porta, sentindo as pernas moles e o coração acelerado. Não havia ninguém nesta sala. Antes que ultrapassassem a porta, girei a maçaneta e infinquei a faca nela. Isso os atrasaria.

Continuei a correr.

Ultrapassando mais uma sala, encontrei outra porta de peltre.

Ao atravessá-la, entrei no laboratório. Houve um estouro quando os cientistas viram-me correndo. Havia uma garota sentada em uma cadeira, presa como eu estivera uma semana atrás. No pulso, não havia pulseira nenhuma.

Desviei quando vários deles vieram para cima de mim. Empurrei um em cima de outro, e deslizei entre as pernas de um. Agarrei o carrinho, acertando outro no estômago.

Um dos homens tentaram me dar um soco, mas eu agarrei sua mão, girando-a para trás. Usei a perna dele como apoio para subir e enforcá-lo com as pernas. Assim que ele caiu, desviei-me de outro, alcançando um bisturi em cima de um dos carrinhos.

Fiz um corte em um deles, quase acertando seu olho. Por um momento, fiquei feliz por quase deixá-lo cego.

Os guardas do meu pai apareceram atrás de mim.

Continuei a correr.

Atravessar o laboratório era fácil. O problema era se qualquer um deles me acertasse. Estavam tão em cima de mim que eu quase podia sentir a respiração deles.

Desviei das cadeiras elétricas, mesas de metal geladas, máquinas esquisitas, frascos com sangue e xixi, papéis de exames e instrumentos de metal. Quando passei por outra bandeja cheia de utensílios médicos, agarrei outro bisturi.

Me abaixei quando um deles apareceu do outro lado e tentou me acertar com o peso dar armas letais que usavam. Deslizei pelo chão gelado, cortando seu pé com um bisturi. Ele berrou, caindo.

Uma rede foi jogada na minha direção.

Em instantes, parei de correr, vendo a rede cair na minha frente. Poderiam ter me capturado.

Olhei ao redor. Os guardas, trajando branco e cinza formavam um círculo grande. Alguns deles, entreolhavam-se, perguntando-se como já tinha chego ali.

Mais um minuto.

Agora eu tinha apenas três.

Não conseguiria lidar com todos sozinha. Mesmo se eu quisesse, eu não tinha forças o bastante para aguentar todos aqueles homens.

Com a respiração entrecortada, a escuridão estressou meus olhos. Não conseguia vê-los corretamente e, de repente, senti-me zonza.

A porta do laboratório se abriu, revelando meu pai. Ele retorceu a boca em desgosto e bateu palmas.

Ah, então foi por isso que os guardas não atacaram. Estavam esperando ordens do meu pai.

— Nossa! — disse, esticando as mãos em um gesto exagerado. — Ótimo show. Perdeu sua amiga e uma espectro minha. Mais algum estrago para me causar?

— Todos que eu puder.

— Seus amigos logo serão seus colegas de sala.

— Não encoste um dedo neles!

Markus entrou no círculo, andando até mim e segurando meu rosto com força.

— Eu quero ver você me impedir.

Senti vontade de chorar.

Com um movimento, retirei o bisturi da manga longa da camisola e o enfiei no peito direito do meu pai. Ele urrou de dor, dando dois passos para trás. Seus guardas, priorizando o rei de Uxtan, correram para acudi-lo.

Agarrei o braço de um que tentou me segurei, infincando o outro bisturi no queixo dele, sentindo seu sangue escorrer sobre minha roupa e minhas mãos.

Aparentemente, não perceberam que eu havia pego dois utensílios médicos. Outro veio para cima, mas eu agarrei um monitor cardíaco e acertei em cheio o nariz dele e bati com tudo na cabeça de outro.

Então corri para fora do laboratório, o mais rápido que pude.

A lufada de ar com o cheiro de podridão e terra quase me fez perder o ar. Naquele corredor, teria que dar minha vida para escapar de todos os guardas que me avistaram.

Com os pés latejando de dor pelo chão áspero, corri em direção ao que parecia ser uma barra de ferro. Agarrei-a, e coloquei nas maçanetas da porta de peltre segundos antes de ser encontrada por alguns guardas. Eles se entreolharam.

Um deles me atacou, tentando bater sua bota em mim. Desviei, recebendo um chute logo em seguida. Agarrei a perna de um antes que ele pisasse para tentar quebrar meu nariz e girei, derrubando-o ao bater em seu calcanhar, com força. O outro desferiu um golpe na minha barriga. Encolhi-me quando a bile subiu, mas o galho do Jardim me foi útil novamente.

Infinquei-o no joelho do guarda, ouvindo-o berrar, então chutei sua virilha, observando-o cair para trás. A porta de peltre moveu-se, balançado freneticamente para que abrisse. Ouvi a voz de Markus.

Estava tão exausta que, de repente, desejei entregar-me.

Antes que eu pudesse soluçar de raiva, medo e tristeza, eu me virei, e corri prisão a dentro, para longe da porta principal.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora