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O que um médico especialista em Valyriunms faz no território dos Konathus? Não sei. Não cheguei nessa parte. Antes que qualquer partícula se movesse naquele lugar, alguém bateu a porta.

Todos nos entreolhamos.

Eu levei a mão a testa, esfregando-a. Só podia ser brincadeira...

Minha paciência parecia estar no limite nos últimos tempos. Principalmente depois de descobrir que Harvey queria usar o casamento para conseguir poder. Não sabia que tipo de poder ele queria, mas isso era fato.

Aaden apressou-se e foi até a porta abrindo uma pequena fresta.

— Ah, ai estão vocês. Este lugar é tão grande, virou um labirinto! — Uma risada divertida foi ouvida.

Eu conhecia aquela voz. Olhei para Alyssa. Ela arregalou os olhos.

Fez que não com a cabeça.

Olhei para Portos.

— Aaden...

Ele voltou-se para mim.

Indiquei a porta com a cabeça. Ele deu de ombros de uma forma sutil e negou com a cabeça. Ele não sabia quem era.

Ótimo. Aquela sala no andar debaixo parecia um devaneio na minha cabeça, mas aparentemente, Alyssa esteve mesmo junto comigo onde conhecemos Levent.

Fui até a porta e espiei pela fresta. Os olhos castanhos do homem de cartola caíram sobre mim. Ele abriu um sorriso.

— Oi, Gaëlle. Se importa se me ajudar a resolver um assunto?

— Eu...

— Que assunto? — Renoward manifestou-se.

Com um profundo suspiro, abri a porta e deixei que Levent entrasse. Ele ainda trajava a roupa esquisita dele e carregava a bengala, mesmo que não demonstrasse precisar dela.

— Na realidade, apenas queria agradecê-la por...

Ele parou quando viu Zylia. De repente, toda a alegria foi substituída. Seus ombros curvaram-se e os olhos refletiram dor.

Levent tinha a boca carnuda e o nariz grande. Seu cabelo era cacheado e muito preto; era muito bonito. Ele era magro, mas eu conseguia ver seus músculos por debaixo da roupa.

— O que aconteceu? — perguntou.

Ayaz parecia estar prestes a quebrar o primeiro vaso na cabeça de alguém. Sem levantar os olhos, pude ver os nós das mãos do rei, brancos.

— Aquele imbecil do...

— Ayaz! — chamei.

Ele me lançou um olhar feio, mas não disse nada. Virei-me para Levent.

— Foi Harvey. Aparentemente ele consegue mover as coisas com mãos invisíveis.

O homem de cartola levantou um dedo.

— Isso se chama telecinese. E... — Fez uma careta perplexa, sem tirar os olhos de Zylia. — Nossa, não imaginava isso.

— Muito menos eu.

Senti um toque suave sobre meu braço. Alyssa indicou o corredor.

Voltei-me para o pessoal. Nossa, como senti falta deles...

— Já voltamos.

Com um sorriso sem graça, eu e Alyssa fomos para o lado de fora, onde ela esfregou o rosto de preocupação.

— O que você está pensando?

— Deu de exortar-me igual seu irmão?

Ela relaxou os ombros.

— Não é isso. É que... Levent é manipulador. Um grande manipulador.

— E quem não é?

— Gaëlle, eu só estou com medo. Ele fez coisas terríveis!

— Ayaz também fez e ele está conosco há muito tempo. Inclusive, está agora cuidando de Zylia.

Alyssa suspirou.

— Quando o conheci, ele manipulava a mente das pessoas. As faziam ficar aprisionadas e viciadas. Ele é um ilusionista. Ele planta coisas na sua mente que são difíceis de tirar depois.

Quando eu fiquei em silêncio, Alyssa respirou fundo e colocou as mãos sobre meu ombro.

— Eu sei que quer confiar nele e eu também quero. Principalmente porque ele parece seguir ao Imperador. Porém, eu não acho sábio deixar com que ele veja o quanto nosso grupo está vulnerável. Aaden está machucado, você está machucada, Tinny ainda não se recuperou totalmente, Zylia talvez nem mesmo acorde... Deixar com que ele saiba das coisas pode piorar nossa situação caso algo ruim aconteça.

— Ele nos ajudou — constatei.

— Mas isso não significa que foram boas intenções.

Ela tinha razão. Será que os irmãos sulmanitas sempre teriam essa mania irritante de estarem sempre certos? Será que não cansavam disso?

Mordi o lábio inferior, enroscando a barra da blusa no meu dedo.

— Vamos fazer o seguinte. Ouviremos o que ele tem a dizer e teremos cautela caso ele peça alguma coisa. Depois disso podemos juntar as coisas e sair daqui o mais rápido possível.

— Não é melhor parte do grupo dividir-se e juntar as coisas?

Neguei.

— Da última vez, Zylia quase morreu e nem foi metade do grupo. Vamos nos manter juntos até sairmos daqui.

Coloquei a mão na maçaneta. Se Alyssa estivesse certa não teríamos um prejuízo tão grande. E se estivesse errada, também não.

— Gaëlle — chamou. — Nós vamos para os Desertos de Súlion?

Pude ver medo em seus olhos. Não sabia de nada que Alyssa tinha passado. Não sabia também se os Konathus inventaram que era importante fazer com que a princesa de Sulman passasse pelo mesmo que Renoward e Aaden.

Entretanto, Alyssa estava com medo. O reflexo em seus olhos indicava seu pavor. As mãos cutucando as cutículas e a mordida sutil na bochecha repetidas vezes, indicava sua ansiedade.

Fosse o que fosse que tinha acontecido naquela casa, não era um assunto agradável.

— Vamos conversar com os outros. Duas cabeças pensam melhor do que uma.

Ela assentiu, ainda um pouco nervosa.

Quando abri a porta, tudo continuava nos devidos lugares. Levent conversava baixinho com Aaden.

E Ayaz não tirou os olhos de Zylia. Nenhuma vez.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora