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Recuperei a espada de Vanella em um beco de parede estriada. Era feita de concreto e a calçada estava quebrada e chamuscada pelo fogo que consumiu os prédios ao redor.

Haviam folhas de jornais e sacolas espalhadas. Avistei um vestido azul de renda, amassado e sujo no canto e tijolos caídos, virando apenas pó de concreto.

Eu havia colocado Vanella debaixo de um dos blocos da calçada quebrada. Estava descolada e foi fácil e simples de retirá-la. Assim que toquei na arma, a espada reluziu, iluminando o beco.

Sorri. Sentia falta de Vanella também, apesar de nunca ter realmente usando-a para alguma coisa.

Me juntei aos outros numa corrida rápida, que já colocavam os primeiros passos sobre os tijolos amarelos da Estrada de Jônix. Relativamente apagados e sujos de poeira e terra, uma sensação de nostalgia atingiu-me quando me encontrei naquele local novamente.

Eu voltei. Naquele dia, tinha mesmo medo de não voltar mais. Não pude deixar de sorrir.

E então caminhamos todos em direção à casa de Zahara.

* * *

A Estrada de Jônix me devia uma coisa. No ano passado, quando estava naquele mesmo lugar, lembrei-me do Colecionador de Ossos e do que ele dissera. Havia algo para nós na Estrada. Naquele época, tentei adivinhar o que era, mas não me dei conta de que era Zahara a quem ele se referia.

Pelo visto, se conheciam.

Percebi que era ela quando nos aproximamos da casa da Dyriug, onde a mulher brincava com os gêmeos, que riam alto. Ela segurava um pedaço de lã recém-tecida e corria dos meninos, com o cabelo branco voando.

Zahara usava uma armadura. Era bela. Havia gomos estreitos por toda a manga e pontiagudos, para que lhe facilitasse o movimento. O metal refletia a luz do sol incandescente. Em sua testa, havia uma tiara de cor branca azulada, com um pingente da cor âmbar.

Os pequenos usavam armaduras improvisadas.

Quando nos viu, a Dyriug endireitou a coluna e abriu um sorriso.

Ela deu um abraço em Aaden, com dois tapinhas nas costas dele.

— Bom te ver, amigo.

Portos riu.

— Foi para a sua tão amada terra?

— Quem me dera se fosse amada. — Então deu de ombros, afastando-se do soldado. — Na verdade, não fui longe. Precisei resolver algumas coisas. Não se preocupe, nada que colocasse os gêmeos em perigo.

— Sei disso, amiga. Sei disso.

Então os gêmeos me viram. Ercan abriu um sorriso de orelha a orelha e os olhinhos cinzentos de Barrie brilharam.

Os dois correram até mim, envolvendo-me com os braços que pegavam debaixo do meu busto e quase me jogando para trás.

— Gaëlle!

— Sentimos saudade!

— Ficamos preocupados. Na verdade, Barrie até chorou!

— Confesso que chorei mesmo, mas é porque não queria que você fosse embora.

— Ninguém queria que Gaëlle fosse embora.

— Verdade, Gaëlle! Ninguém queria.

Eu os abracei, fechando os olhos por um instante.

Que saudade que saudade que saudade.

— Também senti falta de vocês.

Barrie olhou para mim.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora