32

73 19 24
                                    

Eu estava sentada em um metal frio. Um saco de batata cobria minha cabeça, mas eu conseguia enxergar por debaixo dele. Minhas mãos estavam presas na mesa, por correntes. A mesa era gelada, feita de metal. Tinha uma luz em cima de mim e o ambiente fedia a álcool 70 e passas.

Odeio passas.

Eu sabia que Harvey estava sentado na minha frente. Conseguia ouvir sua respiração subir e descer. Também conseguia ver a ponta de seu sapato lustroso que estava esticado por debaixo da mesa.

Eu não mexi a cabeça. Fingi dormir.

Podia até não ouvir mais as conversar de Aaden, mas a de Harvey eu ouviria. Aquele traste atrevido, insolente. Ele não sabia com quem estava mexendo.

Eu realmente pensei que ele queria ajudar na estação do oeste de Uxtan, entretanto, aparentemente, ele sabia que eu correria para a armadilha dele, o que quer que fosse isso.

Mantive a respiração uniforme, os ombros relaxados. Talvez ele comentaria alguma coisa. Qualquer coisa.

Mas Harvey manteve-se em silêncio. De repente, percebi que minhas adagas haviam sido tiradas de mim de novo. Nem me proteger eu não podia mais, pelo visto.

Minutos se passaram. Oito, para ser mais específica. Depois, doze. Depois, vinte e cinco.

Quando percebi que ele não diria nada levantei a cabeça e me debati, fingindo estar fraca. Tentei também fazer algumas lágrimas descerem pelo meu rosto para passar-me por donzela em perigo.

Não que eu não estivesse em perigo. Adoraria que alguém aparecesse ali e me tirasse daquele covil maluco. Além de estar preocupada.

E se Aaden estivesse morto? Se isso fosse uma verdade, Harvey não veria a luz do dia novamente.

Entretanto, como ninguém apareceu para me tirar dali e eu não podia escapar, continuei a atuar.

O saco foi retirado da minha cabeça. Fiquei levemente irritada pelo cabelo bagunçado. Podia ao menos ter a decência de tirar os fios dos meus olhos.

Observei Harvey, fazendo mais lágrimas escorrerem. Solucei, curvando o corpo, deixando com que ele ouvisse meu choro.

Tentei puxar as mãos. Inútil.

— Por que está chorando, princesa?

Apenas o observei, mesclando meu falso desespero com sagacidade.

— Gaëlle...

— Onde meus amigos estão? Eles estão bem? O que você fez com eles?

— Eles estão bem. Posso te garantir isso.

Uma vez, enquanto treinava com Renoward, ele me passou uma lição. Sutil. Na época, não dei tanta bola. Mas agora eu entendia o que ele queria dizer.

Você precisa manter a calma em momentos de perigo, dizia ele. O medo bloqueia seu pensamento. Treine sua mente para raciocinar, não para lamentar.

Era o que eu estava tentando fazer. Só de imaginar os gêmeos nas mãos de quem poderia machucá-los...

— Eu tenho algumas perguntas para você.

Fiquei em silêncio.

— Você precisa responder. Pode demorar o quanto quiser, mas vai responder.

— O que acontece se eu não responder?

— Então não vamos sair daqui.

Ou melhor, eu não sairia dali. Ele podia. Não estava preso.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora