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Bom dia, ruivinha.

Era a voz de Aaden. Estava um pouco distante, mas ele falava e continuava a falar como se eu estivesse acordada. Havia uma mão quente sobre a minha.

— Está um dia muito lindo lá fora. Ótimo para dar uma caminhada, já que o sol impede a todos de congelarmos vivos.

Houve silêncio.

— Eu sei que você está aí — sua voz ficou subitamente mais baixa. — Sei que você não morreu. E, mesmo que das últimas vezes que você desmaiou, tenha dormido por dias, isso não é normal. Não pode dormir como se não houvesse amanhã.

Eu quis abrir os olhos. Quis mesmo, mas estavam pesados demais, então como resposta, girei minha mão e apertei a dele. Bem devagar. Sabia que era a mão de Aaden porque ela costumava ser um pouco mais áspera do que a de Renoward.

Renoward.

Ao pensar no seu nome, uma dor estranha me atingiu no peito. Como se quisesse rasgá-lo para me fazer chorar. Não entendi de onde a dor vinha, mas meu coração batia lento e melancólico.

— Que bom que está consciente. — Aaden parecia sorrir. — Por um segundo, pensei mesmo que você morreria.

Tentei abrir os olhos mais uma vez, mas eles pareciam grudados. Uma sensação estranha tampou minha garganta. Minhas mãos formigaram.

O que estava acontecendo...

Comecei a me mexer, tentando tirar o que quer que fosse do meu rosto, mas Aaden apertou minha mão, encapsulando-a.

— Está tudo bem — disse ele.

Não, não está, queria dizer.

Então, finalmente, eu o abri. Apenas uma fresta, tão pequena que eu quase não conseguia ver. Mas lá estava Aaden. Ele viu, porque abriu um sorriso pequeno. Entre suas sobrancelhas, havia uma linha de expressão e pensei ter visto uma mancha roxa debaixo do seu olho.

— Bem-vinda de volta, pequena.

— Eu...

Eu não conseguia falar. A voz saiu como um sussurro, como uma linha pequena, um fio.

Como o fio da esperança em tempos difíceis.

— Não precisa dizer nada. Você desmaiou de um jeito feio. Imaginei que demoraria para conseguir falar.

Eu queria saber do tempo. Há quanto tempo estava ali? Onde estava Tinny? Por que minha barriga tinha uma dor profunda, como se alguém a apertasse e torcesse meu estômago?

Não sei quanto tempo passou. Aaden permaneceu ali, em silêncio, enquanto eu, gradativamente, recuperava meus sentidos.

Senti cheiro de chocolate, menta e chá. Chá de framboesas, quem sabe. Tinha um cheiro doce e meloso.

Senti a textura do lençol, que era macio, mas quente.

Então consegui ouvir mais. Alguém estava na cozinha, talvez no andar de baixo, de onde vinha a maior parte do cheiro. Ouvi os copos de vidro batendo um com o outro enquanto alguém mexia neles. Havia também um suave som de algo fritando e gavetas de talher sendo reviradas.

Abri os olhos, finalmente. O quarto tinha uma tonalidade de verde e branco, suave. Havia um painel de madeira e debaixo, um abajur, com alguns livros jogados. A cama não era muito espaçosa, mas era o bastante para que eu pudesse me espreguiçar. Havia ripas de madeira de carvalho, cobertas com uma grossa camada de verniz.

Ao meu lado, havia uma mesinha de três pernas com o tampo branco e, em cima, uma bandeja de chá, que ainda fumaceava e bolinhos com coberturas fofas.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora