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Como que... faz isso? — perguntei.

— O quê?

Virei a cabeça, sem me mover. Não queria que ele parasse.

— Falar com o Imperador. Existe uma forma certa de fazer isso?

Ele franziu o cenho.

— Seu irmão nunca ensinou você?

— Não. Acho que eu nunca deixei, na verdade. Eu nem sempre levei o que ele falava a sério. Tanto que, quando Hale percebeu, começou a me aconselhar sem falar sobre o Imperador. Acho que fiquei... com raiva dele, sabe? Por causa de tudo.

Renoward colocou a mão no meu ombro, massageando-o. Senti os braços relaxarem.

— Eu também tive isso — disse. — Me revoltei depois da prisão da minha irmã e da morte de Laney. Achei que tudo era culpa dele, que o Imperador fazia isso porque me odiava.

Ele fez uma pausa.

— O Imperador nos ouve não apenas antes de falarmos com ele, Gaëlle, mas antes mesmo de existirmos. Ele sabe que seu coração está angustiado e sua mente está confusa. Mas ele está esperando você falar com ele, porque a vontade de ser ajudada tem que partir de você, não dele.

Uma coisa era fato. Se eu tivesse dado atenção ao meu irmão anteriormente, talvez as coisas já estariam mais fáceis.

Então, Renoward se levantou. Ele esticou a mão, oferecendo-me.

Eu a peguei e o soldado me puxou para cima.

— Vem aqui.

Sem soltar minha mão, Renoward me puxou até a parte de dentro do quarto. Então, aproximando-se da cama com dossel carmim e colchas de bordas douradas, ele se ajoelhou, sentando em cima dos pés.

Ele me incentivou fazer o mesmo.

— Não existe uma forma correta de falar com ele, mas a maioria das pessoas gostam de se ajoelhar, como um sinal de respeito — disse.

— E as palavras?

— Ele é seu pai. Fale como se fala com um pai.

— Eu tenho raiva do meu pai.

— Então pode falar como se fosse um amigo. Ou com reverência. A forma que preferir.

Eu estava nervosa. Tentei falar com o Imperador em Ayllier algumas fezes, mas eu tinha medo de que não estivesse correto. Estive até mesmo naquela posição, mas era sempre bom perguntar se existia uma forma certa de fazer isso. A pensar que ele era rei de todos os reis, talvez a reverência deveria ser maior ainda.

Renoward segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.

— Yüksek, é compreensível, Carmim. Ele vai entender se um dia você apenas se ajoelhar, elevar seus pensamentos aos céus e permanecer em silêncio. Ele ouve a voz do nosso coração, clamando o Nome dele, mesmo que a boca permaneça quieta. Também entenderá quando você estiver com raiva e precisar descarregar. E entenderá quando a dor é tão grande que tudo o que você consegue fazer é chorar.

O príncipe de Sulman manteve os olhos em mim.

— Ele compreende a nossa dor. E a nossa falta de senso ou nossos erros. Isso, claro, não muda o fato de que devemos tentar ser melhores todos os dias.

— Há uma forma certa de começar?

O soldado abriu um sorriso.

— Eu gosto de começar assim.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora