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Tudo certo?

Essa foi a primeira pergunta que Zayin fez para mim, do lado de fora da sala onde jantamos, ainda em uma parte do convés inferior. Na nossa frente, havia apenas uma escada, levando para mais andares. Os dormitórios, ficavam no andar de cima, pouco antes do convés superior.

Eu anuí, sentindo o coração bater desregular sob o som da dor.

— Não sei nem o que pensar. Graças ao Imperador que Zylia não me matou sufocada.

— Ela não faria isso, sabe. Zylia apenas mata quando a ameaça não tem controle.

— Isso não me conforta muito.

Um meio sorriso de Zayin revelou suas covinhas. Eu sabia que ele não estava sem máscara por qualquer motivo. O príncipe de Sulman parecia fazer questão que eu o visse. Quis que eu conseguisse ler seus lábios.

Apesar disso, eu ainda tinha a impressão de que o soldado não se sentia tão confortável sem máscara na frente das outras pessoas.

E, droga, por que um sulmanita tinha que ser tão bonito assim?

— O que foi?

— O quê?

— Está olhando fixamente para mim — disse. Havia um sorriso de deboche em seu rosto. — Por acaso me acha bonito?

Dei de ombros, desviando o olhar.

— Definitivamente, não.

— Não, huh?

— Não.

— Então por que queria me ver?

Droga.

— Curiosidade? É. Curiosidade!

Como se aquilo, de fato, me fizesse acreditar em minhas palavras.

— É mesmo?

— Isso mesmo.

— Então olhe para mim e diga o que pensa.

Não olhei. Mas eu sentia o sorriso de Zayin atrás de mim, largo e caloroso.

Ele sabia que minhas palavras não eram verdadeiras. Mas o que aconteceria se eu dissesse a verdade? Será que ele caçoaria de mim?

— Eu não posso — falei. — É que... já está na hora de dormir. E acho que estou morrendo de sono.

Zayin riu e sua risada ecoou com felicidade por meu coração. Evitei abrir um sorriso enquanto subia as escadas gradativamente.

Durante alguns segundos, o ranger da escada foi tudo o que eu ouvi. A madeira velha quase se afundava a cada passo de meus pés.

Até que os dedos de Zayin tocaram os meus. Sutis e macios, um toque tão singelo que não tinha como não ser dele. O príncipe atraiu minha atenção, fazendo com que meus olhos se erguessem e focassem no verde vibrante dos seus.

Com um sorriso suave, o soldado levou a outra mão até meu rosto, usando a parte de trás dos dedos para acariciar minha bochecha. Havia... contemplação em seus olhos.

— Você é linda — sussurrou ele. — E não precisa ter medo de dizer o que pensa sobre mim, meu amor.

Não tive coragem de me afastar. Eu não queria mesmo.

Mas meu coração bateu de um jeito singelo e totalmente diferente ao ouvir suas palavras.

— Como... como sabe que eu tenho medo?

Em seu sorriso, havia compaixão. Em seus olhos, amor.

— Você não é muito boa em esconder. Não quanto está comigo.

Fechei os olhos.

— Eu me sinto uma tola.

As mãos de Zayin pousaram nas minhas costas, acolhedoras.

— Isso é comum. Eu também sinto. — Eu o encarei. — Bobo como se tivesse apenas dezessete anos. Não vou julgá-la, nem caçoar de você, muito menos rir de alguma coisa que você pensa. Estamos aqui para crescer juntos, meu amor.

Eu sorri, levando meus lábios até a bochecha com a cicatriz dele. Deixei que o toque fosse longo.

Cicatrizes contam histórias. Histórias salvam vidas.

Apertei os dedos do príncipe, ignorando a palpitação em meu peito.

— Boa noite, Zayin de Sulman.

— Boa noite, Carmim.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora