Prólogo

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Os mosquitos estavam impertinentes naquela noite. Sob árvores de grevílias e grilos titubeando seu som imparável, Aaden Orponse Portos puxou o ar mais uma vez ao matar outro mosquito.

As lamparinas amarelas da estação do metrô do sul chamavam muitos insetos. E, por mais que fosse indiferente, depois de horas ali parado, começara a ficar irritante.

Ele pôs-se de lado, tentando ignorar o incessante bater de asas e encarou o amigo. Renoward estava impassível. Apesar do rosto coberto, ainda era perceptível as profundas olheiras debaixo dos olhos.

As mãos de Aaden estavam geladas.

— Será que pode ficar em seu posto? — perguntou o amigo, impaciente.

— Já estou no meu posto.

— Não, não está. — Então olhou-o. — Deve conseguir ver o outro lado da estação.

Renoward parecia ter algo mais a dizer. Entretanto, permaneceu calado, como tantas outras vezes. Aaden virou-se novamente, entediado pelos mosquitos pousando em seu rosto de novo.

Mais ou menos uma hora depois, ele agarrou de seu cinto um coldre e bebeu. Sabia que não deveria encher a barriga de álcool, mas o frio era de bater os queixos. O álcool ajudaria a mantê-lo quente.

Por mais que fosse treinado para resistir o frio, as sete horas seguidas no sereno da estação aberta foram suficientes para que ele quebrasse minimamente as regras.

Então, sabendo que não abusaria da sorte, comeu mais um sanduíche de pasta de alho. Quando Zylia fazia aquela receita para as noites em que os dois passariam fora, ele sentia-se mais feliz. Costumava gostar das receitas da tenente, mas nada se comparava àquela delícia. Ele poderia facilmente viver apenas de sanduíches de pasta de alho.

Eram duas da manhã, mas não faria mal ficar levemente empapuçado.

As horas passaram como ovelhas em uma montanha, ou tartarugas em uma corrida de coelhos. Tão vagarosas que, por algum tempo, Aaden sentiu estar um pouco enferrujado. Aguentava mais de doze horas parado, como apenas sete estavam lhe incomodando?

Mas ele sabia. Sabia o que o corroía, o que o deixava com náuseas, e com a preocupação a mil. Via os efeitos colaterais em seu amigo também.

Naquele dia, completava-se um mês.

E, mais uma vez, Gaëlle Provence não voltou.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora