Segundo estágio: Solidão.
Dois meses. Esse foi o tempo que passou.
Durante dois meses, fui tratada como um animal. Três vezes na semana, era levada ao laboratório, onde "amostras" do meu corpo eram retiradas. De início, não foi tão ruim. Um pedaço de unha, um fio de cabelo, uma gota de saliva ou, até mesmo, resquícios da minha urina.
Porém, conforme o tempo passava, as coisas se intensificaram. De uma gota de sangue foi para vários frascos, de poucos minutos parada para coletarem saliva, foi para horas de boca aberta para que enfiassem um longo cotonete goela abaixo para pegarem alguma mucosa, de alguns minutos para fazer xixi, foi para horas até o fim do exame ginecológico, onde retiravam mais amostras do meu útero infértil.
Não era totalmente infértil, na verdade. Havia, de certa forma, um por cento de chance de ele funcionar. Mas eu já tinha atingido minha segunda década de vida; não era agora que ele funcionaria.
Perfeito para um espectro.
As espectros, quando levadas para Ayllier, tinham seus úteros retirados. Como o meu já não funcionava desde cedo, sem nenhum indício de atividade e praticamente sem ovócitos, eles nem ao menos se deram o trabalho de retirar o meu.
Não brinquei quando disse à Renoward que não tinha TPM. Não tinha mesmo. Não sabia a sensação de menstruar.
Foram dois meses sem entrar em contato com ninguém, além de quem já trabalhava lá. Os vi apenas três vezes na semana, piorando a situação. Depois que os testes terminavam, eu era enviada de volta para minha sala: um cômodo pequeno, fechado por uma porta de chumbo, entre um andar e outro da mansão.
Não consigo contar nos dedos quantas vezes eu e Hale ficamos dentro dessas coisas. Havia apenas uma fresta pequena de janela, que na verdade, pertencia ao andar de cima. Era a única fonte de luz. Quer calor? Dê um jeito de acender a lareira com as próprias mãos. Frio? Cubra-se com sua roupa. Sede? Arrume água em algum balde.
Não vi Tinny durante os dois meses. Mas também não pedi para vê-la. A verdade é que, fiquei com receio de um pedido meu fizesse com que eles a machucassem de novo. Mantive-me calada, como prometido e, acreditava que meu pai, apesar ser de um embuste, cumpriria com a palavra dele.
Ao chegar na sala, naquele dia, meus braços foram novamente acorrentados às paredes e os tornozelos presos também. As longas tiras de correntes me deixavam livre para andar, caso quisesse, mas meu espaço tinha limite dentro daquela sala minúscula.
Sentia meu corpo mole, fraco. Minha respiração subia e descia em um movimento repetido e robusto. As mãos tremiam, geladas, e a camisola branca não era capaz de me esquentar o bastante para aquela área da prisão.
Não chorava fazia tempo. Desde a última conversa com meu pai, no dia em que cheguei, eu não derramei lágrima nenhuma. Talvez porque estivesse cansada, talvez porque não queria dar a ele esse gosto.
Dois meses.
Meus amigos. Sentia saudade deles. Sentia tanta falta que, de vez em quando, um aperto forte no meu coração me reprimia durante a noite, mantendo-me acordada pelas próximas horas.
Sentia falta de como podia dar risada de Aaden a qualquer momento, ou de admirar Zylia na cozinha. Ou de observar os gêmeos discutindo, ou, até mesmo, de irritar Renoward. Gostava de estressá-lo. Era engraçado quando ele me olhava com repreensão, pousando aqueles vibrantes olhos verdes sobre mim, e...
Um esmurro na porta me fez pular. Se fosse antes, quando ainda estava do lado de fora, eu não teria pensado duas vezes antes de atirar uma adaga na direção do som. Mas agora, eu apenas levantei a cabeça, desejando fortemente que fosse apenas um sonho, porque eu poderia dar um soco em quem quer que fosse.
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Arthora | A Ascensão dos Sete Reis
FantasyGaëlle nunca imaginou que sua vida poderia se tornar um pesadelo tão cruel novamente: prisão, tortura e o desprezo constante. Cada dia é uma luta, e suas preces se tornam súplicas desesperadas por um retorno ao lar, ansiando pela oportunidade de exp...