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No dia seguinte, eu fui levada para tomar um banho. A cada quinze dias, essa era uma exigência do laboratório.

Era sempre da mesma forma. Tirava a roupa na frente de uma espectro, então me trancava no banheiro, onde a água quente só corria por cinco minutos. Depois, eu apenas vestia mais uma longa camisola branca e era arrastada de volta à sala.

A camisola era quase um vestido de tecido grosso. Era longa, com sua amarração atrás por cordinhas. Era uma das poucas coisas que tinham pudor naquele lugar.

Naquele dia, porém, me levaram para o laboratório depois do banho.

Estremeci com o ar frio quando retiraram o capuz do meu rosto.

Na cadeira, meus braços e tornozelos estavam presos. Havia luz forte e muito próxima do meu rosto. O metal gelado da cadeira congelava minhas pernas.

Senti o nariz arder pelo cheiro forte de álcool e outros químicos.

Aquele não era dia de procedimento nenhum. Deveria acontecer três vezes por semana e, pelas minhas contagens, aquela já era a quarta vez.

Me debati, mordendo forte os lábios para não chorar. As vezes, essa era a minha maior vontade.

— Dia dois do mês de Pontunie, calendário arthoriano — disse alguém. Não sei quem. — Iniciado o teste das lentes.

Dois de Pontunie?

Isso significava que aquele era o terceiro mês. Talvez tenha pulado um ou dois dias na minha contagem.

Talvez meus amigos já estivessem muito longe. Provavelmente, bastante perto de encontrar do Jardim de Arthora, o que significava que, só faltava o meu galho. O galho que eu não fazia ideia de como conseguiria.

Um dos cientistas se aproximou, abrindo meus olhos em um movimento rápido e pousando o dedo dele. Senti algo gelado e gosmento grudar, retirando mais de 97% da minha visão do olho direito. Fizeram a mesma coisa do outro lado. Tudo o que eu conseguia diferenciar agora eram as cores e a intensidade da luz.

Contei os minutos. Passaram-se oito quando começou a arder. Pisquei, com lágrimas tentando empurrar para fora o que quer que fosse. De nada adiantou.

Então passaram-se mais dez minutos, quando a dor começou a ficar insuportável. Eu resisti. Não gritei. Mas era intenso. Sem perceber, já me debatia para tentar arrancar meu braço da cadeira e enfiar a mão para retirar aquela lente.

Quando a dor se intensificou, eu comecei a chorar. Fechei os olhos com firmeza, desejando que aquele momento acabasse. Balancei a cabeça, como se um mero gesto pudesse retirar aquela pedra.

Senti uma agulha entrar no meu braço, adicionando alguma injeção maluca.

Eu gritei de dor.

— Por favor — implorei. — Já chega, por favor.

Eu pisquei, sentindo as lágrimas purificadoras mancharem meu rosto em uma trilha suplicante, mas ninguém se mexeu.

Parecia que horas haviam se passado.

Quando mais eu pedia para que retirassem, mas a dor se intensificava e mais água salgada escorria do meu rosto.

Momentos mais tarde, o cientista retirou as lentes. Logo depois, assim que tentei abrir os olhos, eles vendaram com um pano úmido. Eu neguei, tentando retirar o pedaço de tecido, mas ele apenas segurou minha cabeça.

Não pude evitar as lágrimas.

— Verifique as pupilas dela — disse o primeiro cientista.

— Não deveríamos esperar mais tempo? No mínimo uma hora, esse é o procedimento correto.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora