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No instante seguinte, uma espada infincou-se no corpo de Aaden.

Eu gritei.

Não vi onde o atingiram, porque alguém me agarrou, puxando-me para trás. Vi Zylia ser arrastada. Ela relutou, mas a atingiram com uma substância, deixando-a inconsciente.

Foi tão de repente que ninguém teve tempo de reagir.

— Aaden! — Eu me debati. — Zylia!

Mas quem me segurava era forte demais. Não era Renoward. Sabia disso porque não me seguravam com o cuidado e firmeza do príncipe. O toque me machucava.

Acabei derrubando Vanella. Ninguém deu-se o trabalho de pegá-la.

— O seu amigo vai ficar bem — disse Harvey, aproximando-se.

Atrás dele, por apenas vislumbres, consegui ver que Aaden se retorcia, sujando as próprias mãos de sangue.

Harvey parou na minha frente, observando-me. Ele ficou em silêncio. Cerrei os dentes, encarando-o com desgosto enquanto algumas gotas de água salgada escorriam pelo meu rosto.

— Ele não vai morrer, se é que me entende.

Não respondi.

Se Harvey se atrevesse a colocar as mãos neles e o coração de qualquer um dos meus amigos parassem de bater, eu o mataria. A socos. Mesmo que demorasse uma eternidade.

— Por que veio para cá, princesa?

Fiquei em silêncio, ignorando a presença dele enquanto observava agarrarem Aaden e colocá-lo dentro de uma cabana.

Não enxerguei minha tenente por muito tempo; já haviam sumido com ela.

Agora, era apenas eu e aquele traste miserável.

— Por que veio para cá?

Ainda em silêncio, fechei os olhos.

Por favor, Yüksek. Por favor, por favor, mantenha-os bem. Eu não aguento perder mais ninguém.

— Não vou machucá-los, princesa.

— Não é o que você tem demonstrado.

Mostrei os dentes.

Harvey permaneceu com as mãos atrás das costas, posturado, como se ele não estivesse praticamente matando um grupo inteiro de pessoas naquele momento.

— Por que você veio, princesa?

Não respondi.

Se ele estava irritado, ignorou o sentimento. Continuou a me encarar com aquela cara de tacho.

Com os olhos, procurei mais dos meus, mesmo que soubesse que era impossível vê-los. Não estavam ali. Não estavam.

— Se não vai me responder, serei obrigado a levá-la para a minha corte. Há um protocolo à ser seguido.

— Então me leva — o desafiei.

Caso o fizesse mesmo, ele teria de se esforçar mais para me manter quieta. Eu reviraria aquela corte de cabeça para baixo se fosse necessário.

Harvey manteve-se parado, analisando-me, esperando por uma reação. Talvez esperando que eu implorasse, me ajoelhasse e dissesse o porquê estava ali.

Coitado. Ele não me conhecia.

Abri um sorriso irônico.

— Não vai se mexer, Harvey?

— Que assim seja, então.

Um pano cobriu meu nariz. O desespero me tomou conta. Me debati, tentando me livrar daquele cheiro azedo e forte que me invadiu. Talvez eu tenha me arrependido tarde demais.

Apaguei antes de vê-lo se afastar.


Próximo capítulo: 17/02/2024, às 16:30, horário de Brasília.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora