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Nós nos reunimos ali mesmo, no quarto onde Zylia ficou. Nossas coisas estavam todas em cima da cama, mas as retiramos rapidamente, enfileirando como em acampamentos. Então, alguns sentaram-se no colchão duro, outros, optaram pelo chão, ou as cadeiras de balanço.

O quarto era composto, em sua maioria, pela cor amarela. O dossel era amarelo, de madeira ornamentada e um tecido branco leitoso, com bordas de renda fina. As colchas eram bordadas com finas linhas amarelas e douradas. O chão, de madeira de acácia, tornava o ambiente ainda mais enjoativo.

As prateleiras, criados-mudos, e armários eram todos dessa cor amarradora de estômagos.

Eu agarrei uma lata de patê de atum assim que me sentei. Aaden geralmente carregava essas coisas, também com passas. Quando Portos me ofereceu o saquinho, empurrei a mão dele para longe.

Zylia sentou-se do outro lado da cama, abanando-se com as mãos. Parecia suar frio.

Zahara, com um pouco de pressa, misturou algumas ervas e frutas, como um chá gelado, e deu para Aaden tomar, afirmando auxiliar na dor. Logo depois, jogou-se em uma cadeira de balanço, apoiando as pernas nos braços estofados e espreguiçando-se quase como se fosse tirar uma soneca.

Alyssa repuxou uma das poucas cadeiras, sentando-se próxima ao irmão. Ela usava um vestido lilás, de mangás curtas acetinadas, um cinto de pedrarias fino e apenas uma presilha de cabelo, deixando boa parte do seu rosto à mostra. Pode ter sido coisa da minha cabeça, mas peguei Aaden observando-a por um tempo que eu consideraria longo.

Depois de toda a acomodação, houve silêncio. Um dos mais incômodos que já senti.

Um mosquito bateu-se constantemente contra a janela, obcecado pelo lado de fora. Mas, do outro lado do vidro, tudo parecia apenas floresta e mais floresta. Tinny levantou-se, livrando-nos daquele incessante bater de asas, que quebrou o tedioso silêncio.

Mais tarde, se eu tivesse oportunidade, me jogaria em uma banheira com água quente e me afundaria bastante nela. Só para ver se meus músculos doloridos relaxariam e minha cabeça daria uma trégua.

Talvez as coisas poderiam dar uma trégua. A cada segundo que passava, existia a sensação esmagadora de que precisávamos nos preocupar com mais e mais coisas. Cada vez mais estressados, cada vez mais preocupados. Cada vez menos dando atenção para as crianças, que incomodadas, cresceriam desviadas do caminho da Verdade.

Então, a culpa cairia sobre nós. Porque de certa forma, seria nossa culpa.

Comprimi os lábios ao pensar em Barrie e Ercan. Que grande ideia trazê-los, não? Mas lar algum os aceitava e eu não confiaria em ninguém para cuidar deles quando não sob minha vigilância. Deixá-los em Álix, por melhor que pareça, era uma péssima ideia.

E, apesar de todos os desentendimentos, cada um naquele grupo era tão essencial quanto as peças de um jogo de xadrez. Apesar de não parecer, todos já tinham desenvolvido um papel importante e continuavam a desenvolver.

— Acho que esse silêncio não vai nos levar à conclusão nenhuma — falei.

Senti alguns olhares sobre mim.

Renoward, do outro lado do quarto, recostado na parede, próximo à porta, rodava o anel de prata em seu dedo anelar. Uma de suas mãos estavam no bolso. Os olhos verdes vibrantes, dançavam, alternando as pessoas em sua visão, até pousá-los em mim.

— Você quer falar sobre isso?

Não queria. Me parecia um assunto cansativo demais, o qual daríamos voltas e mais voltas, até retornar para a etapa um, novamente.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora