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Capítulo narrado à parte de

Gaëlle Provence

Renoward não achava que observar a porta do quarto dela o faria ser louco. Não quando era apenas para certificar-se de que estava bem. Com tudo aquilo acontecendo, decidiu ver se ela permaneceria em segurança enquanto descansava. Se ninguém invadiria o quarto e a tomaria pelas mãos sem a permissão dela.

O soldado não gostara nem um pouco daquele homem. Osman, não é? O mataria a tiros no fígado caso ele fizesse mais alguma coisa. Tinhas certas dúvidas sobre confiar em qualquer pessoa daquela corte. Algo lhe dizia para sempre ficar com um pé atrás.

E, enquanto estava ali, sentia o coração doer toda vez que se lembrava do momento em que ele entregava o broche para Gaëlle. "Significa que você é importante", dissera ele. Mas deveria ter dito que ela era importante para ele. O verdadeiro significado do broche não era um simples importância. A tradição em Sulman tinha uma simbologia mais profunda. O broche era um presente de declaração; um aviso, que dizia nas entrelinhas que alguém gostava da pessoa presenteada.

Ao passar-se bons minutos, decidiu que estava tudo bem. Poderia deixar a porta de Gaëlle em paz: nada aconteceria a ela. A garota sabia se defender. Poderia sobreviver.

Mesmo assim, decidiu deixar a ela um cuidado. Apenas um auxílio, só para se certificar que a menina não estaria totalmente indefesa.

Retirou uma das armas do cinto, escondidas no meio das roupas. Também pegou as únicas três adagas que achou de Gaëlle: alguém estava tentando dar um fim nelas. Juntou as armas em uma cesta, escondendo-as em meio às frutas que a garota gostava; algumas uvas, morangos e pedaços doces de amoras. Também jogou algumas cerejas.

Havia pegado as frutas na cozinha, depois de subordinar um dos cozinheiros que ele precisava urgentemente para alimentar as crianças. De certa forma, não era mentira. Gaëlle provavelmente dividiria o alimento com os gêmeos.

Sabia que poderia entregar as armas pessoalmente, mas queria evitá-la. Evitar a palpitação do coração, a sensação angustiante que o atingia no peito, a forma como desejava que ela retribuísse. Sabia que Gaëlle não seria capaz disso.

Ela o odiaria pro resto da vida quanto mais se passasse o tempo. Quanto mais se afastava, mas podia sentir a barreira entre eles. Gaëlle era uma pessoa totalmente afetiva. Se ele se afastasse e a mantivesse longe, sem motivos aparentes, o ódio cresceria sim, nela.

E, novamente, Renoward era o fantasma da história. Quase como foi sua vida toda.

Mas sendo sincero consigo mesmo, Renoward prefiria passar seus próximos longos anos longe dela, com a tempestade entre eles, do que viver em um mundo onde ela se foi. Preferia mesmo tornar-se um fantasma para Gaëlle; invisível, onde ela jamais veria ele.

Sabia que Ayaz havia feito o mesmo. E via o sofrimento do rei. Mas o compreendia, porque agora caminhava na mesma direção; ao abismo profundo do amor.

Quantas coisas não faria por amor? O que ele não fazia? Renoward sabia que era capaz de cometer loucuras, mas quando se tratava disso... quando tratava-se de Gaëlle, nada o impediria de protegê-la.

Não apenas porque o Imperador havia mandado.

Porque ele a amava. E nada tiraria isso dele.

Quando terminou, retirou um papel bordado do bolso. Decidiu deixar um bilhete, para que ela não se assustasse. Para a própria segurança, decidiu usar uma assinatura que diferenciasse de seu nome usual, mas deixou claro de que o bilhete era dele.

Ela reconheceria a caligrafia.

Renoward deixou a cesta na frente da porta e passou o bilhete por debaixo dela. Mesmo que fossem os gêmeos a encontrar, eles entregariam o bilhete à garota ruiva.

Então afastou-se, confiando no Imperador que daria tudo certo.

Renoward fizera a parte dele. E esperava mesmo que não estivessem nos planos de Yüksek deixar Gaëlle morrer. Caso contrário, não havia nada a ser feito.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora