Levent pareceu surgir do nada quando todos olhamos para a mata da praia. Por entre as árvores, ainda de cartola e bengala, aquele homem nos olhava com um sorriso convencido.
Não estava com medo, nem triste. Na verdade, nem mesmo parecia precisar da bengala.
Depois do caos no palácio de Parvin, imaginei que ele estivesse morto. Entretanto, Levent ainda estava ali, com um sorriso maroto, as calças listradas de verde e um casaco de cor vinho.
— O que você faz aqui?
Foi Alyssa que deu início a discussão. Levent parecia levemente transtornado ao perceber que a garota ainda não confiava nele.
E com razão. Vai saber quem era esse maluco.
Mas o homem deu de ombros. Não se moveu.
Pelo canto do olho, percebi Zayin levar a mão, de forma disfarçada, até a arma. Aaden fazia o mesmo.
— Estava dando uma volta.
— Não seguiu a gente, seguiu?
Ele torceu a boca em desdém.
— Claro que não. É que... meus amigos viram vocês e me alertaram.
Franzi o cenho.
— Que amigos?
Então, diversas cabecinhas apareceram, uma por uma, no meio da mata. Aos poucos, revelaram-se centenas de pequenos soldados. Anões. Todos eles de elmos e lanças ou espadas.
— Ercan, olha!
— Barrie, fale baixo — reclamou o gêmeo. — Se eles ficarem bravos, vão arrancar nossa língua.
— Aí, não arrancamos a língua de ninguém — reclamou um deles. Era demasiadamente barbudo, com uma barriga grande. Tinha olhos castanhos e a coluna inclinada para trás. — Cê tem que tomar cuidado para não ficar acreditando em lendas, garotinho.
Ercan revirou os olhos, cruzando os braços.
— Não sou um garotinho.
Não nos cercaram, deixando uma grande passagem. Ainda podíamos fugir.
Levent deu dois passos à frente, limpando uma poeira inexistente da roupa.
— Adoro anões. São ótimos companheiros e o humor duvidoso torna tudo mais divertido. — Com a bengala, aquele homem apontou seus amigos. — Eles amam entrar numa boa briga de bar. Não arrancam línguas, mas são ótimos lutadores. — Então, abaixou o tom de voz, sussurrando de olhos arregalados. — Eu tomaria muito cuidado.
Zayin esticou ainda mais as costas.
— O que você quer?
— Eu realmente esperava essa recepção calorosa, apesar de que tenho meus meios de acreditar que seria diferente.
— Poderia se tivesse sido diferente no palácio — constatei.
— Falando nisso, adorei seu xeque mate em Harvey. Aquela sua espada é bem maneira.
Senti a garganta fechar.
— Você estava lá...
— Só vi o que você fez pelas câmeras, depois de acordar de uma bela pancada na cabeça que meu irmão me deu. Aliás, muito obrigado por fazer o que eu não queria fazer.
Era difícil identificar se ele estava sendo irônico ou verdadeiro. Apesar disso, Levent não pareceu se importar nem um pouco com todos os julgamentos mentais óbvios.
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Arthora | A Ascensão dos Sete Reis
FantasyGaëlle nunca imaginou que sua vida poderia se tornar um pesadelo tão cruel novamente: prisão, tortura e o desprezo constante. Cada dia é uma luta, e suas preces se tornam súplicas desesperadas por um retorno ao lar, ansiando pela oportunidade de exp...