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Meus sentimentos deram um soco no meu estômago quando vi.

O movimento estranho na estação não foi em vão.

Havia espectros. Por toda parte. Graças ao Imperador, Harvey não era um deles. Reconheci-os quando viraram-se, levando as mãos à escuta para comunicar com Ayllier. Cobriam a boca e o nariz com um pano preto e usavam capuz. Mesmo assim, o frio disfarçava os trajes.

Espectros foram treinados para serem velozes como a luz. Para que ninguém os vejam até que eles matem. E, naquela estação tinha, ao menos, doze.

Doze espectros.

Doze pares de olhos sobre mim.

Apertei forte a madeira do beiral da janela do trem. De repente, uma sensação vacilante: eles poderiam me pegar agora mesmo. Mas eu sabia que esperariam. Os portões de Ayllier permaneceriam fechados durante dois dias. Até lá, não compensava tentarem me capturar.

Eu sabia disso. Mas sabia que, se haviam doze ali, haveriam doze em outros lugares também. Ou mais. E eu não dava conta de lidar com eles, muito menos sozinha.

Senti vontade de chorar. Ainda não tinha acabado e eu estava tão cansada e tão exausta.

Mas então, o trem começou a movimentar-se. Devagar, ouvimos a locomotiva soltar os freios e os trilhos colidirem.

Encarei cada um deles. Se fossem me pegar, se um dia ousassem ir atrás de mim – o que fariam -, queria que meu pai soubesse que eu resistiria a ele a cada segundo existente na minha vida. Agarrei o galho com força, como se fosse uma espada, e levei-o ao alto da minha cabeça. Depois, abaixei, apontando para um coração invisível.

O coração deles.

O trem tomou velocidade.

O último par de olhos que eu vi apertou a arma na cintura.

A estação explodiu.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora