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Capítulo narrado à parte de

Gaëlle Provence

Quando Renoward segurou Gaëlle nos braços, sentiu como se seu corpo estivesse sem vida. As mãos tremeram ao tirar o cobertor. O rosto, belo rosto de Gaëlle, estava sujo do sangue que ela vomitou. Rastros de linhas vermelhas escorriam, manchavam o pescoço da garota e as mãos do príncipe.

— Não!

Sentiu o coração dela parar de bater. Foi como se o dele fosse arrancado também e um grito foi ouvido por todo o Continente.

Renoward preferia que tivessem enfiado uma faca no pescoço dele.

Queria evitar, mas as lágrimas vieram, também sujas do sangue em seu rosto. Pingaram no corpo dela, manchando a camisola beje.

— Pare com isso — implorou.

— Não sei se quero.

Foi o que o Konathus respondeu.

— Eu fiz tudo o que você mandou — ordenou, mesmo sabendo que sua ordem de nada valia. — Agora, pare de machucá-la!

Renoward sentia como se pudesse estrangulá-lo. Mesmo que morresse logo em seguida, precisaria ao menos tentar espremer a cabeça do Konathus com as próprias mãos.

A criatura se aproximou, abaixando bem na altura dos olhos de esmeralda de Renoward. O Konathus segurou a cabeça do príncipe com força, puxando-a para trás pelos cabelos.

O soldado queria revidar. Queria mesmo. Se soubesse que a vida de todos que amava não estavam sendo ameaçadas pelo Konathus, ele esfacelaria aquela criatura no soco.

— Isso é o que acontece quando você ama — disse Asriel.

O Konathus deu dois tapinhas na parte de cima da cabeça de Renoward.

— A sua sorte, príncipe, é que ela não está morta. Foi apenas para impedir que a garota necrosasse de dentro para fora. É isso que minhas flechas fazem, afinal. O coração dela está batendo fraco o bastante para que você não sinta.

Então, com um dos dedos, apontou para o soldado.

— Se você inventar de amá-la, da próxima vez, vou fazer com que o coração dela pare, porque não vou ajudá-la. Considere isso um favor.

— Isso jamais será um favor.

— Acredite em mim quando digo que vou cortar sua garota de dentro para fora caso decida ter alguma coisa com ela. Eu não brinco em serviço, príncipe. Você se lembra da última vez?

Renoward ficou em silêncio. Não queria perder a oportunidade de manter Alyssa e Aaden vivos pelos próximos meses.

Fechou a mão em um punho, como se fosse socar o Konathus.

Asriel jogou os dispositivos da máscara de Renoward no colo do príncipe.

— Coloque logo esse treco. Não aguento mais olhar para essa cicatriz nojenta.

Quando a criatura saiu, o príncipe cerrou os dentes. Queria quebrar um pescoço.

Mesmo assim, manteve-se firme. Por ela.

Apoiou o corpo de Gaëlle no colchão. Com cuidado, cobriu-a com o cobertor de plumas e vestiu a máscara, ouvindo-a cobrir sua bochecha, nariz e boca. Ele precisava chamar alguém para auxiliar a garota a ficar limpa depois que acordasse. E para cuidar das outras feridas.

Ainda assim, apoiou sua testa na dela, afastando o cabelo ruivo carmim do rosto, sujo e pálido. Renoward acariciou a bochecha dela. Observou o quanto a garota emagreceu. Seu coração era arreganhado por seu estado deplorável.

Ele sabia o que fazer. E o coração do príncipe palpitava forte pela dor, só de pensar.

— Por favor, me perdoe — ele sussurrou. — Espero que um dia você seja capaz disso.

Então levantou-se rapidamente e saiu, sumindo atrás da porta.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora