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Renoward odiava isso, de todas as formas. Seu coração apertava-se todas as vezes que cortava o olhar de Gaëlle. Desejou que isso não fosse mais necessário, que ele pudesse agir normalmente com ela.

Mas precisou mentir. Precisou manter-se distante, para que não desabasse em arrependimento ao ver a dor nos olhos dela, quando ele proferiu tais palavras.

Na noite em que Asriel invadiu a casa, avisando que levaria Gaëlle de uma vez por todas, ele sabia que era mais uma forma de espremê-los contra o tempo. E sabia que, como dito à Zylia, as consequências disso cairia sobre a tenente. E Gaëlle morreria.

Entretanto, ele não poderia deixar. Ele já não sabia viver em um mundo onde Gaëlle não existia. A possibilidade de ver a garota ruiva morta o causava calafrios.

O príncipe de Sulman preferia assim. Preferia fazer com que Gaëlle o odiasse pelo resto de sua vida ao vê-la morrer. Talvez Renoward jamais tenha sentido tamanha compaixão por alguém, mas apenas a imagem da menina morta em seus braços o aterrorizava.

Renoward sabia do perigo que corria em acabar com a própria vida. Talvez passasse o resto dela sendo destruído, dia após dia. Entretanto, o príncipe queria passar por isso se significava que Gaëlle ficaria bem.

Talvez os Konathus o matassem. Ele não se importava. Ao menos ela estaria viva.

Ele podia contentar-se em observá-la de longe. Podia contentar-se em admirar seu sorriso ou o som da risada. Ou a forma graciosa que se movia quando lutava. Ou a forma inteligente como Gaëlle calculava as coisas. Talvez a garota nem percebesse.

Poderia contentar-se também em vê-la com outra pessoa. Se isso lhe causasse a felicidade, ele estava bem com a situação. Nada tiraria essa ideia da cabeça dele.

Pode ser que se acostumasse com a dor. Já havia sido rejeitado por parte da sua família. Que mal faria mais uma rejeição?

Renoward desejava um dia dizer isso à Gaëlle. Dizer que não a odiava. Dizer o quanto mentiu quando disse que a descartaria. Dizer que jamais seria capaz disso. Ela era preciosa demais para que ele pudesse fazer uma coisa tão ridícula.

Mas manteve-se calado e observou a garota, emburrada, do outro lado do teleférico, enquanto este, vagarosamente, ia em direção à Parvin.

Emburrada, não. Chateada. Talvez até irritada. Talvez decepcionada ou angustiada. Ele não saberia dizer.

O tempo dele com ela havia sido curto. Ora, não haviam vivido tanto assim. Mas há quanto tempo já não a admirava? Ele nem sabia dizer quando foi que isso tudo começou. O carinho que sentia por ela era indescritível e indestrutível, aparentemente.

E agora precisava fugir dela. Mantê-la longe, para que não morresse.

Não queria lhe causar dor. Não, de jeito nenhum. Mas era melhor que Gaëlle o odiasse a estar morta em seus braços.


Próximo capítulo: 13/02/2024, às 16:30, horário de Brasília.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora