21

79 23 19
                                    

A casa do Sr. Rews parecia uma loja de bugigangas.

As paredes eram recheadas de relógios de todos os diferentes tipos. Alguns deles, eram feitos de pirulitos coloridos. Outros, tinham uma casca azulada, com uma linha vermelha traçada e o horário era representado por carruagens de cores diferentes.

O tapete da sala era vermelho e felpudo, mas o sofá, verde suave. Os armários da cozinha eram listrados em um verde de tom mais escuro e o fogão, de lenha, tinha tijolos coloridos.

Lembrava-me de cada detalhe. Houve um tempo que trabalhei para Daniel Rews, na tentativa de conseguir ter comida até os fins de semana. Foram poucos meses antes de eu e Hale irmos para Arthora.

As soleiras tiram cores de marrom avermelhado. Os abajures tinham todos bolinhas laranjas e verdes. A única coisa normal era a cristaleira, de madeira robusta, feita de carvalho, mas carregava diversas taças diferentes.

Algumas delas, tinham uma orelha, como em uma xícara, em formato de asas de borboleta. Outras tinham a tonalidade mais escurecida, um pouco beje, com raios de sol enfileirando-se. Outras tinham tampas de relógio e laterais amassadas, como se o vidro tivesse sido levemente prensado quando quente.

Tudo esbanjava cores.

Os gêmeos tinham adorado aquele lugar, eu imagino.

Na manhã seguinte, eu fui visitar Tinny. Alyssa cuidou do machucado dela e lhe deu remédios caseiros. Tínhamos de nos limitar a coisas dali da casa. Acho que depois daquela noite com os Konathus, ninguém queria muito sair de casa.

— Como você está? — eu perguntei, assim que ela ergueu os olhos.

Tinny fez uma careta.

— Você acabou de roubar minha pergunta.

Eu ri.

— Cheguei primeiro.

Ela inspirou, jogando a cabeça para o lado. O cabelo dourado agora estava limpo e o rosto com mais cor. Havia um curativo em sua testa com uma mancha bem pequena de sangue, quase imperceptível.

Tinny não estava acostumada a esse tipo de vida. Não queria mantê-la ali; precisava pensar em uma forma de deixá-la segura e sem problemas.

— Eu estou bem. Já me sinto disposta a levantar e ir te ajudar lá embaixo, mas a sua amiga, Alyssa, não deixou.

— Acho que ela só está preocupada. A sua ferida estava bastante feia.

Tinny encolheu os ombros.

— Eu vou ficar bem.

Eu sorri.

— Eu sei que vai.

Estendi a mão e toquei a borda do lençol azul, enrolando-o no meu dedo fino. Casualmente, perguntei:

— E como vai os outros machucados?

Tinny deu de ombros, retorcendo um cacho loiro do cabelo.

— Estou completamente sem dor, então imagino que bem. Aliás, poderia me passar a receita desse remédio caseiro milagroso? Eu tenho certeza de que vou precisar, mais cedo ou mais tarde.

Se eu tivesse conhecimento sobre isso anteriormente não teria deixado com que meu irmão passasse por tanto perrengue, ou tivesse sentido tanta dor. Por breves momentos, ficava um pouco decepcionada por não ter conseguido.

— Ah, sobre isso... Os seus pais não estão te procurando? — questionei-a. — Não vi nenhum cartaz pela cidade e nenhuma folha de jornal falando sobre seu desaparecimento.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora