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Eu estiquei a mão, agarrando um pedaço de tecido para amarrar o cabelo. Estava desfiado e um pouco sujo, mas me ajudaria durante nossa caminhada pela manhã.

Dobrei os joelhos enquanto esperava Zahara terminar de trançar meu cabelo. Pedi para que ela o fizesse; meus fios ruivos estavam longos demais, quase batendo no fim das costas.

— Prontinho.

— Obrigada.

A Dyriug sorriu.

— Ainda vou ensiná-la a trançar os fios. É bem fácil depois que se pega prática.

Não me parecia fácil. Muito menos se você observasse o cabelo branco feito neve de Zahara, com tranças dando voltas e quase formando um arranjo. Era lindo, mas me parecia muito complicado.

— Agradeço.

Estávamos todos socados próximo ao fogo. Esquentava, mas as costas permaneciam geladas. Nós assamos alguns coelhos gordos que achamos pela floresta e guardamos o bezerro e os sete esquilos assados para a viagem. Por causa do frio, durariam muito mais.

Tampei a boca com o cotovelo quando a tosse veio, forte. A garganta começou a doer.

— Tudo bem?

Zayin acariciou minhas costas.

Eu assenti, tossindo novamente, precisando curvar o corpo.

— É alergia — expliquei. — Demorou para vir.

O príncipe de Sulman retirou a manta que cobria seus ombros e jogou por cima de mim.

— Você não deve passar frio por causa disso — reclamei, ameaçando a devolver a manta, mas ele negou, ajeitando-a sobre meus ombros.

— Mantenha-se aquecida. Vai ajudar.

— Mas e você?

Ele abriu um sorriso. Sempre sabia disso. Seus olhos brilhavam de forma mais intensa.

— Sou resistente ao frio.

— Então está bem, Máquina de Combate.

Zayin riu.

— Ai, que droga — Tinny manifestou-se, levantando de repente.

— Olha a boca — reclamou Aaden.

— O que foi? — disparei.

— Acho que desceu — disse ela. — O que vocês usam para não ficarem manchadas?

Paralisei. Ah, é. Não sabia o que dizer a ela. Nunca tive empecilhos, nem cólica, nem sangue escorrendo sem ser de algum corte.

Tinny me olhou, com o cenho franzido. Mas eu não tinha contado a ela. Não que eu me lembrava. Acho que esse assunto nunca precisou ser mencionado anteriormente.

Alyssa se levantou, deixando o cobertor amontoado de um lado e caminhou até ela.

— Vem aqui, eu ajudo você.

As duas sumiram entre uma parede e outra de pedra.

Ao menos isso indicava uma coisa. Não retiraram o útero de Tinny. Ela ainda poderia ter filhos quando quisesse.

Estralando os dedos, observei os gêmeos, deitados perto de mim, um em cima do outro. Adoravam dormir assim. Um gostava de peso e a outra de um lugar para apoiar a cabeça. Haviam treinado tanto durante o dia que quase capotaram assim que começou a escurecer. Dormiriam a noite toda.

Mal percebi que mordia os lábios ao pensar nisso.

Aaden estendeu um pedaço da carne do coelho. Eu peguei, sentindo o palito quente amenizar a dor do inverno nos meus dedos.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora