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Os prisioneiros não se moveram quando desviei de mais um guarda e acertei sua cabeça nas barras de metal da prisão. Nem quando cheguei ao fim do corredor, suada e tremendo.

Nem quando, aos prantos e trêmula, entrei em uma porta.

Era uma porta pequena, onde uma placa de cobre, do lado de fora, dizia "lavandeira". Neste lugar, as roupas que os prisioneiros chegavam usando eram incineradas. Meu traje tinha sido queimado ali, provavelmente.

Ao entrar e fechar a porta, agarrei um latão pesado de óleo e arrastei-o de forma desajeitada para trás dela. Sabia que aquilo não os seguraria, mas me fazia me sentir segura.

Em minha mão trêmula, o galho balançava junto com a adrenalina.

Por um segundo, apenas permiti-me respirar fundo.

Ouvi passos do lado de fora.

Sem pensar duas vezes, corri até o incinerador. Esperava mesmo que não era ligado há semanas. Aquela máquina me dava medo.

Uma vez, houve boatos de pessoas que foram queimadas ali. Se fechassem a portinhola lá em cima, seria impossível de escapar.

Não havia brasas quentes nem mesmo o ardor do fogo, mas senti-me sufocada. O cheiro, de sangue, poeira e ferro embrulhavam meu estômago. Ele era grande. Sua boca era redonda e a porta estava aberta. Tinha uma cor acinzentada e seu tubo de chaminé me fazia sentir enjoo.

Eu podia, podia mesmo ter corrido até a porta escancarada da prisão. Ao invés disso, estava presa em uma sala minúscula, onde podiam me matar queimada viva.

Mas esse, na verdade, era o melhor caminho.

Repreendendo-me, ao ouvi-los cada vez mais próximos da lavanderia, coloquei o galho na boca e subi na parte arrendondada do incinerador. Dentro, apenas restos carbonizados restavam, que espetaram meus pés.

Olhei pela chaminé, observando que a portinhola do lado de cima estava aberta.

Os carvões estavam quentes. Queimaram, de leve, meus pés, antes de eu encaixá-los de forma que eu me mantivesse no ar. Com dificuldade, agarrei as custuras metálicas da chaminé, que também estavam quentes, mas não a ponto de queimar-me.

Puxei-me para cima, sentindo os músculos clamarem pelo esforço. Ouvi alguém bater à porta.

Mais rápido, puxei-me para cima, cerrando os dentes no galho, como se isso fosse me fazer subir mais rápido. O gosto da liberdade é amargo e cheira a pele queimada.

Dois tiros titubearam meus ouvidos quando cheguei no topo. A portinhola balançou, ameaçando fechar pela força do vento, mas eu levei a mão mais rápido, segurando-a e puxando meu corpo para cima quando ouvi, claramente, a voz do meu pai.

— Peguem-na!

Entretanto, já era tarde demais.

De cima, eu tinha uma ampla visão do espaço todo. E, ao longe, avistei o portão aberto.

Norte.

Mais um minuto.

Eu tinha apenas dois.

Arthora | A Ascensão dos Sete ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora