Prólogo

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NORA

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NORA

O caixão de madeira nobre e ar aristocrata é o limite de onde meus olhos conseguem ir, me sinto errada só de estar sentada no banco da frente enquanto sua família ocupa assentos na penúltima fileira, mas essa era a vontade de Ari e ninguém tem coragem para descumprir. No entanto, nada me fará erguer minha bunda do acolchoado macio e me fazer ir checar seu rosto pálido. Ela era única que compreendia meu silêncio e ouvia minhas lamúrias sem lamentar. Não, ficarei com sua imagem viva e alegre para o resto dos meus dias. Ninguém vai tirar isso de mim.

Abaixo os olhos quando o padre começa a falar e tento focar em qualquer outra coisa, mas a voz já afetada pela idade alcança meus ouvidos com facilidade e gruda cada uma de suas palavras no meu cérebro, assim, como a velha canção do caranguejo que aprendemos ainda pequenas.

Droga.

— Ei, você está bem? — Talia questiona com um sussurro que só consigo distinguir devido nossa proximidade. Não respondo e ela me cutuca na costela com o cotovelo, mordo meu lábio inferior para abafar o grito de dor e a encaro irritada.

— Preste atenção no padre. — Murmuro pra ela, apertando meus lábios um no outro. A morena resmunga algo sobre precisar de um cigarro e meu olhos caem para sua boca pintada de roxo berinjela. Ela volta a olhar pra frente, ereta e me ignora pelo resto da pregação.

O velho de batina branca encerra seu sermão e todos começam a se retirar aos poucos, tomando cuidado ao deixarem uma rosa branca sobre o corpo de Ariel. Isadora, Talia e eu somos as últimas pessoas além da família Bragantino presentes na pequena capela.

— Foda-se. — Isadora fala ao passar pela Senhora e Sr. Bragantino e depositar um buquê de rosas vermelhas antes do caixão ser fechado. Eu não me surpreendo com sua atitude e tão pouco questiono a escolha das flores, eram as preferidas da nossa garota e Isa só estava lhe dando um último agrado.

— Vamos. — Ela diz quando volta a se encaixar entre mim e Talia, destacando que agora somos um trio, ao invés, de um quarteto. Algo dentro de mim se parte com essa constatação óbvia e me culpo mais uma vez por não ir ao show idiota junto delas naquela noite, se eu estivesse lá talvez pudesse ter impedido Ariel de dirigir bêbada, eu teria provavelmente escondido as chaves. Agora é tarde.

Todas nós deixamos a capela e acompanhamos o caixão até o local do enterro em silêncio e mesmo tentando não ser neurótica, procuro por José Luiz, o marido da minha mãe, meu padrasto e amigo até o encontrar sorrindo para Cecília Vitorino a poucos passos de distância. Meu corpo tensiona e minhas pisadas se tornam mais pesadas, precisas e desejosas por outro caminho. Talia circula sua mão pelo meu braço e me impede de cometer uma loucura no enterro da nossa amiga.

Certo, cuidarei dessa mulherzinha depois.

Quando chegamos ao local, um buraco enorme na terra faz a realidade desabar sobre as nossas cabeças. As lágrimas passam a cair na mesma velocidade que sinto os braços do meu padrasto me segurarem.

NOSSO SEGREDO - LIVRO 1. CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora